domingo, 30 de dezembro de 2018

O colégio no Alegrete

Nico Fagundes*


Isto foi em outros tempos. Agora não:** agora a Prefeitura do Alegrete tem na Secretaria de Educação gente buenaça, como aquela moça Suely, descendente direta do grande herói maragato que foi o general Vasco Alves Pereira.

Mas há muito tempo um oficial foi transferido para o Alegrete e botou os filhos num colégio, ainda no tempo da palmatória e do reguaço. Eu mesmo, que não sou tão velho assim, levei muito beliscão torcido, régua pela cabeça, puxão de cabelo de professora e quando chegava em casa ainda o velho Euclides, meu pai − que tinha dito para a professora nos puxar o matambre! − ainda nos passava o laço, outra vez... Tempo brabos! Mas que a gente aprendia, ah, aprendia! Abaixo de pau, mas aprendia.
  
Pois o tal oficial, quando foi receber o boletim dos filhos, estranhou aquelas letras LB, LE, B, M, UB.

O índio velho aguentou no osso do peito, mas no fim do ano quis saber se afinal de contas os filhos tinham passado, ou não, e em que matérias tinham se saído bem. E aí ficou sabendo:

LB → Louco de Bueno.

LE → Louco de Especial.

B → Buenaço.

M → Macanudo (que era melhor nota, equivalente a 10).

UB → Uma Bosta (esse rodava!...).

Do livro “causos de Galpão”, de Antonio Augusto Fagundes (Nico)


* Natural de Alegrete, Rio Grande do Sul, nasceu em 4 de novembro de 1934, o historiador, folclorista, compositor, ator e advogado. Antonio Augusto Fagundes, ou Nico como era popularmente conhecido, faleceu em junho de 2015, com 80 anos. Ainda jovem, foi cronista e repórter na Gazeta do Alegrete e na Rádio Alegrete, onde apresentou programas humorísticos e gauchescos. Em Porto Alegre, trabalhou no jornal A Hora e na TV Piratini. Apresentou por vários anos o programa Galpão Crioulo, na RBS-TV. Nico é autor da letra do Canto Alegretense, uma das músicas mais conhecidas do RS. Ele se formou em Direito, fez uma especialização em História do Rio Grande do Sul e concluiu um Mestrado em Antropologia Social. Pesquisou a formação, a identidade e os costumes do Estado e transformou o que descobriu em livros e canções.

** Ano de 1985.


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