sábado, 18 de setembro de 2021

Xibolete

 Este vocábulo é a transliteração de um vocábulo hebraico

que é traduzido por alguns por “espiga de grãos”

 e outros por “torrente de água”.

 

No país de Galaad viveu, outrora, um príncipe valente chamado Jefté, que muitas vitórias alcançou contra os inimigos de seu povo. Jefté era judeu e governava um povo judeu. 

Aconteceu que outra tribo, também de judeus − a de Efraim movida por negra inveja e ambição, resolveu apoderar-se dos rebanhos e das terras de Galaad. Informado de que os efraimitas haviam atravessado o Jordão e invadido os seus domínios, iniciando, desse modo, uma agressão covarde e iníqua, organizou Jefté uma aguerrida tropa de Galaad e marchou contra os invasores. Foram estes vencidos e tiveram que fugir. 

Para impedir a fuga dos inimigos, ordenou Jefté que uma de suas colunas, postada na margem oposta do Jordão, se apoderasse de todos os pontos em que esse rio pudesse oferecer fácil passagem. E, assim, os soldados de Jefté, por ordem do príncipe, vigiavam dia e noite todos os vaus do sinuoso rio. 

Quando um judeu desconhecido descia das terras de Galaad buscando a margem oposta, os esculcas de Jefté o prendiam. Seria aquele homem um agressor inimigo que abandonava Galaad ou um aliado fiel que retornava à sua aldeia? 

Os soldados o interrogavam com precaução: 

- Acaso és efraimita? 

O suspeito replicava logo com azedume: 

- Deixem-me passar. Sou da tribo de Jefté. Sou de Galaad! 

A desconfiança esparzia sobre a identidade do prisioneiro as cinzas da incerteza. Estaria o homem mentindo? Como apurar a verdade? 

O próprio Jefté, consultado pelos seus oficiais, não sabia como decidir. 

Um dia, achava-se o chefe vencedor em sua tenda de guerra quando um ancião de Galaad foi procurá-lo. Era um sábio. Estudara os dialetos das diversas tribos e conhecia os mil segredos do linguajar dos povos. 

- Príncipe! – declarou o sábio. – Existe em nosso idioma – o hebraico – uma palavra dotada de som extraordinário. Essa palavra pode revelar se uma pessoa qualquer pertence à nossa tribo ou se perfila entre os inimigos que desejam a ruína e a destruição de Galaad.

Jefté, sensato e inteligente, venerava os sábios. Perguntou-lhe, pois: 

- Que palavra é essa? 

- É a palavra “xibolete” – esclareceu o filólogo. Um homem de Efraim pronuncia esse vocábulo de um modo especial: “cibolete” (a primeira sílaba denuncia logo a diferença!) ao passo que os nossos amigos articulam claramente: “xi-bo-le-te”! 

Nesse mesmo dia determinou Jefté que todos os suspeitos fossem interrogados pelos vigilantes que guarneciam as passagens livres do rio. 

- Acaso és efraimita? 

Respondia, em geral, o interpelado com sobranceria impertinente: 

- Ora, deixem-me passar! Sou de Galaad! Pois não veem? 

Tal explicação não bastava. Os soldados de Jefté insistiam: 

- Dize, então: Xibolete! 

E tudo ali, no mesmo instante, se decidia. Se o interrogado falseava na pronúncia de “xibolete* (impossibilitado de articular bem a primeira silaba), era logo degolado. 

E foram, assim, − afirmam os historiadores − por causa dessa palavra sinistra, sacrificados quarenta e dois mil prisioneiros! 

Obs.: Este episódio é verdadeiro e está narrado na Bíblia no livro dos Juízes, capítulo 12. Segundo a Bíblia, o nome do povo onde o fato ocorreu é Gileade e não Galaad. 

(“Lendas do Povo de Deus”, de Malba Tahan) 

A forma xibolete é registrada no Aurélio XXI e no Grande Manual de Ortografia, de Celso Pedro Luft. Já Antenor Nascentes registra a forma xibolet. O termo também pode ser escrito como xibolé ou xibolê. Em Inglês e Francês é escrito shibboleth.

*Também há a grafia “chibolete” que é a transliteração de um termo hebraico que aparece de forma não traduzida no livro de Juízes no famoso teste “chibolete e sibolete” (Juízes 12:6). O significado de “chibolete” na Bíblia aparece tanto como “corrente de água” como “espiga de cereal”. 

Shibboleth também pode ser uma palavra passe da maçonaria. 

Há, ainda, as grafias Shibboleth, Schibbolet e Xibolete.

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