Examina
bem a consciência, e diz-me qual é para os corações puros e nobres o motivo
imenso, irresistível das ambições de poder, de abastança, de renome? É um só –
a mulher: é esse o termo final de todos os nossos sonhos, de todas as nossas
esperanças, de todos os nossos desejos.
Para
o que encontrou na terra aquela que deve amar para sempre, aquela que é a
realidade do tipo ideal, que desde o berço trouxe estampada na alma a mira das
mais exaltadas paixões, é a auréola celestial que cinge a fronte da virgem,
ídolo das suas adorações.
Para
o que anda, por assim dizer, perdido nas solidões do mundo, porque ainda não
descobriu a estrela polar da sua existência, o astro que há de iluminar a noite
do coração, como o sol com os seus primeiros raios ilumina as trevas de um
templo – para este, a mulher é uma ideia vaga e confusa, mas brilhante, formosa
e querida. Não a conhece, não sabe onde esteja a imagem visível da filha de sua
imaginação, e, todavia, é para lhe por aos pés, glória, poderio, riqueza, que
ele cobiça tudo isso.
Tirai
do mundo a mulher e a ambição desaparecerá de todas as almas generosas.
Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo da atividade
interior; é a causa e o fim e o resumo de todos os humanos afetos.
(Alexandre Herculano)
Alexandre Herculano de Carvalho e
Araújo – 1810 – 1877.
Poeta (Tristezas do Desterro, 1838) e romancista (Eurico, o Presbítero, 1844), teve a paixão da reconstituição
histórica, elevando os estudos de História à sua consideração científica.
É um dos grandes escritores da
geração romântica, desenvolvendo os temas da incompatibilidade do homem com o
meio social e experienciando a dimensão ética do escritor face à incompreensão
do mundo.
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