Depressivo, escritor se matou após controvérsia
política.
Raul Pompeia teve sua carreira de
escritor e jornalista interrompida por causa de um discurso inflamado que fez
no cemitério São João Batista, em Botafogo, no sepultamento do ex-presidente
Floriano Peixoto, a quem ele apoiava como político, afinal tinha cargo de
confiança no governo e era época de eleição. O candidato eleito foi prudente de
Moraes, que, por sinal, nada gostou e demitiu Pompeia das funções de Diretor da
Biblioteca Nacional e de professor de Mitologia da Escola Nacional de Belas
Artes.
Isso o deixou impaciente, mais ainda
com os ataques pessoais dos colegas e a recusa deles de publicar seus escritos
para explicar o porquê do discurso no cemitério. Atuante nos debates de seu
tempo, defensor do abolicionismo e da República, Pompeia era de pavio curto.
Ele já tinha uma doença chamada depressão. Quando ficava depressivo, sua mãe o
tratava.
No dia de Natal de 1895, chegou em
casa e falou para ela: “Mãe, as provas estão corrigidas e pagas”. Eram as
provas de “O Ateneu”, que havia vendido no ano anterior aos livreiros Alves e
Cia. A mãe e as irmãs perguntavam o que tinha acontecido, ele só respondia que
estava tudo bem. Todas o vigiavam e rezavam o tempo inteiro, e ele mergulhado
naquela crise terrível de neurastenia. Pompeia recolheu-se em seguida ao quarto
com sacada que dava para a rua. Decidido, escreveu algumas linhas que lacrou
num envelope para ser entregue à redação de A Notícia:
“À ilustrada redação d′A Notícia.
Cumpro o dever de comunicar que, não
havendo sido publicado o segundo artigo da minha colaboração, aceita, aliás, em
termos benévolos, considero como sem efeito essa aceitação e agradeço a
inserção do 25 de dezembro de 1895. RAUL Pompeia.”
Tomou então a pena e rascunhou em
meia folha de papel um curto bilhete, complemento do anterior, para reforçar as
razões de seu gesto, a destacar o ponto central da enorme confusão de ideias
que lhe rondava a mente.
“À Notícia e ao Brasil declaro que
sou um homem de honra”. Depois de datar e assinar, recostou-se a um divã e deu
um tiro no peito. Eram 13h. Uma vez, dissera: “As horas da Vida são doze. Mas
uma hora existe que não incluímos nos reguladores da existência: é a hora da
morte.”
José Mário dos
Santos*
*Diretor do centro Cultural Raul
Pompeia, de Angra dos Reis (RJ), e organizador de um livro com as duas novelas
escritas pelo autor, “Uma Tragédia no Amazonas” (1880) e “As Joias da Coroa”
(1882), a ser lançada em breve.
(No Caderno de Sábado
do Correio do Povo, dezembro de 2018)
Raul Pompeia
Por Daniele Fernanda Feliz Moreira*
→ Raul d’Ávila Pompeia foi um
escritor brasileiro autor de uma das maiores obras do Realismo
brasileiro, “O Ateneu”
1888. Filho de família abastada, pai magistrado e mãe dona de casa herdeira de
ricos comerciantes portugueses, Raul Pompeia nasceu em 1863, em Angra dos Reis,
e mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro em 1867, onde é matriculado em um
colégio interno, concluindo depois os estudos secundários no Colégio Imperial
Pedro II. Foi ainda como estudante do Pedro II, em 1880, com apenas 17 anos,
que publicou seu primeiro romance,
“Uma Tragédia no Amazonas”.
→ Concluídos os estudos
secundários, Raul segue para São Paulo, para cursar Direito na Faculdade do
Largo do São Francisco, instituição onde também havia se formado seu pai. É
inicialmente bem recebido por entre os professores, contudo passa a enfrentar
problemas no curso por conta de seus posicionamentos políticos contundentes em
defesa da abolição da
escravatura e da causa republicana.
→ Divergiu de colegas
republicanos paulistas em virtude de estes não apoiarem também a abolição da
escravatura. Alguns professores se incomodavam com o temperamento de Pompeia,
tido como impávido, e criticavam as ideias propagadas por ele e por colegas de
forma direta e sem rodeios. Pompeia e outros colegas foram reprovados no
terceiro ano do curso. Os alunos receberam apoio da imprensa da época, pediram
reexame e conseguiram aprovação com nota mínima, mas foi novamente reprovado no
ano seguinte, agora juntamente a outros 94 estudantes, partindo, então, para
terminar o curso na Faculdade de Direito de Recife.
→ Após concluído o curso, Pompeia
não chegou a exercer a profissão de advogado e passou a escrever para vários
jornais da época. Entre estes, o jornal Gazeta de Notícias, veículo pelo qual
viria mais tarde a publicar “O Ateneu”, uma crônica que lhe consagrou por entre
a crítica da época.
→ Após a queda do Império, com o
início da ditadura de
Floriano Peixoto, Pompeia é nomeado presidente da Academia de Belas
Artes. O governo de Floriano Peixoto, contudo, enfrentava fortes resistências,
por entre as quais figuravam vários nomes de amigos próximos de Raul Pompeia,
fato que levou ao rompimento de diversas dessas relações de amizade. Após a
saída de Floriano Peixoto, com a entrada de Prudente de
Morais, Pompeia é desligado do cargo que ocupava como diretor da
Biblioteca Nacional, após um inflamado discurso em que saía em defesa de
Floriano Peixoto. Os vários atritos políticos com os amigos, por entre os
quais, Olavo Bilac
e Luís Murat, este amigo dos tempos da faculdade em São Paulo , levaram
Pompeia ao suicídio em 1895, no escritório da casa onde residia com sua mãe,
deixando um bilhete em que se lia “Ao
Jornal A Notícia, e ao Brasil, declaro
que sou um homem de honra”.
*Mestre em Ciências Humanas (CEFETRJ,
2014); Especialista em Linguística, Letras e Artes (CEFETRJ, 2013); Graduada em
Letras - Literatura e Língua Portuguesa (UFRJ, 2011).
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