o paladino do desabafo
João Marcos Coelho
Fuzis contra lápis
“Sob a inspiração do governador
Israel Pinheiro, revolucionário autêntico, inicia-se em Minas Gerais o
diálogo entre estudantes e policiais: dez homens foram treinados no Dops,
durante quatro meses, para aplicar golpes mortais de caratê e outros dos mais
avançados métodos de luta. Eles formarão agora a linha de frente contra os
movimentos estudantis e contarão inclusive com seis fuzis e quatro
metralhadoras (...). Sua função específica é enfrentar os perigosíssimos
estudantes e suas potentes armas, tais como papel e lápis.”
→ No jornal carioca Última Hora,
de Samuel Wainer nos anos 60, em seu primeiro emprego no Rio.
Sapato
“Só há uma saída para as mulheres que passam pelo quarto de Paulo Francis: dormir. Se resistirem por mais de 10 minutos, viram lésbicas para sempre.”
→ Sobre seu grande amigo e oposto radical, que invejava particularmente
as suas mulheres.
A última do dia
“O maestro [Tom Jobim] contou que já achara uma forma divertida de se vingar do seu principal crítico [José Ramos Tinhorão, então no Jornal do Brasil, crítico ferrenho da bossa nova, que chamava de “americanizada” e “colonizada”]: toda noite, antes de dormir, fazia questão de dar a última mijada do dia no tinhorão (planta famosa pela beleza de suas grandes folhas) que cuidava com zelo no jardim de sua casa.”
→ Tom Cardoso, sobre a primeira
matéria de capa do suplemento dominical Folhetim idealizado por Tarso e que
incendiou o país nos anos 70, onde Tom disse isso, mas pediu que não fosse
publicado, o que naturalmente Tarso fez.
Não é de hoje que se bebe
“Alvo da vez [em 1982, quando candidato do governo do Estado] da coluna de Tarso na Ilustrada, Jânio exigiu retratação imediata do jornal pelo artigo ‘O diálogo de Jânio com João’
Duelo etílico
“Eu estava tomando minhas biritas na mesa dos fundos do Degrau, quando o Tarso empurrou a porta com um tranco e berrou pra todo mundo ouvir: “Jaguar, seu viado, vamos duelar! Escolha as armas!.” “Conhaque”, respondi. Modéstia à parte, eu estava num daqueles dias em que a gente pode beber um Amazonas que não fica de porre. Ganhei: carreguei o Tarso desmaiado até a casa dele”.
→ Jaguar, em 1986, contando como
voltou às boas com Tarso, que chegou a anunciar seu falecimento numa nota fúnebre
na Ilustrada.
Ativo & Passivo
“Sr. Agnaldo Timóteo, no seu governo como serão tratados o passivo e o ativo do Estado? Uma ótima notícia para Agnaldo Timóteo: está sendo construída no Estado de Nevada, nos Estados Unidos, uma cidade só para os homossexuais. Não seria uma boa o nosso viado canoro ir tentar a vida política por lá?”
→ Em O Nacional , jornal que
montou no Rio em meados de 1986 financiado por Leonel Brizola, então candidato
ao governo do Estado.
(...)
Frases de Tarso de Castro*
Viver é fácil. A dor é
apenas o intervalo para fumar.
Perdi 25 milhas . Por sorte, não
as tinha.
Devo ter todos os
defeitos possíveis, mas faço questão de exercer minhas virtudes.
É preciso ter amigos,
mas poucos.
Além da vida não tem
explicação, vivo o presente!
*Tarso de Castro (Passo Fundo,
11 de
setembro de 1941
−São Paulo, 20 de maio
de 1991)
foi um dos grandes jornalistas brasileiros dos anos 60,
70 e 80.
Filho do diretor e consolidador
do jornal O Nacional, de Passo Fundo, Múcio de Castro. Foi o criador do caderno Folhetim
da Folha de S.Paulo. Foi também um dos fundadores
do polêmico jornal O Pasquim, do qual foi editor por 80 edições, juntamente com Jaguar, Sérgio Cabral,
Luiz Carlos Maciel, dentre outros. O jornalista
Tom Cardoso escreveu sua biografia, “Tarso de Castro -75 kg de Músculos e Fúria”,
lançada em 2005 pela editora Planeta.
Tarso de Castro era alcoólatra
e não admitia se tratar, e morreu de cirrose hepática aos 49 anos de idade.
É pai do comediante João Vicente de Castro.
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