Dúvida atroz
No final doa anos 60 e começo dos 70,
proliferaram pela América do Sul os festivais de música, que tinham a
fracassada intenção de unir a cultura dos “hermanos latinos”. As delegações
brasileiras que compareciam a esses eventos eram por demais ecléticas e
misturavam compositores de protesto com intérpretes românticos como Altemar
Dutra e Nelson Ned.
Pois aconteceu de, num festival em
Viña de Mar, balneário chileno, ser programada uma noite brasileira, que
contava com um apresentador que se dizia íntimo da música e dos músicos daqui.
O rapaz nem precisa olhar as fichas para anunciar os convidados. Falava de
improviso, dando informações e fazendo brincadeiras com os artistas que se
seguiam. Seu método era olhar para a beira do palco, ver quem era o próximo e
sair anunciando alegremente.
Tudo corria no maior relaxamento até
que ele olhou para a coxia e viu um anão de smoking.
Revirou nervosamente as fichas que tinha na mão, mas elas já estavam tão fora
de ordem que não podiam ajudar. Foi aí que, num gesto brilhante de dedução, o
apresentador resolveu a parada:
- E ahora con ustedes, otro gran artista brasileño…
Deu mais uma olhada para o anão e
disparou:
- Toquinho!
Era o Nelson Ned.
Pânico na ópera
O canto lírico atrai muitos amadores.
São apaixonados por ópera, que sonham um dia participar de uma montagem, nem
que seja fazendo uma pontinha.
Foi assim que um dia, o Teatro
Municipal do Rio, precisaram de alguém para cantar apenas uma frase e entregar
um pergaminho. Para a difícil missão foi chamado um desses amadores que viu
naquilo a sua grande chance.
Era só uma frase, mas ele não queria
fazer feio. Treinou exaustivamente, cuidou da voz e ficou tão cioso de sua
responsabilidade que foi se estressando até o dia da estreia. Quando chegou a
hora H, bastava entrar apressadamente o palco, entregar um pergaminho a um
cantor protagonista, que fazia o papel de um rei, e responder a pergunta que
este lhe cantava: “Como está o seu rei?”
A resposta não era complicada: “Meu
rei está bem.” Mas logo travou a voz do rapaz, e, na demora, o cantor repetiu a
pergunta. De novo nada de resposta. Na terceira vez, o monarca já estava perdendo
a paciência, e o amador não conseguia emitir um som. A solução que ele
encontrou foi fazer um gesto balançando a mão, esse que todos identificam como
“mais ou menos”.
Centurião desastrado
Como eu já disse antes, os espetáculos
de ópera são extremamente próprios para ocorrência de gafes e desastres em
geral.
Certa vez, há muitos anos, o Teatro
Municipal do Rio apresentou a temporada de uma superprodução que envolvia
grande quantidade de figurantes.
Como a cena exigia, apareciam no
palco dezenas de centuriões para guerrear, vestidos com roupas de época.
Até que um dia aconteceu de um
centurião meio magrinho ter seu capacete afundado na cabeça, tapando os olhos. Muito
concentrado na batalha de mentirinha, ele nem percebeu que a cortina se fechava
e ficou sozinho naquele palco imenso do teatro, guerreando contra ninguém.
Passaram-se mais alguns compassos e a
orquestra acabou de tocar, mas nem assim o desastrado centurião não saía de
cena.
Foi nessa hora que surgiu do meio da
cortina uma mão e puxou o mané pelo pescoço, dando fim a quase três minutos de
ridículo.
Ouviram-se palmas, vaias e
gargalhadas no templo carioca da ópera.
(Do livro “Suíte
gargalhadas”,
de Henrique Cazes, José Olympio Editora)
de Henrique Cazes, José Olympio Editora)
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