O inventor da batida da bossa nova
(...)
Ninguém foi mais injustiçado, no
entanto, do que o nosso Milton Banana (foto acima). Em 1957, ao lado de João
Gilberto, ele criou nada menos que a batida da bossa nova na bateria. Morreu em
1999, aos 64 anos, pobre com uma perna recém-amputada e ainda teria sido pior
se não fossem os amigos. Com Banana, se lhe pagassem 0,0000001% de royalties
toda vez que alguém fez a batida da bossa nova, ele poderia ter vivido 100 anos
sem nunca pensar em dinheiro.
Acidentes acontecem
(...)
Mas nada supera a história que me
juraram ter acontecido no velório do sambista João Nogueira (foto acima), em
2000. João era artista muito querido, daí as cenas de comoção na capela do São
João Batista. Um dos mais inconformados era um fã tocado pelo álcool, que se debruçava, descontrolado,
chorando sobre o caixão. Quando as pessoas tentaram consolá-lo − “Calma, meu
senhor!” −, ele se debateu e sua dentadura escapou e caiu sobre o peito de João
Nogueira.
Seguiu-se um momento de compreensível
mal-estar. Ninguém parecia disposto a pescar aquele objeto que lembrava uma meia
goiaba. Mas o homem não deu por achado. Sem parar de chorar, disse, embargado:
“Vai, João! Leva contigo o meu último sorriso!”
(Do livro “A arte de
querer bem”, de Ruy Castro)
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