sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

As irmãs Batista



→ Dircinha e Linda Batista são casos exemplares de artistas que brilham em determinada época e, depois, são atropelados pelo tempo. Depois de fazerem sucesso entre os anos 1930 e 1950, sucumbiram às mudanças ocorridas no cenário musical na década de 1960. Mas não só: também sofreram com problemas psiquiátricos graves. A história das cantoras é lembrada neste episódio da série “A mulher na música brasileira”.


A cena era chocante e assustadora. No centro da sala, uma mulher gorda, o corpo coberto de feridas, os cabelos desgrenhados, dizia palavrões e ameaçava com uma espécie de borduna a todos que se aproximavam. Próximo, outra mulher vestida com trapos, ria histericamente e dizia palavras desconexas. A um canto, encolhida e catatônica, uma terceira mulher extremamente magra permanecia calada, o olhar perdido. As três mulheres eram irmãs − e pelo menos duas tinham sido famosas: as cantoras Dircinha (63 anos) e Linda Batista (66), e Odete (70), a mais velha.

O apartamento 301 do prédio nº 625 da rua Barata Ribeiro, em Copacabana, estava semidestruído, tacos estavam soltos, as paredes rabiscadas e descascadas, janela quebradas, móveis arrebentados. Com dificuldades, o cantor José Ricardo, o delgado Rui Dourado e soldados do Corpo de Bombeiros conseguiram levar as irmãs até uma ambulância do Inamps, que as conduziu ao Hospital Psiquiátrico Pinel. Do Pinel, Linda foi levada às pressas para a Unidade de Terapia Intensiva da Clínica Rio-Cor. A agitação e a agressividade que a dominavam eram agravadas pela arritmia e pelo diabetes. Seu estado foi considerado crítico pelos médicos que a atenderam. Dircinha e Odete foram levadas para a Casa de Saúde Doutor Eiras. Ambas estavam devastadas pela arteriosclerose e pela desnutrição em grau elevado.

Quem poderia imaginar que ali estavam duas das maiores cantoras brasileiras? Duas cantoras que desfrutaram de fama, riqueza e prestígio, que se tornaram as preferidas de Getúlio Vargas. Que cantaram e interpretaram grandes e inesquecíveis sucessos, até hoje lembrados. Como chegaram àquele ponto?

(Do livro “As Divas da Rádio Nacional”, de Ronaldo Conde Aguiar)


Linda Batista - 1952

→ Florinda Grandino de Oliveira (São Paulo, 14 de junho de 1919 − Rio de Janeiro, 17 de abril de 1988), mais conhecida como Linda Batista, foi uma cantora e compositora brasileira. Era filha de Batista Júnior e irmã de Dircinha Batista.

→ Faleceu em 17 de abril de 1988, vítima de embolia pulmonar, na cidade do Rio de Janeiro.


A família Batista: Batista Júnior e seus bonecos,
e suas filhas: Dircinha, à esquerda e Linda, à direita.


À direita, no microfone, Dircinha Batista.

→ Dirce Grandino de Oliveira, conhecida como Dircinha Batista, à direita, no microfone, (São Paulo, 7 de abril de 1922 − Rio de Janeiro, 18 de junho de 1999) foi uma atriz e cantora brasileira.

→ Vítima de parada cardíaca, a cantora Dircinha Batista morreu às 2h30 de ontem, 18 de junho de 1999, no hospital São Lucas, em Copacabana, na zona sul do Rio. A cantora, que tinha 77 anos e sofria de uma grave disfunção cardíaca, deu entrada na Unidade Coronariana do hospital por volta da 1h, com edema pulmonar agudo e insuficiência respiratória.

P.S. A coleção Irmãs Batista foi doada ao MIS-RJ, em 1988, por Hermínio Bello de Carvalho e é composta por troféus, discos, documentos iconográficos e textuais, entre roteiros, letras de músicas, além de revistas e álbuns com recortes de jornais sobre suas trajetórias artísticas.


Getúlio Vargas, Hermínio Bello de Carvalho e Linda Batista


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