José Cândido de Carvalho
de
Casemiro de Abreu
Alcimaco Azambuja, dono de muito boi
e muito voto em Pirapora, tendo de resolver umas coisas e loisas com o governo,
rebocou Zizinho Pinto para terras e mares do Rio de Janeiro. E, na porta do
Palácio do Catete, que naqueles dias comandava a vida do Brasil, falou para o
compadre Zizinho:
- Vou
ver uns papéis que estão entalados nas gavetas do governo. Venha comigo.
Zizinho recusou:
Zizinho recusou:
- Compadre, careço de
competência para pisar chão tão mimoso. Vou quedar do lado de fora, assuntando o
compadre.
O compadre sumiu pela larga porta de
entrada enquanto Zizinho, instalado num bom cigarro de palha, ficava vendo
aquele entrar e sair de gente em formato de formiga de correição. Alcimaco,
depois de desencravar seus papéis, voltou e quis saber a opinião de Zizinho
Pinto:
-
Compadre, gostou do Catete? Coisa assim não tem em Pirapora.
E Zizinho de
Pirapora:
E Zizinho
- Eta, compadre, lugarzinho
bom de especial para um varejo, para um comercinho de cachaça e rapadura!
E mais não
disse nem lhe foi perguntado.
Em boca fechada bem-te-vi não faz ninho
Campos de Melo passou todos os
anos de sua vereança sem dar uma palavra. Era o boca-de-siri da câmara
municipal de Cuité. Até que, uma tarde, ergueu o busto, como quem ia falar. O
presidente da Mesa, mais do que depressa, disse:
- Tem
a palavra o nobre vereador.
Então, em meio do grande silêncio, o grande mudo falou.
- Peço licença para fechar a janela, pois estou constipado.
Então, em meio do grande silêncio, o grande mudo falou.
- Peço licença para fechar a janela, pois estou constipado.
José Cândido de
Carvalho
Romancista brasileiro nascido em
Campos dos Goitacases, RJ, em 5.8.1914, cuja reputação deveu-se a publicação do livro O
coronel e o lobisomem (1964). Formado em direito, radicou-se (1939) na capital
do estado, onde fez carreira na imprensa.
Sua estréia literária ocorreu com
o romance Olha para o céu, Frederico (1939), mas a consagração veio com O
coronel e o lobisomem (1964), um romance centrado nos costumes, lendas, tipos,
vida política e folclore da zona açucareira do norte fluminense, e premiado
pela Academia Brasileira de Letras, o PEN Clube do Brasil e a Câmara Brasileira
do Livro, e reeditado várias vezes.
Eleito para a Academia Brasileira
de Letras (1974), morreu em Niterói, RJ, em 1° de agosto de 1989. Em sua obra também despertaram
interesse Por que Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon (1971), Um ninho de
mafagafos cheio de mafagafinhos (1972), Ninguém mata o arco-íris (1972) e
Manequinho e o anjo de procissão (1974).
Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/
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