Frank Reinshstein
Minhas posses materiais são poucas e eu deixo tudo pra você.
Uma coleira mastigada numa das extremidades, uma desajeitada cama de cachorro e uma vasilha de água que se encontra rachada na borda.
Deixo pra você a metade de uma bola de borracha, uma boneca rasgada que você vai encontrar debaixo da geladeira, um ratinho de borracha sem apito que está atrás do fogão e uma porção de ossos enterrados no canteiro de rosas e sob o assoalho da minha casinha.
Além disso, eu deixo pra você a memória que, aliás, são muitas...
Deixo pra você a memória de dois meigos e enormes olhos marrons, de uma caudinha curta e espetada, de um focinho molhado e de uma choradeira atrás da porta.
Deixo pra você uma mancha no tapete da sala de estar, junto à janela, quando nas tarde de inverno eu me apropriava daquele lugar, como se fosse meu, e me enrolava feito uma bolinha pra pegar um pouco de sol.
Deixo pra você um tapete esfarrapado em frente de sua cadeira favorita, o qual nunca foi consertado com o tipo de linha certo... isto é verdade! Eu o mastiguei todinho quando tinha cinco meses de idade, lembra?
Deixo também, só pra você, o barulho que eu fazia ao sair correndo sobre as folhas de outono, quando passeávamos pelo bosque.
Deixo, ainda, a lembrança de momentos pelas manhãs, quando saíamos juntos, pela margem do riacho, e você me dava aqueles biscoitos de baunilha...
Recordo-me de suas risadas porque eu não consegui alcançar aquele coelho impertinente!
Deixo-lhe como herança minha devoção, a minha simpatia, meu apoio quando as coisas não iam bem, meus latidos quando você levantava a voz, aborrecido, e a minha frustração por você ter ralhado comigo.
Eu nunca fui à igreja e nunca escutei um sermão. No entanto, mesmo sem haver falado sequer uma palavra, em toda a minha vida, deixo pra você o meu exemplo de amor, paciência e compreensão.
Sua vida tem sido mais alegre, porque eu estive a seu lado!
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