Foi nos tempos da marfadada
revolução. Tinha um camarada que fazia boato de tudo num botequinho que
frequentava em São Paulo. Inventava coisas do governo militar, de autoridades.
Acontece que, desse barzinho, um
coronel que estava sempre à paisana era também freguês. E, portanto, sabedor e
até ouvinte assíduo do boateiro. Ninguém naquele boteco sabia que ele era coronel do nosso glorioso Exército.
Mas os boatos do tal amigo foram
de certa forma chegando ao exagero e, com isso, no bom palavreado, enchendo o
saco do bom militar. Daí o tal coronel resolve fazer uma brincadeira corretiva
com o boateiro. Simulou uma operação militar, com jipes, metralhadoras e
pessoal fardado. Pois bem. Era de tardezinha, nosso amigo dos boatos falava as
suas e eis que, de repente, surge aquela operação militar de araque. Coronel
(fardado e bravo):
– O senhor está preso por causa
dos boatos referentes ao Exército!
Levam o dito-cujo, simulam um
júri e a condenação: morte por fuzilamento. Isso posto, lá está o nosso amigo
num paredão e na sua frente cinco fuzileiros (armas com balas de festim,
claro). Disparam, e o susto foi o pretendido. O coronel se aproxima, ainda
bravo:
– Isso é só pro senhor aprender a não falar mal das Forças Armadas!
– Isso é só pro senhor aprender a não falar mal das Forças Armadas!
No outro dia, lá está o querido
boateiro, no mesmo botequim. Alguns clientes e amigos se
aproximam para saber
do efeito da
bronca do militar. O nosso amigo boateiro chama todos para cochichar:
– Olha, pessoal.
Não contem pra
ninguém. Mas o nosso Exército está totalmente sem munição!
*****
Adaptado de Contando Causos, de Rolando Boldrin,
(Nova Alexandria, 2001).
Conto Minimalista
O espelho inquietava o
fundo do corredor.
Narciso abriu a porta do
corredor de sua casa e entrou. No lusco-fusco, viu um vulto que vinha em sua
direção. Em zigue-zague, Narciso avançou contra o estranho e fez dois disparos.
Atraído pelos estampidos, o
policial do quarteirão veio correndo; foi até o fundo do corredor e,
imediatamente, retornou, trazendo consigo, um espelho com dois furos de bala...
Jair Teixeira
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