Frases
históricas que resumem a crônica
do Brasil -
Colônia, do Brasil - Império e do Brasil - República.
Humberto de Campos
CAXIAS E A SUA TROPA
Taunay - Homens e Coisas do
Império, pág. 112
O Duque de Caxias, quando em campanha,
fazia questão de sofrer as mesmas agruras e correr os mesmos riscos que os seus
soldados. Uma tarde, em
Lomas Valentinas , estava ele, completamente molhado, sob uma
laranjeira, esperando o momento do ataque, quando uma ordenança se aproximou,
trazendo à mão, com cuidado, uma fumegante xícara de café.
‒ Aqui está ‒ disse ‒ que o Sr. Dr. Bonifácio de
Abreu mandou para V. Excia., e ordenou-me que não deixasse cair um pingo no
chão.
O marechal fitou-o pausadamente.
‒ Eu não quero, ‒ respondeu, afinal.
E para o soldado, abrandando a voz:
‒ Beba-o você, camarada.
O ORGULHO DE ALENCAR
Taunay - Reminiscências, vol. I,
pág. 109
O Imperador Pedro II não tinha
grandes simpatias pessoais por José de Alencar. Porque este o houvesse ferido
por mais de uma vez pela imprensa, ou porque lhe fizesse mal o amor-próprio, ou
melhor, o orgulho do escritor, foi o soberano contrário, desde o princípio, à
candidatura do seu ministro da Justiça à cadeira de senador pelo Ceará. No dia
em que este lhe foi comunicar que era candidato, o monarca objetou-lhe:
‒ No seu caso, não me apresentava agora: o senhor é
muito moço...
Alencar, num daqueles repentes que
lhe eram habituais, não se conteve.
‒ Por esta razão, ‒ disse ‒ Vossa Majestade devia ter
devolvido o ato que o declarou maior antes da idade legal...
E tomando conta de si:
‒ Entretanto, ninguém até hoje deu mais lustre ao
governo...
O Imperador não lhe perdoou, jamais,
esse ímpeto, vetando, como se viu depois, o seu nome, que era o mais votado da
lista.
FRANQUEZA E PRUDENCIA
Salvador de Mendonça - Artigo n'O
Imparcial – 1913
Professor das princesas, filhas de
Pedro II, Joaquim Manuel de Macedo, o célebre romancista de A Moreninha,
desempenhava o seu mandato de deputado geral, quando o conselheiro Francisco
José Furtado, organizador do gabinete Liberal de 31 de agosto de 1864, o
convidou para a pasta dos Estrangeiros. Recusada a honra, mandou o Imperador
chamar o escritor à sua presença, e indagou o motivo do seu gesto, quando
possuía tantas qualidades para ser um bom ministro.
‒ Admita-se que eu tenha as qualidades que Vossa
Majestade me atribui, ‒ respondeu Macedo: ‒ mas eu não sou rico, requisito
indispensável a um ministro que queira ser independente.
E decidido:
‒ Eu não quero sair do Ministério endividado ou
ladrão!
OS "HISTÓRICOS"
Ernesto Sena - Deodoro, pág. 149
O marechal Deodoro jamais contestou que,
até às vésperas de 15 de novembro tivesse servido devotadamente ao Imperador. A
sua adesão às idéias de Benjamim data, talvez, de 10 a 12 daquele mês.
Certo dia, já presidente, recebeu
Deodoro no Itamaraty um cavalheiro que alegava ser republicano de longa data,
batendo-se pela República desde 1875.
‒ Pois eu, meu caro senhor, não dato de tão longe.
E pachorrentamente:
‒ Eu sou republicano de 15 de novembro, e o meu irmão
Hermes de 17!
O "BAILE DE MÂSCARAS"
Aluísio de Castro - Discurso na
Academia Brasileira de Letras, 1918
Em um encontro na Livraria Garnier,
apresentara Francisco de Castro o seu filho Aluísio, ainda estudante, a Machado
de Assis. Vendo quase homem aquele que vira recém-nascido, Machado sentenciou,
triste:
‒ A vida é um baile de máscaras; uns vão saindo
depois dos outros.
