sábado, 5 de abril de 2014

O Flirt

Olegário Mariano 




Retirei um breve instante 
Das minhas cogitações, 
Para falar-vos do Flirt, 
A epidemia elegante 
Dos salões. 

Nasce de um sorriso mudo, 
De um quase nada que, enfim 
Vale tudo 
Para elas e para mim. 

O Flirt. Haverá no mundo 
Quem não sinta essa embriaguez 
De um momento, de um segundo, 
De quinze dias, de um mês? 

Ele é efêmero e fortuito, 
Vale pouco ou vale muito, 
Conforme o Diabo o compôs. 
É um simples curto-circuito 
Entre dois. 

Uma carícia inflamável 
Doidinha por incendiar, 
Um micróbio insuportável 
Que vai de olhar para olhar. 

Ou antes: um precipício 
Que a gente olha sem pavor. 
O divino instante, o início 
Do êxtase imenso do amor. 

Um galanteio, uma frase 
Intencional 
Que sendo frívola, é quase 
Um madrigal. 

A mão que outra mão afaga, 
O pé que pisa outro pé. 
Carícia lânguida e vaga... 
Só quem ama e quem divaga 
Pode saber o que isto é. 

A orquestra soluça um tango: 
Dois. Ela folle, ele fou. 
Flor de Tango. — A flor de Tango, 
Diz ele baixinho, és tu. 

E assim vai num tal crescendo, 
Que ela se debate em vão. 
Parece que está morrendo 
Nos braços do cidadão. 

Quando passa o áureo momento, 
Vem a tragédia em três atos. 
Três atos 
Com um epílogo. Depois, 
Um noivado, um casamento, 
Um bruto arrependimento 
E ao fim divórcio entre os dois. 
                  

In Ba-ta-clan, 1924






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