Chico Buarque e
Francis Hime
No sinal fechado,
Ele vende chiclete,
Capricha na flanela
E se chama Pelé.
Pinta na janela,
Batalha algum trocado,
Aponta um canivete
E até...
Dobra a Carioca, olerê,
Desce a Frei Caneca, olará,
Se manda pra Tijuca,
Sobe o Borel.
Meio se maloca,
Agita numa boca,
Descola uma mutuca
E um papel.
Sonha aquela mina, olerê,
Prancha, parafina, olará,
Dorme gente fina,
Acorda pinel.
Zanza na sarjeta,
Fatura uma besteira
E tem as pernas tortas
E se chama Mané.
Arromba uma porta,
Faz ligação direta,
Engata uma primeira
E até...
Dobra a Carioca, olerê,
Desce a Frei Caneca, olará,
Se manda pra Tijuca
Na contramão.
Dança para-lama,
Já era para-choque,
Agora ele se chama
Emersão.
Sobe no passeio, olerê,
Pega no Recreio, olará,
Não se liga em freio,
Nem direção.
No sinal fechado,
Ele transa chiclete,
E se chama pivete
E pinta na janela,
Capricha na flanela,
Descola uma bereta,
Batalha na sarjeta,
E tem as pernas tortas...
* (...) Pivete composta em
parceria com Francis Hime, miniestória do cotidiano de um menor de idade que
vive na rua, e já se encontra completamente mergulhado na marginalidade, pela
droga e pela violência:
(Ele) batalha
algum trocado
Aponta um
canivete
(...) Agita
uma boca
Descola uma
mutuca
(...) Dorme
gente fina
Acorda pinel
Zanza na
sarjeta
(...) Descola
uma bereta
Pivete é a miniestória do
cotidiano de um menor de idade que vive na rua, e já se encontra completamente
mergulhado na marginalidade, pela droga e pela violência. A total
despersonalização do garoto é sugerida pela elipse do sujeito de todos os
verbos do texto. A linguagem empregada é a gíria dos marginais: “mutuca”
(pacotinho de maconha), “pinel” (adoidado), etc... E quando o autor descreve o
roubo de um carro pelo pivete, ficção e realidade se confundem, o autor se
torna personagem:
(...) Arromba
uma porta
Faz ligação
direta
Engata uma
primeira
E até.
Comentário crítico de
Cristina Duarte no livro:
“Vivendo a muque. Malandros, pivetes e
ladrões
no cancioneiro de Chico Buarque”
P.S. Escute essa canção na voz do próprio letrista: Chico Buarque, ela está na internet...
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