E com voz meio gaguejada:
‒ Já me sinto no fim do baile...
OS SAPATOS VERMELHOS
Osvaldo Cruz - Discurso na
Academia Brasileira de Letras, 1913
O temor de lavrar uma sentença
injusta, fizera de Raimundo Correia um tímido, um irresoluto, diante das
menores coisas da vida. Saltara ele em uma estação da Central rumo de Minas, a
fim de comprar um par de sapatos para uma das filhas, quando se pôs a
conjeturar:
‒ Deve ser azul... É melhor... é cor do céu... as
moças gostam mais do azul...
E pegando em outro:
‒ Ou vermelho?... É a cor da alegria... do sangue...
da mocidade...
O trem apitou.
‒ Vai o azul. Embrulhe o azul!
Correu a tomar o carro, que já se
punha em marcha. E
já da janela do vagão, agitando um embrulho, para uns amigos que o tinham ido
abraçar na passagem:
‒ Antes tivesse trazido os vermelhos!...
A CORAGEM DO ALMIRANTE
Augusto de Lima - Discurso na
Academia Brasileira de Letras, 1923
Comandava Saldanha da Gama uma das
unidades da nossa esquadra quando, um dia, mandou aplicar algumas dezenas de
chibatadas em um grumete de catadura feroz, o mais indisciplinado, talvez, do
navio. Ao sofrer a pena, o marujo, com o corpo lanhado, sangrando e babando,
jurou que, na primeira oportunidade, se vingaria do comandante, vibrando-lhe
quatro punhaladas. Saldanha mandou-o vir imediatamente à sua presença, no seu
camarote. O marujo apresentou-se.
‒ Entra! Ordenou-lhe.
‒ Às ordens, "seu" comandante.
Saldanha fechou a porta por dentro,
ficando aí apenas os dois.
‒ Faze-me a barba, ‒ mandou, sentando-se, e
indicando-lhe a navalha.
O marinheiro obedeceu. Mas de tal
forma lhe tremia a mão, que estacou.
‒ Então?! ‒ fez o comandante, reclamando.
E o grumete:
‒ Não posso mais, "seu" comandante... Tenho
medo de "amolestá vossenhoria"!
E caiu de joelhos, em pranto, beijando-lhe as
mãos.
O HOMEM E A NATUREZA
Alfredo Pujol - Machado de Assis,
pág. 60.
Ao iniciar Machado de Assis a
publicação, em folhetins diários, do seu romance A mão e a luva, Francisco
Ramos Paz, um dos seus poucos amigos e seu confidente literário, lembrou-lhe a
conveniência de descrever, em um dos capítulos da obra, o soberbo parque do
Conde de São Mamede, no Cosme Velho.
‒ A natureza inspirará uma bela página ao teu
romance... - disse-lhe.
Machado recusou, porém, de pronto.
‒ A natureza não me interessa...
E definindo-se:
‒ O que me interessa é o homem!
TODOS MALUCOS
Tobias Barreto - O Jornal, 5 de
dezembro de 1925
Encarregado de promover, na madrugada
de 16 de novembro, o embarque da família imperial a bordo do Parnaíba, o
coronel Mallet foi desobrigar-se da sua missão, no Paço.
‒ Que é isto? Então vou embarcar a esta hora da
noite? - exclamou o velho Imperador.
Mallet adiantou-se, com ar
respeitoso:
‒ O governo pede a Vossa Majestade que embarque antes
da madrugada. Assim convém.
‒ Que governo? - indagou o monarca.
‒ O governo da República, - informou o oficial.
‒ Deodoro também está metido nisso?
‒ Está, sim senhor; é ele o chefe do governo.
E o Imperador, num espanto:
‒ Estão todos malucos!...
A EXPERIÊNCIA DE UM MORALISTA
Moreira de Azevedo -
"Mosaico Brasileiro", pág. 135.
Ao contrário do que se pode concluir
das suas máximas, o marquês de Maricá não era um homem sisudo, grave,
conceituoso, na palestra. Gostava de pilheriar com finura, tendo deixado, nesse
terreno, alguns ditos interessantes.
