Morre militar que projetou o próprio túmulo
Acima e abaixo, fotos do túmulo de Scepaniuk
no Cemitério da Santa Casa de Porto Alegre-RS
Casemiro Scepaniuk
também ficou conhecido por inventar o pino de segurança (chipanique) que impede a abertura acidental do gancho no cabo de ancoragem dentro das aeronaves no lançamento de paraquedistas.
Foto: Cabo Vinicios
Rodrigues Borges / Exército Brasileiro/Divulgação
Por volta das 16h desta quarta-feira
(03.02.2016), mais de 60 militares deram início à cerimônia de sepultamento de
Casemiro Scepaniuk, com uma salva de três tiros, no Cemitério Santa Casa de
Porto Alegre. Com a bandeira do Brasil estendida sobre o caixão, o paraquedista
de número 44 foi conduzido até o túmulo que ele já havia deixado pronto. O
militar dizia que não queria dar trabalho à mulher, Ruth Scepaniuk, 90 anos,
que também teve seu lugar reservado no mesmo jazigo, junto ao marido. Ele
acreditava que “iria antes dela”.
Diagnosticado com câncer de
estômago, Casemiro estava internado havia cerca de 20 dias no Hospital Militar
de Porto Alegre. Na noite de terça-feira, ele não resistiu e morreu em
decorrência de falência de múltiplos órgãos. Um dos pioneiros do paraquedismo
militar brasileiro, ele tinha 94 anos.
A construção do túmulo se iniciou
havia cerca de 10 anos e, aos poucos, Casemiro foi enriquecendo a sua
"futura casa" – como ele costumava dizer – com detalhes que
remetessem à sua trajetória na Brigada Paraquedista, atual Brigada de
Infantaria Paraquedista. À direita da estátua de bronze idêntica ao dono do
túmulo, está a figura de Piloto, o primeiro cão paraquedista da América do Sul.
À esquerda, Casemiro optou por colocar a imagem de uma águia, em homenagem ao
primeiro curso de paraquedismo que realizou, nos Estados Unidos, na década de
1940.
Scepaniuk fez questão de colocar no túmulo o cão Piloto
Túmulo pronto para receber seu ilustre morador...
A fim de deixar a casa pronta para
a nova moradia, quase diariamente, o militar se dedicava aos cuidados do
túmulo, no qual gastou quase o valor do apartamento de três quartos em que
vive, no bairro Partenon, na Capital.
No mesmo cemitério está a sepultura
do músico Teixeirinha, motivo de “orgulho” para o militar, que tinha o bom
humor como uma marca característica. “Tenho certeza que até o Teixeirinha vai
tocar, é meu vizinho”, brincou, em entrevista concedida à RBS TV, em 2009.
Casemiro e Ruth se conheceram no
Rio de Janeiro e mantinham uma relação de mais de 60 anos. Eles não tiveram
filhos.
O gaúcho nasceu em Erechim, na
região norte do Estado, e, no início dos anos 1940, concluiu o serviço militar
obrigatório, em
Curitiba. Formou-se na Escola de Educação Física do Exército
e se especializou em paraquedismo nos Estados Unidos. Era o número 44 de um
total de 47 oficiais e sargentos que foram para Fort Benning, no Estado de Geórgia,
tornando-se pioneiros do paraquedismo militar brasileiro. Com a perda de
Scepaniuk, destes, apenas quatro ainda vivem.
O jovem, então, era destaque nos
esportes, principalmente no futebol. Jogou no antigo Britânia Sport Clube,
atual Paraná Clube, e também foi instrutor de atletismo do Núcleo da Divisão de
Paraquedistas do 1º Exército, hoje Comando Militar do Leste.
Um dos primeiros instrutores da
Brigada Paraquedista do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, Casemiro também
ficou conhecido por “salvar a vida” de colegas. Após ter descoberto uma falha
em um gancho de paraquedas, criou uma espécie de pino de segurança, que impedia
a abertura acidental do equipamento. O invento recebeu o nome de “pino
chipanique” – referência à pronúncia do sobrenome de origem polonesa de
Casemiro.
Atualmente, o militar integrava, em Porto Alegre , o Grupo
Grafonsos, que congrega paraquedistas de todo o Brasil.
O colega Ricardo Freire prestou uma
homenagem ao comunicar a morte do amigo e colega pelo Facebook: “Temos a triste
missão de nos preparar para inaugurar o mausoléu do pioneiro Pqdt 44 Casemiro
Scepaniuk. Mais um bravo paraquedista militar que vai cumprir missão eterna na brigada
celestial aeroterrestre”, disse no post.
