(Atual Praça General Osório)
Quem subir a velha Rua Duque,
partindo da antiga Praia do Arsenal, logo depois de passar a Escola Técnica
Ernesto Dorneles, verá a sua direita um quadrado cercado. Pois bem, esse
quadrado tem o nome de Praça General Osório em homenagem ao herói do Paraguai.
Mas, o povo teima em continuar a chamá-lo Alto da Bronze.
E por que surgiu a denominação “Alto
da Bronze”? Recorramos aos subsídios do “velho Coruja” nas suas “Antigualhas”,
que afirma que, quem descesse a rua Duque ao atingir a Praça, “encontraria à
direita uma meia dúzia de casas de porta e janela, em uma das quais morava
Felizarda, mas que só era conhecida por não sei de que de bronze,
(bunda, seios, vagina?), e que por decência só era denominada Bronze,
nome que foi dado aquele lugar por ser ela a figura mais notável do bairro”.
Quem seria essa estranha mulher, a “decência” impedia que se mencionasse algum
tributo físico “notável” de que era possuidora? Os cronistas mencionam seu
nome, afirmando que viera de São Borja e se estabelecera no local em meados do
século XIX. Qual seria a força de disporia essa simples mulher a ponto de
emprestar seu nome ao logradouro, quando à sua época era denominado Ladeira
de São Jorge? Seria ela um tipo de china e daí a alcunha de “Bronze”. Numa
população analfabeta a “Bronze” ganharia apreço e consideração pelo fato de ser
uma espécie de “cartomante”, que vivia a fazer mandingas, “a engazopar com
benzeduras e engrimanços as pobres mulheres que fazem comércio do corpo como a
quase sua contemporânea, dona Flor, que morava em frente à cadeia”, nos informa
Aquiles Porto Alegre. Quanto à sua reputação Sanhudo a denomina “Messalinazinha
porto-alegrense”, afirmando que fazia um intenso comércio do seu corpo,
“irresistível e insaciável”. Já Aquiles informa não saber se era virtuosa e
segundo lhe constava, sua existência não era escandalosa. A verdade é que a
casa da Bronze era um “terreiro” de batuque.
Seria essa simples mulher do povo que
“derrotaria” o General Osório na questão da nomenclatura. O nome do glorioso
cabo de guerra figura apenas na placa, pois os porto-alegrenses conhecem a
praça, como “Alto da Bronze”. E com esse nome certamente ficará conhecida pelos
séculos afora.
(Do livro “Crônicas das Ruas de
Porto Alegre”, de Leandro Telles)
§ § §
Todos os fantasmas de Porto Alegre
moram no Alto da Bronze, disse um dia o escritor Moacyr Scliar. Mas eles não se
restringem aos limites da velha praça, entre as ruas Duque de Caxias, Fernando
Machado e General Portinho.
O Alto da Bronze tem alma, tem luz.
Alma suja de sangue e dor, muita dor e saudade. A Bronze ficou musical. E teve
seus dândis. Mas não perdeu a singeleza infantil. Paulo Coelho e Plauto
Azambuja a imortalizaram, como se ainda fosse necessário, em uma composição
que falava de crianças, riso e desenganos:
Alto da Bronze
Alto da Bronze,
Cabeça quebrada,
Praça querida,
Sempre lembrada,
a praça onze
da molecada.
Praça sem banco,
do Rato Branco*
e do futebol.
Da garotada
endiabrada
das manhãs de sol.
És eterna lembrança
dos tempos felizes
em que eu era criança,
dos tempos em que
a vida era
da minha infância
a doce quimera.
Hoje eu pobre
e profano
me lembro de ti
dos meus desenganos,
Oh! meu Alto da Bronze
dos meus oito anos.”
(Do livro “A Noite
dos Cabarés”, de Juremir Machado da Silva)
* Os antigos guardas-civis de
Porto Alegre usavam a túnica de cor branca, daí que o povo os chamavam,
pejorativamente, de Rato Branco.
P.S. O
professor Leandro Telles, autor do livro “Crônicas das Ruas de Porto Alegre”
vende (ou vendia, não o vejo mais) livros e revistas antigos no Brique da
Redenção todos os domingos. Levo o livro citado acima para que ele o autografe,
e pergunto no seu ouvido:
- Professor Leandro, por
favor, me esclareça uma dúvida deste livro. O que é que a Felizarda tinha de
bronze?
E o professor responde, sem rodeios:
- A b...!
P.S. Já ouvi outros historiadores
afirmarem que ela tinha o hímen duro como bronze. Também falar em c...
de bronze...
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