Aquele velho Coronel da Guarda
Nacional de antigamente tinha muita coisa de Chicuta Campolargo e Tibério
Vacariano admiravelmente pintados por Érico Veríssimo na inspiração de tantos
tipos humanos espalhados pelo Rio Grande de outrora.
Sim, pelo passado de arbitrariedades
e violências no calor de “entreveros” das revoluções; como delegado das zonas
conflagradas pela polícia e contrabandistas, e onde campeava um abigeato
desenfreado; e como “beleguim façanhudo” que fazia valer a sua “otoridade” nos
bochinchos em carreiras, e, mais, na “limpeza” dos meretrícios infestados de
maus elementos, contumazes desordeiros, arruaceiros inveterados...
Na longa crônica do Coronel, havia,
também, o registro de um machismo safado de insaciável sátiro, inescrupuloso e
prepotente no abuso de fêmeas de diferentes naipes e categorias sociais.
Orgulhava-se de ser um garanhão
indócil que nunca “repugnava a beldroega”... Um pastor retouçando manadas de éguas
e potrancas. Enfim, o mais legítimo “colhudo” como chamam os garanhões na
campanha, e até de “cuiúdo”...
Agora, transitava tropegamente pelas
ruas. Tendo virado os 85 anos, estava com aparência de muito mais velho,
bastante surdo, com achaques respiratórios e urinários, e arrastando os pés.
Com o lombo arqueado ao peso
implacável dos anos, apoiava-se em uma bengala que volta e meia brandia
acompanhando uma enxurrada de impropérios que nunca lhe eram parcos, embora sem
motivação...
Tentava ainda falar grosso em
nostalgia de uma autoridade já perdida em pretérito distante...
Naquele dia, ao sair do consultório
médico em revisão clínica, meio afogueado pelo calor de um sol de janeiro,
buscou uma mesa do principal bar da praça que carregava seu nome e cuja placa
não cansava de ler e sentindo um justificado orgulho.
Passando o lenço pelo rosto suado,
vermelho, e algo ofegante pediu alguma coisa para beber.
Alvo de olhares curiosos que lhe davam
uma certa faceirice, o velho Coronel como que gozava a doce reminiscência de
sua antiga autoridade.
Já achando o garçom um tanto
displicente, deu uma batida com a bengala no chão, e alteou a voz meio
rouquenha de maneira que chamava mais atenção dos circunstantes.
− Ô sacripanta, vai ou não vai me
trazer a bebida que eu pedi?
Alguns segundos após as gargalhadas
explodiram e a “otoridade” esboçou um sorriso gajo, vaidoso, inconfundível...
Graças à providencial surdez, o velho
garanhão não se deu conta da humilhante, mas espirituosa “tirada” de um gauchão
ali presente:
− Mas bah, tchê!... Do “cuiúdo” véio
só ficou o relincho!...
*****
(Do livro “O sexo...
Como Humor na Medicina”,
do Dr. Caio Flávio
Prates da Silveira)
Triste e vergonhoso, mas na realidade a maioria dos homens que saiam com a mulheres, batiam no peito e contavam vantagens nos bares, hoje são pais, até avós condenando o que antes para eles era normal, atirando pedras, apontando o dedo julgando e condenando pessoas.
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