Certo dia, estava ele à mesa, quando
recebeu uma participação de casamento.
‒ Vamos, marquesa, - disse, pondo-se de pé; vamos
quanto antes dar os parabéns aos noivos. Bom será que seja hoje mesmo.
‒ Hoje, marquês? Por que tanta pressa?
‒ Para não acontecer - respondeu ele, - o que sempre
acontece; isto é, dar-se parabéns quando os noivos já estão arrependidos.
O LENÇOL DO PATRIARCA
Moreira de Azevedo - Mosaico
Brasileiro, pág. 112
Achava-se José Bonifácio enfermo em
Niterói, quando um amigo, que o vira no fastígio político, o foi visitar ali,
velho, esquecido, abandonado. Ao penetrar no aposento, notou logo a modéstia do
ambiente, e, sobretudo, os remendos do lençol que cobria o leito de pobre.
‒ Não repare ‒ desculpou-se o patriarca.
E passando a mão pelo lençol:
‒ O que afeia estes bordados é apenas a
irregularidade do desenho...
A DEMISSÃO DE CUSTÓDIO
Serzedelo Correia - "Páginas
do Passado", pág. 13.
Em uma das reuniões do ministério,
com Floriano no governo, Custódio José de Melo, ministro da Marinha, propôs que
se telegrafasse ao Marechal Moura, ministro da Guerra, então no Rio Grande,
dando-lhe instruções para a pacificação do Sul. Floriano aceitou o alvitre,
combinou o texto do telegrama e, no despacho seguinte, Custódio o interpelou.
Então, telegrafou ao Moura?
‒ Não, - respondeu Floriano, seco; - mudei de
opinião.
O almirante estranhou:
‒ Como? ‒ V. Excia. não podia mudar de opinião; era
assunto resolvido por todo o ministério.
‒ Mas mudei, ‒ tornou o ditador. ‒ Se o senhor quer a
presidência da República, eu lhe passo o poder.
‒ Não, isso, não; ‒ volveu Custódio.
E dando a sua demissão:
‒ Se eu quisesse a presidência da República, quando
tinha os canhões do Aquidaban voltados para a cidade, não teria vindo
ser ministro da Marinha no seu governo!
CONSCIÊNCIA DE PAI
Múcio Teixeira - "Os
Gaúchos", vol. I, pág. 229.
Comandava o Coronel Emílio Mallet.
Barão de Tapevi, um regimento de artilharia em frente a Paissandu, quando
recebeu ordem de atravessar o rio e atacar o exército paraguaio, acampado na
outra margem. Um dos seus filhos era o porta-bandeira e o outro, João
Nepomuceno, que chegou a marechal, comandava a primeira ala.
Ao receber a ordem, o comandante
reuniu a oficialidade, e expôs-lhes a situação da sua consciência.
‒ Meus filhos ‒ disse ‒ devem ser os primeiros a
atravessar o rio, devido à posição que ocupam no regimento; mas estou indeciso,
porque, se os mando na frente, poderão dizer que quero enchê-los de glória; e
se os retirar para a retaguarda, pensarão talvez que procuro poupar-lhes a
vida.
Resolveu, porém, que eles iriam à
frente. Um, morreu. Outro, foi o primeiro a pisar território inimigo.
DILÚVIO DE LAMA
Araripe Júnior - "Revista da
Academia Brasileira de Letras", n° 39, pág. 252.
Nos fins de 1895, a neurastenia de Raul
Pompéia havia se acentuado de modo impressionante. Na tarde de 23 de dezembro,
encontrando-se com Araripe Júnior no largo de São Francisco, deixou extravasar
todo o seu nojo pela vida e pelos homens.
‒ Lama! ‒- dizia. ‒ Sinto lama podre até nas
conjunções da frase, quando penso.
E logo:
‒ Capacite-se de uma coisa. No Brasil só há um ato
digno para um homem honrado: pegar de um revólver e salpicar com os miolos esta
terra sinistra, e pulha, ao mesmo tempo!
No dia seguinte, matava-se, com um
tiro no coração.
Humberto de Campos
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