Cinquenta anos depois...
Em abril de 1964, estava Millôr Fernandes em Lisboa numa festa, quando o
cantor e humorista Juca Chaves deu-lhe a notícia que ele havia sido dispensado
de O Cruzeiro. Ele foi acusado de ter colocado na revista, sem que ninguém
visse, 12 páginas em 4 cores de uma matéria especial comprada seis meses antes,
A Verdadeira História do Paraíso. A
revista O Cruzeiro tinha sido tão odiosa e tão tosca, na sua agressão, que
reuniu toda a imprensa contra ela.
Depois disso, Millôr lançaria a uma revista
independente chamada Pif Paf, um êxito rotundo, menos para a censura, que
acabou com a publicação de apenas 8 números.
(O primeiro editorial de O Pif Paf)
Como princípio
I –
Estamos convencidos de que a pior da nossa Democracia, é que ela acaba sempre
na mão dos democratas.
II – Precisamos rever todos os princípios da
Justiça Brasileira. Nossa justiça ainda tão complicada, tão cheia de
burocracia, que dentro em breve ninguém mais terá coragem de ser malfeitor.
III – Pretendemos meter o nariz exatamente onde
não formos chamados. Humorismo não tem nada a ver e não deve absolutamente
confundido com a sórdida campanha do “Sorria Sempre”. Essa campanha é
anti-humorística por natureza, revela um conformismo primário, incompatível com
a alta dignidade do humorista. Quem sorri sempre ou é um idiota total ou tem a
dentadura mal ajustada.
IV – Nossa
intenção básica é fazer com que os homens de bem se arrependam.
V – Os comunistas
são contra o lucro. Nós somos contra os prejuízos.
VI – Jamais
esqueceremos o fundamental: da vida ninguém escapa.
VII – Procuramos mostrar que este país não pode
melhorar enquanto o governo gastar todo o seu dinheiro na propaganda da rosca e
a oposição colocar todos seu esforço na condenação do furo.
VIII – Esta revista será de esquerda
nos números pares e de direita nos números ímpares, As páginas em cor serão,
naturalmente, reacionárias, e as em preto e branco populistas e nacionalistas.
Todos os comerciantes e industriais que não anunciarem serão olhados com suspeitas,
pois “quem não anuncia, se esconde”.
IX – Devemos rever tudo, pois estamos seguros
de que mais vale um pássaro voando do que dois não mão, cão que ladra só não
morde enquanto ladra, e, se o hábito não faz o monge, contudo fa-lo-á parecer
de longe. Por isso a cavalo dado deve-se olhar os dentes com atenção redobrada.
X – Todo homem tem
o sagrado direito de torcer pelo Vasco na arquibancada do Flamengo.
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