domingo, 19 de setembro de 2021

O energúmeno

 O energúmeno que não se reconhece como tal 

Energúmeno: indivíduo ignorante, boçal, imbecil. Para o atual presidente do Brasil – Jair Bolsonaro, é exatamente isto que o patrono da educação brasileira e um dos pensadores mais citados do mundo – Paulo Freire, é. O insulto foi proferido na última segunda-feira (16.12.2019), quando o presidente sem partido declarou que não pretende renovar o contrato do Ministério da Educação com a TV Escola, que para ele, possui uma programação totalmente de esquerda e ‘deseduca’ o público. 

Frase do dia 

“Bolsonaro é um homem sem nenhum pudor, sem nenhum caráter. Tudo o que ele tem na cabeça é contra as outras pessoas, ele só tira das ofensas os três filhos. É um homem nefasto.” 

(Ana Maria Araújo Freire, mulher do educador Paulo Freire, chamado por Bolsonaro de energúmeno) 

Paulo Reglus Neves Freire foi um educador e filósofo brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica. É também o Patrono da Educação Brasileira. Nasceu em 19 de setembro de 1921, Recife, Pernambuco e faleceu em 2 de maio de 1997, em São Paulo, São Paulo.

Paulo Freire energúmeno 

José Paulo Cavalcanti Filho  

   

Paulo Freire é, talvez, o brasileiro mais homenageado pelo mundo. Depois de Pelé. Tem 35 títulos de Doutor Honoris Causa em universidades estrangeiras. Sua Pedagogia do Oprimido é o terceiro livro mais citado nos trabalhos da área de humanas. Bem mais que Vigiar e Punir, de Foucault. Ou O Capital, de Marx. Não é pouca coisa. Mas ninguém é perfeito. Pode-se até dizer que não era tão preparado assim. Por exemplo, em concurso para a cátedra de Filosofia (na UFPE), ele foi derrotado indiscutivelmente por nossa confrade, na Academia Pernambucana de Letras, Maria do Carmo Tavares de Miranda. A Filósofa de Paris, como a definia Gilberto Freyre. Doutora pela Sorbonne, foi assistente do maior filósofo alemão do século passado, Martin Heidegger. Na Universidade de Friburgo (Alemanha). Para lembrar, uma de suas alunas era Hannah Arendt. Ou pode-se referir não ser tão original. Que teria só adaptado teses anteriores de Anísio Teixeira e outros. Mas “energúmeno”, com certeza, Paulo não era. 

É difícil entender por que o presidente da República tem rompantes assim. Como esse, definindo como “energúmeno” alguém que nunca lhe fez mal. De graça. Descumprindo a regra básica da cavalaria, que manda cessar a batalha quando o oponente não pode mais pelejar. Ofendendo um morto. Então, por que a grosseria mal-educada? Duas hipóteses. Uma, é que se trate de uma pessoa instável. Que diz o que não deve, nas horas mais impróprias. Não acredito nisso. Num conto de Poe (O Escaravelho Dourado), a velhinha desconfia da loucura de um personagem. Por haver “um certo método”, nas ações dele. E é possível entrever esse método, por trás das diatribes do nosso presidente. Como se ele calculasse, antes de falar. 

Única explicação possível, pois, é ser de propósito. Para ter vantagens eleitorais, ao ofender um ícone da esquerda. Alguém do PT. Lembro do estrategista militar e futurólogo americano Herman Khan. Autor de Quando a História Também é Futuro. Para ele, “alguns assuntos deveriam ser tratados só por loucos e entendidos”. Sigo nessa trilha. Como louco não sou (ou penso eu não sou, o que dá no mesmo), e muito menos entendido nas tramas da política (com certeza), melhor então ficar em silêncio. Outros expliquem. Mas, pensando no Brasil, e para não perder a oportunidade, faço um pedido natalino: Por que não te calas?, senhor presidente. 

Um comentário:

  1. Só " calar " é muito pouco ...

    Para o bem do BRASIL.
    Saia de cena.

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