Stanislaw Ponte Preta
Ilustração de Pedro Ruan
Diz que era uma velhinha que
sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na
lambreta, com bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega − tudo
malandro velho − começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na
lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha
parou e então o fiscal perguntou assim para ela:
− Escuta aqui, vovozinha, a
senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora
leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos
dentes que lhe restavam e mais outros, que ela adquirira no odontólogo e
respondeu:
− É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal.
Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para
examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha
areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou
na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado
ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba,
dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com
o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que levava no
saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante
um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela
levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
− Olha, vovozinha, eu sou
fiscal da Alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra
burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
− Mas no saco só tem areia! − insistiu
a velhinha. E já ia tocar a lambreta quando o fiscal propôs:
− Eu prometo à senhora que
deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém,
mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando
por aqui todos os dias?
− O senhor promete que não “espaia”? − quis
saber a velhinha.
− Juro! − respondeu o fiscal.
− É a lambreta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário