Se você fez e sabe fazer,
sempre haverá uma oportunidade para fazer de novo.
O título pode até ser um pouco longo, mas o seu tamanho
possui uma razão.
Há uma placa colocada na Colina
Longa, que homenageia o primeiro salto de veteranos no Brasil realizado por
precursores paraquedistas. O que me deixou mais impressionado, é a idade dos
pqdts que realizaram tal façanha. Idade que eu, Nilo da Silva Moraes, que ainda
vou fazer 66 anos,* não tenho; e eles, alguns mais velhos do que eu, treinaram
na Área de Estágios, como se recrutas fossem e saltaram de uma aeronave em voo. Muitos estavam
afastados de atividades físicas há um longo tempo. A maioria, com certeza, só
entrava num avião para viajar a passeio.
Eles voltaram ao Ninho das
Águias, vestiram suas antigas roupas de salto, reafirmaram velhas amizades...
e, corajosamente, saltaram...
A placa diz o seguinte:
BRIGADA DE INFANTARIA PARAQUEDISTA**
COMANDANTE PRECURSOR GEN. PQDT PREC GILSENO NUNES
RIBEIRO NETO
COMPANHIA DE PRECURSORES PARAQUEDISTAS
COMANDANTE CAP. PQDT
PREC WILLIAN GEORGES FELIPPE ABRAHÃO
PRIMEIRO SALTO MILITAR DE VETERANOS NO BRASIL
REALIZADO POR PRECURSORES PARAQUEDISTAS
Prec n° 1
Cel Celso Nathan GUARANÁ de Barros
– 72 anos
Prec n°
15 St José Álvaro Diniz NOGUEIRA
– 66 anos
Prec n° 16 St
– 66 anos
Prec n°
22 Cap LUIZ de Araújo Nunes
– 66 anos
Prec n°
34 Cap DALTON Malfacini
– 59 anos
Prec n°
35 Cap ENÉAS das Chagas Vieira
– 59 anos
Prec n°
54 Cel PAULO NEY Machado Ramalho de Azevedo
– 59 anos
Prec n°
70 Cap ITACOLOMI de Ouro Preto
Barcellos
– 61 anos
Prec n°
72 C.F. Reynaldo CARCERONNI (F.
Naval)
– 60 anos***
Prec n°
74 Cap Airton VIEIRA de Souza
– 55 anos
Prec n°
75 Cel Manoel Cândido de ANDRADE NETTO
– 57 anos
Prec n°
79 Cap Edgard CORDEIRO
– 58 anos
Prec n°
90 Cap José de ALCÂNTARA
– 59 anos
Prec n° 105 Cap Wanderley VEIGA
– 57 anos
Prec n° 109 Ten
PAULO Lúcio da CRUZ Loureiro
– 51 anos
Prec n° 133 Sgt
Leonardo MELCHIOR
– 46 anos
Prec n° 145 Cap Edy PIMENTEL Pirrone Vaz
– 55 anos
Cel Benedito
Carlos Pinto PREDA
– 54 anos (Prec Honorário)
CAMPO DOS AFONSOS, 10 DEZ 1994.
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* Hoje estou com 75 anos (sou de
10.09.1945), na época que escrevi este texto estava com essa idade.
** Com grafia atualizada.
*** Faleceu no dia 9 de dezembro de 1994. Sofreu, nesse salto, traumatismo craniano na aterragem do salto dos veteranos precursores. Segundo testemunhas, o FN
Carceronni saltou com uma touca de couro, usada pelos antigos Precs, maior que
a sua cabeça. No ar, após a abertura do seu paraquedas, ela ficava tapando os
seus olhos. Na tentativa de colocá-la no seu lugar, descuidou-se da aterragem,
batendo violentamente com a cabeça no chão, na ZL do Campo dos Afonsos.
Obs.: A placa foi colocada um dia após o salto dos veteranos
Precursores Pqdts, com suas idades na época.
Carta de um Veterano Precursor
Mestre Nilo, o título não é
longo, é apropriado, na justa medida, e filosófico. Você se mostra admirado
pelo feito de velhos Precursores haverem se superado; e um, com o sacrifício da
própria vida, com a compreensão dos familiares, respeitando a vontade e o
desejo de que não gostaria de morrer, porém, se algum dia morresse saltando,
seria a glória desse salto. E foi, se não heroico, foi um salto de exemplo e
amor ao paraquedismo militar que precisa “manter acesa pela vida afora a
chama ardente do paraquedismo militar brasileiro”. Pois essa era a vontade
expressa de Reynaldo Carceronni, Prec 72, aventada aos seus familiares, no seu
diálogo diário com eles, segundo ouviram, no seu sepultamento, alguns Pqdt lá
presentes.
Mestre, seguem fotos dos nossos
treinamentos, na ânsia de superarmos o peso da idade avançada, e que a mente
teimou de não aceitar; reflexos de um Curso Básico de Paraquedista militar,
alma de soldado que teima em mostrar aos jovens que tudo pode ser superado
quando a Pátria assim o exigir.
Lembro que os transeuntes de Juiz
de Fora não entendiam nada quando, às cinco horas da manhã, na caixa de areia
para o folguedo das crianças, no Parque Halfeld, viam-me saltando do parapeito
protetor daquela caixa de areia, executando os rolamentos dos vários tipos de
aterragem. Interessante que, ao chegar à Brigada Pqdt, conversando com outros
veteranos, esses relatavam procedimentos idênticos em suas casas ou em outros
locais.
Mestre, tudo muito louvável e
teve mérito! Mas, mérito maior foi do General Gilseno, o Comandante do
Cinquentenário da nossa valorosa Brigada de Infantaria Paraquedista, ao assumir
tamanha responsabilidade, exigindo de nós, voluntariados, exames médicos e
treinamentos na Área de Estágio do Centro de Instrução Paraquedista General
Penha Brasil, contando com a imprescindível colaboração da Força Aérea
Brasileira, nossos valorosos irmãos de mais de meio século.
Depois de uma semana de
treinamento na Área de Estágio (vide foto de alguns dos participantes), fomos
para o Campo dos Afonsos, onde realizamos nosso salto de aeronave em voo.
Fato interessante. Estávamos a
caminho do avião de salto, o General Gilseno me vê com um pacote P-2B e
pergunta:
-
Ly Adorno , o
que você tem nesse pacote?
- Excelência,
lamentavelmente Vossa Excelência é o único que não deve saber, todos os demais já sabem...
-
OK, siga em frente.
Mestre Nilo, era uma surpresa que
desejávamos fazer ao nosso General Gilseno. Eu conduzia no P-2B, devidamente
protegida pelo meu cunhado, ST Pqdt Gomes Filho e que serviu no Batalhão
DoMPSA, uma Águia em acrílico, que hoje está entronada na entrada do gabinete
do Cmt da Cia Prec, que fora ofertada ao General Gilseno, e que o saudoso
Pioneiro dos Precs, Cel Guaraná, lhe passara às suas mãos. Agora uma “Águia
Pqdt”, ungida pelo salto de avião em voo.
Mestre, merece menção honrosa o
General Gilseno que, superando incompreensões e dificuldades superiores,
chamou-me de Juiz de Fora e me garantiu de que os obstáculos foram superados e
o livro “Ser Pára-quedista” seria lançado no dia das comemorações do
Cinquentenário da Brigada de Infantaria Paraquedista.
Ao Exmo. General Gilseno Nunes
Ribeiro Neto, nossa eterna gratidão de todos os pqdts de todas as gerações.
Ly Adorno Pqdt 503 –
1951/02
Gen Gilseno Nunes Ribeiro Neto, Prec 84
Na foto acima, agachados, da esquerda para a
direita: Cap Enéas das Chagas Vieira, Prec 35; Cap Ly Adorno de Carvalho, Prec
16. Em pé, da esquerda para a direita: Cap José Álvaro Diniz Nogueira, Prec 15,
Cap Airton Vieira de Souza, Prec 74 e Cap Wanderley Veiga, Prec 105.
Observação: Todos estavam reformados e não saltavam mais. Treinaram todos os fundamentos básicos de um recruta e saltaram de uma aeronave em voo.
Observação: Todos estavam reformados e não saltavam mais. Treinaram todos os fundamentos básicos de um recruta e saltaram de uma aeronave em voo.
Acima, o Cap Ly Adorno passa às mãos do Cel Guaraná, Prec 01 a “Águia Pqdt” que a
entregará ao Gen Gilseno.
Acima, o Cel Guaraná, Prec Uno, passa às mãos do Gen Gilseno a “Águia Pqdt”. Sentado, à esquerda, aplaudindo, o Cap Domingos Ferreira Gonçalves.
Cap Nogueira, Prec 15 e Cap Ly Adorno, Prec 16,
no dia da festa de confraternização
Curso de Precursor Paraquedista foi
o primeiro curso de especialização combatente organizado no Exército Brasileiro e nas Forças Armadas Brasileiras. Sua história
se confunde com a história da própria Brigada de
Infantaria Paraquedista. O curso surgiu da necessidade da formação de um
especialista capaz de lançar em segurança a recém formada tropa paraquedista
brasileira. Com esse propósito, no ano de 1948, foi enviado para Fort Benning, Geórgia, Estados
Unidos, para cursar o Pathfinder Course, o então 1º Ten Celso Nathan
Guaraná de Barros (um dos paraquedistas militares pioneiros do Brasil). Com a
conclusão do curso, o tenente Guaraná, o nosso “Prec Uno”, deu início a uma longa
jornada para introduzir o “Curso de Precursor Aeroterrestre”, na Escola de Paraquedistas
(atual Centro de Instrução Paraquedista Gen Penha Brasil) em 1951, quando foram
formados os sete precursores pioneiros da nossa força terrestre.
Ao longo de mais de 60 anos de
atividades desenvolvidas pelos precursores no âmbito das Forças Armadas, outras
especializações e atividades operacionais foram criadas e muitas foram as
transformações ocorridas na capacitação desse especialista, a fim de acompanhar
as evoluções da guerra moderna.
Símbolos dos Precursores
MB.Excelente reportagem e registro.
ResponderExcluirMais uma vez agradeço ao amigo o comentário. Essas antigas águias paraquedistas merecem todo o nosso respeito e reconhecimento.
ResponderExcluirMeu comandante Gal Gilseno Nunes Ribeiro Neto. Na época que comandou o 26 BI PQDT em 1987 eu estava lá, estou muito emocionado. Glória a Deus!.Na época ele era Cel comandante do batalhão e Major Mendonça sub comandante. Quem é da época vai lembrar.
ResponderExcluirOlá audaz, fui ordenança dele no 26°BI PQDT. Brasil
ExcluirValeu, PQD, todo mundo tem uma boa lembrança do Gen Gilseno, grande comandante!
ExcluirFui ordenança dele no 26° pqdt, SD Targino, um abraço!
ExcluirValeu, amigo Targino!
ExcluirFui motorista dele e de sua esposa D.Mirian. Excelente pessoas. Obrigado por tudo. Ass SD Santos 92/4 Cia Cmdo Bda inf Pqdt
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, meu colega PQD!
ExcluirEu sou pé preto. Oriundo do PELOPES 1º Batalhão de Guardas, Rio de Janeiro, RJ. Porém tenho uma vibração ímpar pela tropa paraquedista. No início de 1970 funcionou na Colina a 21ª CSM (Comissão de Seleção MIlitar) destinada a selecionar voluntários para aquela seleta tropa. Lá fui eu, acompanhado de um amigo que consegui a custo convencer. Fizemos exames e testes (abdominais, corda, flexões, etc) Passamos em tudo e foi marcada a data para retorno. Nunca voltamos. Meu amigo ficou traumatizado co0m o tratamento recebido e chegou a chorar, dizendo que não voltaria mais lá. Éramos de Vila Isabel e o deslocamento até à Vila Militar era uma aventura. Eu, desestimulado, terminei também não voltando. Hoje, com 69 anos, guardo esse arrependimento. Mas, confesso que amo aquilo tudo, amo vocês e respeito essa mística que admiro e da qual infelizmente optei um dia por não participar. BRASIL!!!
ResponderExcluirMeu querido amigo, obrigado pelo comovente comentário. Eu era oriundo do Rio Grande do Sul, não tinha como desistir. Eu também fiquei um pouco chocado com o tratamento, mas fui em frente, consegui o bute marrom, o brevê de prata e a boina vermelha. Orgulhos eternos!
ResponderExcluirGostaria de saber a data de nascimento e falecimento do então Ten Gilseno quando servi no RSD ( 1963-1967). Obrigado!
ResponderExcluirO nascimento eu não sei, só sei que o hoje General Gilseno ainda está vivo e saudável.
ResponderExcluirParaquedista 87/2 matricula 44435, atualmente cabo-chefe na legiao Estrangeira, à 21 anos de servico, eu servi no 26 na epoca que o général Gilseno era o commandante, parabens pelo site, brasil acima de tudo. Se vcs quiserem entrar em contato comigo aqui vai o meu email: cleurib.s@gmail.com França.
ResponderExcluirSou subtenente Silvio de Morais Mendonça trabalhei como motorista do General Gilseno na secretária de segurança publica do ceará na época o secretário era o General Cândido Vargas, eu era cabo o General Gilseno veio a convite pra auxiliar nas operações das policias do ceará foi um honra trabalhar ao lado do General Gilseno Nunes Ribeiro Neto.
ResponderExcluirO general Gilseno é um dos oficiais mais respeitado do Exército brasileiro. Todos que conviveram com ele só têm boas lembranças.
Excluirno ano de 1944 o então Cap Inf ROBERTO DE PÊSSOA foi enviado aos Estados Unidos para realizar o Basic Parachute Course do Exército Norte-americano, em Fort Benning, e estudar as bases de organização dessa nova, eficiente e revolucionária tropa, visando a criação de uma escola de paraquedismo.
ResponderExcluirem 1945 o Cap DE PÊSSOA selecionou e preparou a 1ª turma de 22 militares (15 oficiais e 07 sargentos) pioneiros para realizar o Basic Parachute Course. Dentre eles encontrava-se o jovem 2º Ten Eng CELSO NATHAN GUARANÁ DE BARROS, atleta completo da turma de 1944 da Escola Militar do Realengo. Obs: outras seis turmas de pioneiros (duas turmas em 1946 e quatro em 1948) foram posteriormente enviadas, totalizando 47 militares formados nos EUA, incluindo o Cap DE PÊSSOA.
ResponderExcluirA Escola de Pára-quedistas (Es Pqdt) foi efetivamente criada pelo Decreto-Lei nº 8.444, de 26 Dez 1945, concomitantemente com a ativação de um Núcleo de Formação e Treinamento de Pára-quedistas como base à organização da Escola.
Em 1946, o 2º Ten GUARANÁ retornou ao Fort Benning, a fim de realizar os cursos de Mestre de Salto (Jumpmaster Course) e de Transmissões Paraquedistas (Communications Training), complementares para sua formação paraquedista.
Suas obervações estão corretas.
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