sábado, 19 de abril de 2014

O Escravo e o Filósofo



Estava um paxá cruzando o oceano num leve navio, quando desabou uma terrível tempestade. Um de seus escravos persas, que nunca antes estivera no mar, começou a chorar e gemer, gritando com tanto terror que ninguém conseguia consolá-lo.

Por fim, o paxá berrou irritado:

- Não existe ninguém a bordo que possa acalmar esse covarde?

Um filósofo, que por acaso se encontrava no navio, disse:

- Com vossa licença, senhor, penso que poderia acalmar este homem.

- Pois tenta – disse o paxá.

O filósofo observou o trêmulo escravo e convocou alguns marinheiros:

- Atirai-o na água.

Jogaram o escravo no mar. E ele começou a se afogar, e se debatia desesperadamente, e seus gritos eram terríveis.

- Agora o içai para bordo – disse o filósofo.

Os marinheiros puxaram o escravo de volta para o navio. Ele se agarrou ao convés, ofegante e assustado, mas silencioso. O paxá, impressionado e surpreso, perguntou ao filósofo:

- Como explicas isso?

Ao que o sábio respondeu:

- Antes de ter uma mostra de afogamento, ele não poderia apreciar a abençoada segurança de um navio.

Para os anjos do Paraíso, o Purgatório é inferno; mas para os condenados do Inferno, o Purgatório é Paraíso.


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