quarta-feira, 2 de abril de 2014

A Mulher



Examina bem a consciência, e diz-me qual é para os corações puros e nobres o motivo imenso, irresistível das ambições de poder, de abastança, de renome? É um só – a mulher: é esse o termo final de todos os nossos sonhos, de todas as nossas esperanças, de todos os nossos desejos.

Para o que encontrou na terra aquela que deve amar para sempre, aquela que é a realidade do tipo ideal, que desde o berço trouxe estampada na alma a mira das mais exaltadas paixões, é a auréola celestial que cinge a fronte da virgem, ídolo das suas adorações.

Para o que anda, por assim dizer, perdido nas solidões do mundo, porque ainda não descobriu a estrela polar da sua existência, o astro que há de iluminar a noite do coração, como o sol com os seus primeiros raios ilumina as trevas de um templo – para este, a mulher é uma ideia vaga e confusa, mas brilhante, formosa e querida. Não a conhece, não sabe onde esteja a imagem visível da filha de sua imaginação, e, todavia, é para lhe por aos pés, glória, poderio, riqueza, que ele cobiça tudo isso.

Tirai do mundo a mulher e a ambição desaparecerá de todas as almas generosas. Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo da atividade interior; é a causa e o fim e o resumo de todos os humanos afetos.

(Alexandre Herculano)


Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo – 1810 – 1877.
  
Poeta (Tristezas do Desterro, 1838) e romancista (Eurico, o Presbítero, 1844), teve a paixão da reconstituição histórica, elevando os estudos de História à sua consideração científica.

É um dos grandes escritores da geração romântica, desenvolvendo os temas da incompatibilidade do homem com o meio social e experienciando a dimensão ética do escritor face à incompreensão do mundo.

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