domingo, 20 de abril de 2014

A verdadeira origem da palavra “Forró”

          

Afirmam os engraçados criadores de piada que lá no Nordeste, quando os ingleses queriam dar uma festa, convidavam os sanfoneiros e escreviam na entrada For all, para todos. Lembro da minha infância em Campina Grande e da presença dos ingleses da Great Western. Nunca soube que eles fossem de se misturar com a gente simples dos forrós. Pura piada. Invenção. Quando vi impresso, num disco de Geraldo Azevedo “for all”, entendi que a coisa era mais grave. Uma informação errada e sem sentido estava sendo passada, e quem viesse depois iria tropeçar neste lamentável engano, nascido de uma piada infeliz. Consultei quem sabia: Mestre Luís da Câmara Cascudo:

Rio de Janeiro, 03 de março de 1983.


(Câmara Cascudo)

Caro Mestre,

Há muito aprendi com os seus ensinamentos que o termo “forró” equivale à designação arrasta-pé, ou seja: baile reles, o mesmo que “bate-chinelas”, o mesmo que fobó ou forró. Agora começa a se divulgar uma nova versão da palavra forró, presa a uma ideia de que teria nascido da expressão inglesa “for all”. Isso, justificam os inventores, por conta dos ingleses da Great Western nordestina, que, realizando bailes populares, usavam a expressão “para todos” como um anúncio. Já existem discos gravados com esta novidade de título – “For all -- para todos”, gravação de Geraldo Azevedo, em selo Ariola, onde na contracapa pode-se ler esta afirmativa:

“O inglês da ferrovia
escreveu no barracão
for all, for all, for all
foi então que o pau comeu
nunca mais sentou o pó
eu só sei que o povo leu”.

Gostaria de saber a opinião do grande mestre, pois se a novidade é verdadeira, está muito bem divulgada. Se é falsa, ainda há tempo de corrigi-la.

Com os meus cumprimentos e o meu respeito, Fernando Lobo

Natal, 07 de abril de 1983
Fernando Lobo, muito saudar!

Vá perdoando o hieróglifo da minha escrita cabalística. Fui advogado da Great Western em Natal antes de 1930. Nada de for all em barracão. Invenção carioca de jornal. Forró em segundo lugar.

O mais autêntico e fobó. Forrobodó no Rio, em jornal e teatro.

As invenções já em 1919, quando estudava no Rio, viviam pulando. O morro do Guedes vinha de to-gether... O morro da Arrelia era O’Reilly...

Há quem possa enfrentar?

Abraço destes 85 Dezembros, Câmara Cascudo


Está aí pessoal. Isso é o que se chama matar a cobra e mostrar (com o perdão da palavra) o pau. Daqui em diante, espero, pelos menos em relação ao forró, vamos parar com isso. Com interpretações etimológicas que só fazem confundir e prestar um desserviço à nossa música popular, que merece muito respeito.

Forrobodó = Fobó = Forró.

(Do livro “À mesa do Vilariño”, de Fernando Lobo – Editora Record)




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