(Aparício Torelly)
Tal e qual. Há casas que são uma
fachada. Atrás de um belo e suntuoso frontispício, escondem um interior e uns
fundos miseráveis. Em compensação, há homens de aparência rude, de mãos
calejadas e rostos cheios de sulcos que, no entanto, ao se lhes penetrar no
íntimo, revelam uma alma hospitaleira, repleta de bondade sincera e de
celestial tranqüilidade.
Há uns velhotes, baixinhos e
atarracados, com o cabelo virado nas pontas que lembram essas mansardas
coloniais de telhado de beira, com a sala de visita atulhada de objetos
antigos, alguns muito bonitos e bem trabalhados, mas que atualmente, não têm a
menor utilidade. Por exemplo: um castiçal de prata para velas de sebo, que
ainda não tomou conhecimento da existência do mercado das lâmpadas
fluorescentes.
Dois irmãos gêmeos são dois prédios
iguais, construídos pelo mesmo arquiteto, com o mesmo material. Um cidadão com
mais de dois metros de altura é um arranha-céu, sem elevador. Um homem doente é
uma casa avariada. Um homem com muitas doenças é um hospital. O barbeiro é uma
espécie de jardineiro, encarregado de podar as vegetações que nascem na frente
da casa. Há barbas piores do que tiririca ou carrapicho rasteiro.
Um homem, uma casa. Alguns senhores
do interior, parados na avenida, uma aldeia. Um senhor que tem algumas amizades
e as explora familiarmente, é uma casa de pensão. Um cavalheiro muito amável e
muito cortês, mas que assalta sem piedade as pessoas que a ele recorrem, é um
hotel de luxo. Os irmãos siameses são dois prédios contíguos. Um grão-fino, de
flor no peito, é um bangalô, muito bem arranjadinho, com jardim na frente, mas
hipotecado até os alicerces.
Há homens palácios. Há homens
taperas. Há homens residenciais. O tipo mais simpático, porém, é aquele que nos
paga o almoço regado a finos líquidos. Este é o armazém de secos e molhados.
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