Afirmam os engraçados criadores
de piada que lá no Nordeste, quando os ingleses queriam dar uma festa,
convidavam os sanfoneiros e escreviam na entrada “For all”, para todos.
Lembro da minha infância em
Campina Grande e da presença dos ingleses da Great Western.
Nunca soube que eles fossem de se misturar com a gente simples dos forrós. Pura
piada. Invenção. Quando vi impresso, num disco de Geraldo Azevedo “for all”,
entendi que a coisa era mais grave. Uma informação errada e sem sentido
estava sendo passada, e quem viesse depois iria tropeçar neste lamentável
engano, nascido de uma piada infeliz. Consultei quem sabia: Mestre Luís da
Câmara Cascudo:
Caro
Mestre,
Há muito aprendi com os seus
ensinamentos que o termo “forró” equivale à designação arrasta-pé, ou seja:
baile reles, o mesmo que “bate-chinelas”, o mesmo que fobó ou forró. Agora
começa a se divulgar uma nova versão da palavra forró, presa a uma ideia de que
teria nascido da expressão inglesa “for all”. Isso, justificam os inventores,
por conta dos ingleses da Great Western nordestina, que, realizando bailes
populares, usavam a expressão “para todos” como um anúncio. Já existem discos
gravados com esta novidade de título – “For all -- para todos”, gravação de
Geraldo Azevedo, em selo
Ariola , onde na contracapa pode-se ler esta afirmativa:
“O inglês da ferrovia
escreveu no barracão
for all, for all, for all
foi então que o pau comeu
nunca mais sentou o pó
eu só sei que o povo leu”.
Gostaria de saber a opinião do
grande mestre, pois se a novidade é verdadeira, está muito bem divulgada. Se é
falsa, ainda há tempo de corrigi-la.
Com os meus cumprimentos e o meu
respeito, Fernando Lobo
Natal, 07 de abril de
1983
Fernando Lobo, muito
saudar!
Vá perdoando o hieróglifo da
minha escrita cabalística. Fui advogado da Great Western em Natal antes de
1930. Nada de for all em
barracão. Invenção carioca de jornal. Forró em segundo lugar.
O mais autêntico e fobó.
Forrobodó no Rio, em jornal e teatro.
As invenções já em 1919, quando
estudava no Rio, viviam pulando. O morro do Guedes vinha de to-gether... O
morro da Arrelia era O’Reilly...
Está aí pessoal. Isso é o que se
chama matar a cobra e mostrar (com o perdão da palavra) o pau. Daqui em diante,
espero, pelos menos em relação ao forró, vamos parar com isso. Com
interpretações etimológicas que só fazem confundir e prestar um desserviço à
nossa música popular, que merece muito respeito.
Forrobodó = Fobó = Forró.
(Do livro “À mesa do Vilariño”,
de Fernando Lobo – Editora Record)
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