Os colegas que estiveram presentes
no sepultamento prestaram a última homenagem a Casemiro cantando Eterno Herói,
a canção do paraquedista.
(ZH Notícias de 05 de
fevereiro de 2016)
E, finalmente, a lápide pôde ser completada:
Texto da lápide:
CASEMIRO SCEPANIUK
*28/11/1921 (Erechim-RS) - 02/02/2016 (Porto Alegre-RS)
Cap. Parachutist and Gliderman, n° 44 - Pioneiro
formado na
The Airborne School ,
FT Benning, Geórgia ‒USA.
Class B ‒ 17A - em 12/06/1948.
Deixo a estátua como incentivo à juventude tornar-se
um Guerreiro
alado do ninho das águias do Exército Brasileiro.
Agradeço as minhas queridas amadas Carolina (mãe)
e Ruth, por terem enchido o meu coração de amor
durante a minha vida no PLANETA TERRA.
e Ruth, por terem enchido o meu coração de amor
durante a minha vida no PLANETA TERRA.
Aos amigos saudade Eterna
C Scepaniuk
*****
Scepaniuk e o gancho com o pino de segurança.
*Nós, paraquedistas dos anos 60
em diante, só ouvíamos falar do chipanique, aquele aramezinho de metal ou
alumínio que impede a abertura acidental do gancho no cabo de ancoragem de uma
aeronave, sem saber que “chipanique” derivava do sobrenome do senhor Casemiro
Scepaniuk, cujo som do sobrenome é “Chipanique”.
Uma foto com dedicatória:
Ao amigo pqdt Nilo
ANO: 1949
ZL: Gramacho-RJ, sempre encharcado e lamacento.
Piloto, 1° cão Pqdt do Brasil, depois do salto,
festeja.
Scepaniiuk, Pqdt n° 44, pioneiro, acaricia seu
companheiro
de salto. Todo o cuidado com o "Boot Corcoran".
de salto. Todo o cuidado com o "Boot Corcoran".
A foto foi tirada pelo 2° Sgt Edegar Marques, Pqdt n°
17,
pioneiro e treinador do Piloto. CScepaniuk, Pqdt 44.
pioneiro e treinador do Piloto. CScepaniuk, Pqdt 44.
Pela importância que teve na Brigada Paraquedista, merece todo respeito. Descanse em paz
ResponderExcluirHomem de muito valor.......pena que o mundo está carente de seres com tal bravura e caráter.
ResponderExcluirDescanse em paz, missão cumprida.
Não vivemos em vão!
ResponderExcluirTestemunhei uma justa homenagem a esse eterno herói quando ainda estava entre nós no ano de 2014. O ninho das aguias nunca esquecerá seus pioneiros e Pqdt inovadores como foi o Cap Scepaniuk
ResponderExcluirBrasil!Acima de tudo!
O verdadeiro eterno herói. Sua dedicação e caráter nos servem como exemplo. A porta já!!
ResponderExcluirHoje e ssempre Cap SCEPANIUK.
ResponderExcluirDona Ruth Scepaniuk: 05/12/1926 - 12/03/2023
ResponderExcluirDona Ruth Scepaniuk, viúva do Cap Casemiro Scepaniuk, faleceu aos 96 anos, em 12.03.2023; faria 97 anos em dezembro de 2023.
ResponderExcluirInfelizmente, a familia que cuidou dele até o último dia não pode sequer participar do enterro (foram expulsos na porta do cemitério) por proibição de alguns ratos de farda que estavam de olho nos pertences do casal.
ResponderExcluirTodos os pertences do casal, após a morte de Dona Ruth Scepaniuk, toda a herança: uma casa, uma camionete e uma alta quantia na poupança ficaram com um irmão de Dona Ruth, nenhuma militar ficou com nada dele. Conhecia muito bem o casal, pois escrevi dois livros sobre a historia da Brigada de Infantaria Paraquedista.
ExcluirRealmente, havia um casal muito amigo dos Scepaniuk, que não foi ao enterro, não sei se não foram convidados por alguém da família. Havia, no enterro, militares da ativa do CMS, e muitos ex-paraquedistas, que não ficaram com nada, pois o casal não tinha praticamente nada, pela vida humilde, desnecessária, que senhor Casemiro impunha à família.
ExcluirFalta, na lápide do suntuoso mausoléu do senhor Casemiro Scepaniuk, a data da morte de dona Ruth. De quem seria essa responsabilidade?
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