Um começo de história
D.C.*
(Sobre o início do Batalhão Santos
Dumont)
Viveiro Sd João Rodrigues da Silva**
Antigo viveiro de periquitos no BSD**
A ordem de despejo demorou, mas veio.
Também já era demais. Fomos para ficar uns meses e já estávamos lá há cerca de
dois anos.
O Comandante deu uma ordem de limpeza
geral. Tínhamos que devolver tudo caiado, brilhando a traquejado. Pelo menos
isso, já que não pagávamos aluguel e nem havia contrato. Depois fomos indo aos
poucos. Primeiro a Segunda, depois a Terceira, depois a Primeira e a Petrechos.
A CCS ficou por último porque tinha mais coisas. Houve, então, a despedida. O
Coronel Floriano fez o discurso e falou sinceramente, com o seu velho coração
de soldado. Disse que o Regimento ia sentir falta de ver as nossas botas
vermelhas caminhando pelas suas alamedas largas e limpas. “O Dois de Ouro que
nos viu nascer” era como o irmão mais velho despedindo-se do caçula.
Depois, saímos marchando e a banda
deles tocando o Adeus. Notamos que, de fato, eles sentiam a nossa saída e nós
também. Os sons do dobrado foram ficando ao longe e a nossa cadência ia
marcando a faixa de asfalto que passa pela Área de Estágios e pela Colina
Longa.
Lá, no Arroio dos Afonsos, nos
esperava o Quartel novinho em folha, com seus telhados de prata refulgindo ao
sol. Tudo em arrumação. O
rancho na garagem, a CCS na garagem, o Comando na sala de espera, o Major
Henning plantando árvores, o Sargento Barbedo fazendo o mastro para a bandeira
do Comandante.
Lá do outro lado, roncam os motores
dos C-82, decolando com os alunos da IBAET e voltando vazios. É o CIESP fazendo
paraquedistas para nós.
Quando o Capitão Führ veio do Norte,
trouxe o papagaio. Era o Zé Veloso, mas mudou de nome porque o Comandante não
gostou. Passou a ser “Xará”. Não fala nada. É só assobiar e contar: Um, dois,
três, quatro. Dizem que é porque é fêmea, mas isso não se sabe ao certo e nem
importa, pois ele ou ela, Xará, continua sendo o mascote fixo do Batalhão. Não
vai às paradas. Fica quieto na gaiola que o Sgt Barbedo fez e pôs o nome dele:
Xará, ex-Zé Veloso. É pau-de-arara grã-fino. Tem até ordenança escalado para
lhe dar comida e não deixar algum gato comê-lo.
Os NA da Escola de Aeronautas não
param. Cadetes, em instrução, voam sem cessar para se tornarem bons pilotos. De
cá, ficamos olhando as acrobacias arrojadas e muitos de nós sentimos inveja.
Um dia desses, apareceu o (cão)
co-piloto***. Não vi quem o trouxe. Quando vi, a casinha já estava pronta e ele
dormindo na porta, aproveitando o sol da manhã. Todos brincavam com ele e ele
com quem aparecesse para alisar-lhe o pelo. De tanto brincar, adoeceu. Aí
apareceu um aviso na casinha: “É expressamente proibido dar comida ou brincar
com o cachorro”. Depois, o Sgt Barbedo levou-o para o Cap Jacques cuidar.
Quando sarar vai voltar, mas, talvez, não caiba na porta da casinha, porque
está crescendo muito.
Crescendo como está também a nossa
vibração por pertencermos a esta Unidade. Cada dia que passa nos apegamos mais,
nos dá mais amizade e nos faz orgulhosos de sermos paraquedistas do Batalhão
Santos Dumont.
Alameda Ten Wilson Bongiovani
Entrada do 25º e 27º Batalhão de Infantaria Paraquedista
* D.C. Era como o Sgt Duílio
Caldeira, pqdt 1841 - 1955/4, MS 425, assinava os seus artigos na Revista do Regimento Santos Dumont nos
anos 50 e 60.
** BSD, Batalhão Santos Dumont, que, nos anos 60 passou a ser chamado de Regimento Santos Dumont (RSD). O viveiro de periquitos chamava-se Sd João Rodrigues da Silva, Pqdt 3363, do Turno 1957/5, falecido na Manobra de Resende, em 13.11.1957, paraquedas principal não abriu, reserva acionado à baixa altura não deu sustentação suficiente.
*** Como já havia (e morrido em
1954) o cão pastor alemão Piloto; esse vira-lata foi chamado de “co-piloto”, e,
entre os íntimos, chamado “co-pila” em homenagem ao cão pioneiro da GU.
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