sábado, 19 de abril de 2014

Um bravo ensina a amar a terra



(Esta foi a resposta do chefe índio Seattle, em 1854,
à proposta de compra das terras de seu povo pelo presidente dos Estados Unidos.)

I “Como podereis vós comprar ou vender o céu, o calor, a terra? Se nós possuíssemos a frescura da água e do ar, de que maneira Vossa Excelência poderia comprá-la? Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada espinho do pinheiro, cada rio murmurante, cada bruma dos bosques, cada clareira, cada zumbido de insetos é sagrado na lembrança e na vivência de meu povo. A seiva que corre nas árvores lembra meu povo.”

II “Nós somos uma parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos. As rochas escarpadas, o aroma das pradarias, o ímpeto dos nossos cavalos e o homem – todos são da mesma família. Assim, o Grande Chefe de Washington, mandando dizer que quer comprar nossa terra, está pedindo demais a nós índios.”

III “Manda o Grande Chefe dizer que reservará lugares onde poderemos viver, confortavelmente, entre nós. Ele será nosso pai e, nós, seus filhos. Prometemos pensar na vossa idéia de comprar nossa terra. Mas não será fácil, pois esta terra para nós é sagrada. A água cintilante que corre nos riachos e arroios não é só água, mas também o sangue de nossos ancestrais. Os rios são nossos irmãos. Eles saciam nossa sede, levam nossas canoas e alimentam nossos filhos.”

IV “Se nós vendermos nossa terra, vós deveis vos lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e também vossos. E vós deveis dar aos rios a ternura que mostrais a um irmão. Sabemos que o homem branco não entende nossos costumes. Um pedaço de terra, para ele, é igual ao pedaço de terra vizinho, pois é um estranho que chega, às escuras, e se apossa da terra de quem tem necessidade. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e uma vez conquistada, o homem branco vai mais longe. Seu apetite arrasará a terra e não deixará nela mais que um deserto.”

V “Não sei, nossos costumes são diferentes dos vossos. A imagem de vossas cidades faz mal aos olhos do homem vermelho. Mas isso talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não entende. Não há mais lugar calmo nas cidades do homem branco, a barulheira parece estourar os ouvidos. O índio prefere o doce assovio do vento, lançando-se como flecha sobre o espelho de um lago, e o aroma do vento, molhado pela chuva do dia ou perfumado pelo pinheiro. O ar é precioso ao homem vermelho, pois todas as coisas participam do mesmo sopro. O animal, a árvore, o homem, eles dividem todos os mesmo sopro. O homem branco parece não lembrar do ar que respira. O vento, que deu a nosso avô o primeiro fôlego, recebeu, também, seu último suspiro. Pensaremos, portanto, na vossa oferta de comprar as nossas terras.”

VI “Mas se decidirmos aceitá-la, eu porei uma condição: o homem branco deverá tratar todos os animais selvagens como irmãos. Vi mais de mil bisões apodrecendo nos campos, abandonados pelo homem branco, que os abateu de um trem que passava. O que é o homem sem os animais? Se os animais desaparecerem, o homem morrerá dentro de uma grande solidão. Ensinai, também, a vossos filhos, aquilo que ensinaremos aos nossos: que a terra é nossa mãe. Dizei a eles que a respeitem, pois tudo o que acontecer à terra acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no chão, eles cospem sobre eles mesmos. Ao menos sabemos isto: a terra não é do homem; o homem pertence à terra. Todas as coisas são dependentes. Não foi o homem que teceu a teia de sua vida, ele não passa de um fio dessa teia. Tudo o que fizer para essa teia estará fazendo a si mesmo.”

VII “Há uma coisa que sabemos e que o homem branco descobrirá talvez um dia: é que o nosso Deus é o mesmo Deus. E sua piedade é igual, para o homem vermelho e para o homem branco. Esta terra lhe é preciosa e danificá-la é cumular de desprezo seu criador.”


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