sexta-feira, 18 de abril de 2014

O compositor da velha cidade

(Alberto Bastos do Canto dedicou dezenas de canções a Porto Alegre)

As letras

Rua da Praia


Rua da Praia, que não tem praia, que não tem rio
Onde as sereias andam de saia e não de maiô
Rua da Praia, do jornaleiro, do camelô
Do estudante que a aula da tarde gazeou

Rua da Praia da garotinha que quer casar
Do malandrinho que passa os dias jogando bilhar
Se as pedras do seu leito algum dia pudessem falar
Quanta cena de dor e alegria haveriam de contar?

Rua da Praia de alegres tardes domingueiras
Quando as calçadas se enfeitam de gauchinhas faceiras
Rua da Praia da sede do Grêmio e Internacional
Que se embandeiram e soltam foguetes num jogo Gre-Nal.

Praça da Matriz

 

Praça da Matriz década de 20

Velha praça, de jacarandás frondosos
Cujos ramos majestosos
Dão sombra tão amiga

Velha praça, teu recanto ajardinado
Tem lembranças do passado
Da cidade à moda antiga

Noutros tempos, tu tiveste a bailanta
De que os velhos falam tanto
Com dor no coração

E os festejos do Divino Espírito Santo
São lembrados com saudade
pela velha geração

Porto Alegre deixou lá na Praça da Matriz
Tudo quanto restou de um passado que bem diz
E lá que está a Casa do Povo e o Tribunal
É lá que está o velho palácio governamental

Mas também estão lá as belezas do presente
No sorriso das crianças e nas orações do crente
Velha praça, o teu monumento conserva bem vivo
Júlio Prates de Castilhos e seu ideal positivo

Rio Guaíba


Guaíba, rio dos paquetes e veleiros
Das regatas e humildes canoeiros
É tão doce cortar tuas águas no verão
E sentir tuas ondas baterem na embarcação

Guaíba da procissão dos Navegantes
Quantos barcos navegando em fevereiro
Levam a imagem da santa padroeira
Aos festejos da população praieira

E quando à tardinha o sol dá seus últimos beijos
Em tuas águas, tão claras, tão limpas, tal qual um espelho
É tão bom ir na beira da praia e notar
Que ao longe o céu e a água vão se encontrar

Pela noite, o marulho sereno das ondas que vão e que vêm
Faz lembrar o sussurro amoroso do meu bem
Guaíba, de Belém Novo e de Vila Assunção
Bonitas praias de verão

Guaíba das novas pontes de concreto armado
Um abraço bem forte de Porto Alegre e do Estado
                                        
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Um samba pra Redenção

Em 1946, Alberto do Canto, então ainda estudantes que se preparava ao Direito, compõe um samba em homenagem àquele logradouro, cantando-lhe as graças e belezas, os seus recantos, seus frequentadores, seus elementos fixadores. Parque da Redenção, quatro anos depois era gravado e usado como trilha sonora para um pequeno filme sobre a cidade. Nada melhor para descrever a sua significação humana do que a letra daquele samba-canção:

Minha cidade tem belezas
Onde os olhos não se cansam de estar.
Em Porto Alegre há recantos
Que vale a pena a gente visitar.
Sinto as palavras tão pequenas
E tão grandes seus encantos,
Que um somente, um apenas entre tantos,
Neste samba eu vou cantar.

Redenção das crianças, dos velhos e dos namorados,
Dos fotógrafos, dos vendedores e soldados.
Redenção das estatuías, dos lagos e dos chafarizes,
Seus canteiros floridos são sempre um convite aos pintores,
Linda inspiração aos poetas e compositores.
Redenção é um Parque variado
Ao agrado do frequentador
Tem histórias, comédias, romances de amor.

Assim é a peça de Alberto do Canto que, infelizmente, ainda não conseguiu imprimir sua música, com certeza de grande utilidade para a s escolas da capital.

(Do livro “Porto Alegre história e vida da cidade”,
de Francisco Riopardense de Macedo)

Observação:

Outra composição de Alberto Bastos do Canto, Rua da Praia, um samba-canção, foi gravado em 11 de agosto de 1954 por Alcides Gerardi com Orquestra, em disco 78 rpm Odeon

(Alberto Bastos do Canto faleceu no dia 01.04.2004)





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