quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

História de Paraquedistas XXXVII

Um começo de história

D.C.*

(Sobre o início do Batalhão Santos Dumont)


Viveiro Sd João Rodrigues da Silva**

Antigo viveiro de periquitos no BSD**

A ordem de despejo demorou, mas veio. Também já era demais. Fomos para ficar uns meses e já estávamos lá há cerca de dois anos.

O Comandante deu uma ordem de limpeza geral. Tínhamos que devolver tudo caiado, brilhando a traquejado. Pelo menos isso, já que não pagávamos aluguel e nem havia contrato. Depois fomos indo aos poucos. Primeiro a Segunda, depois a Terceira, depois a Primeira e a Petrechos. A CCS ficou por último porque tinha mais coisas. Houve, então, a despedida. O Coronel Floriano fez o discurso e falou sinceramente, com o seu velho coração de soldado. Disse que o Regimento ia sentir falta de ver as nossas botas vermelhas caminhando pelas suas alamedas largas e limpas. “O Dois de Ouro que nos viu nascer” era como o irmão mais velho despedindo-se do caçula.

Depois, saímos marchando e a banda deles tocando o Adeus. Notamos que, de fato, eles sentiam a nossa saída e nós também. Os sons do dobrado foram ficando ao longe e a nossa cadência ia marcando a faixa de asfalto que passa pela Área de Estágios e pela Colina Longa.

Lá, no Arroio dos Afonsos, nos esperava o Quartel novinho em folha, com seus telhados de prata refulgindo ao sol. Tudo em arrumação. O rancho na garagem, a CCS na garagem, o Comando na sala de espera, o Major Henning plantando árvores, o Sargento Barbedo fazendo o mastro para a bandeira do Comandante.

Lá do outro lado, roncam os motores dos C-82, decolando com os alunos da IBAET e voltando vazios. É o CIESP fazendo paraquedistas para nós.

Quando o Capitão Führ veio do Norte, trouxe o papagaio. Era o Zé Veloso, mas mudou de nome porque o Comandante não gostou. Passou a ser “Xará”. Não fala nada. É só assobiar e contar: Um, dois, três, quatro. Dizem que é porque é fêmea, mas isso não se sabe ao certo e nem importa, pois ele ou ela, Xará, continua sendo o mascote fixo do Batalhão. Não vai às paradas. Fica quieto na gaiola que o Sgt Barbedo fez e pôs o nome dele: Xará, ex-Zé Veloso. É pau-de-arara grã-fino. Tem até ordenança escalado para lhe dar comida e não deixar algum gato comê-lo.

Os NA da Escola de Aeronautas não param. Cadetes, em instrução, voam sem cessar para se tornarem bons pilotos. De cá, ficamos olhando as acrobacias arrojadas e muitos de nós sentimos inveja.

Um dia desses, apareceu o (cão) co-piloto***. Não vi quem o trouxe. Quando vi, a casinha já estava pronta e ele dormindo na porta, aproveitando o sol da manhã. Todos brincavam com ele e ele com quem aparecesse para alisar-lhe o pelo. De tanto brincar, adoeceu. Aí apareceu um aviso na casinha: “É expressamente proibido dar comida ou brincar com o cachorro”. Depois, o Sgt Barbedo levou-o para o Cap Jacques cuidar. Quando sarar vai voltar, mas, talvez, não caiba na porta da casinha, porque está crescendo muito.

Crescendo como está também a nossa vibração por pertencermos a esta Unidade. Cada dia que passa nos apegamos mais, nos dá mais amizade e nos faz orgulhosos de sermos paraquedistas do Batalhão Santos Dumont.


Alameda Ten Wilson Bongiovani


Entrada do 25º e  27º Batalhão de Infantaria Paraquedista

*    D.C. Era como o Sgt Duílio Caldeira, pqdt 1841 - 1955/4, MS 425, assinava os seus artigos na Revista do Regimento Santos Dumont nos anos 50 e 60.

**  BSD, Batalhão Santos Dumont, que, nos anos 60 passou a ser chamado de Regimento Santos Dumont (RSD). O viveiro de periquitos chamava-se Sd João Rodrigues da Silva, Pqdt 3363, do Turno 1957/5, falecido na Manobra de Resende, em 13.11.1957, paraquedas principal não abriu, reserva acionado à baixa altura não deu sustentação suficiente.

*** Como já havia (e morrido em 1954) o cão pastor alemão Piloto; esse vira-lata foi chamado de “co-piloto”, e, entre os íntimos, chamado “co-pila” em homenagem ao cão pioneiro da GU.



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