Até nas flores se encontra
a diferença da sorte:
− Umas enfeitam a vida,
outras enfeitam a morte...
a diferença da sorte:
− Umas enfeitam a vida,
outras enfeitam a morte...
Ah! nem sempre denunciam
os nossos risos venturas.
Há também flores viçosas
guarnecendo sepulturas.
os nossos risos venturas.
Há também flores viçosas
guarnecendo sepulturas.
Oh! por que corpos unidos,
por natureza e por sorte,
vivendo da mesma vida,
não morrem da mesma morte?!
por natureza e por sorte,
vivendo da mesma vida,
não morrem da mesma morte?!
Depois de Deus, eu só creio
em um poder grande e forte:
− este poder que se impõe
de nossa boa ou má sorte.
em um poder grande e forte:
− este poder que se impõe
de nossa boa ou má sorte.
O pranto que por ti verto,
querida, só terá fim,
quando a morte um outro túmulo
junto ao teu abrir pra mim.
querida, só terá fim,
quando a morte um outro túmulo
junto ao teu abrir pra mim.
Sob a aparência do gozo,
quantos desgostos se ocultam!
Quantos não são os que riem
e na alma penas sepultam.
quantos desgostos se ocultam!
Quantos não são os que riem
e na alma penas sepultam.
(Do Blogue Falando de
Trova)
Justiça agora feita conheça o pequeno poema de onde a trova
se originou:
Até nas flores se encontra
A diferença na sorte –
Umas, enfeitam a vida;
Outras enfeitam a morte.
Umas nasceram para o adorno
De ricos salões doirados
Outras, mais tristes, ensombram
O retiro dos finados.
Não admira, portanto,
Bons ou maus fins dos viventes
Quando até as próprias flores
Têm destinos diferentes.
*Jerônimo Guimarães foi um famoso
trovador cigano Calon, brasileiro da Cidade Nova, e que morreu em 6 de outubro
de 1897, deixando inédita e dispersada em jornais, mas completamente
desconhecida, uma obra poética em que há páginas dignas de figurar numa
antologia da escola romântica do Brasil, honrando-a. Ele teve em Mello Morais Filho
(autor, entre outros de “Cancioneiro dos Ciganos”, 1885), no século passado, o
seu primeiro estudioso. Mello recolheu nada menos de 5.000 trovas de ciganos,
cuja autenticidade é incontestável, também para Silvio Romero (“História da
Literatura Brasileira”).
Em 1884, o jornal “Echo Popular”
publicou um poema de Jerônimo Guimarães, intitulado “O Destino”, e que foi
incluído no ano seguinte na antologia “Parnazo Brasileiro”, cujo pensamento,
imagem e até palavras formam como a reprodução ampliada da discutida trova.
Vejamos:
O destino
Nega-se a sorte, o destino:
Mas por que sentem as flores?
Por que a diversidade
Que existe nelas de cores?
Por que simbolizam uma
O prazer, outras as dores?
Vingam saudades e rosas...
Vestem estas de beleza
Os esplendores, as graças
Como contrastes à tristeza
Daquelas – que trajam luto
Queixosas de natureza!
Oh! Não se negue que luto
Tem um fim por Deus prescrito;
Que tudo ocupa um lugar
A um poder circunscrito;
Desde a planta até o homem!
Desde a terra ao infinito!
Como disse Oswaldo Macedo,
“encerrado o litígio no tribunal das letras, fica, afinal, o Calon Jerônimo
Guimarães reintegrado na posse mansa e pacífica de sua trova”.
(Do Blogue Culturas e
Tradições Ciganas)
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