O Pau-Brasil`
Ao longo dos seis meses que passou no
Brasil, Américo Vespúcio não encontrou nem ouro, nem especiarias. A única coisa
que despertou a atenção do florentino foi “uma infinitude de árvores de
pau-brasil”. Um tipo de pau-brasil, nativo do Oriente, era conhecido na Europa
há pelo menos dois séculos. O pó de sua casca servia para tingir tecidos de
vermelho. Corantes naturais eram, desde a Antiguidade, produtos valiosos. Os
fenícios, por exemplo, tinham adotado seu nome de uma planta tintorial, e os
portugueses negociavam na África, fazia dezenas de anos, algas, sementes e
bagas de tinturaria. A árvore encontrada em grande quantidade no Nordeste do
Brasil foi avistada por Vespúcio no momento em que a moda europeia passava por
uma revolução. O desabrochar do Renascimento e a expansão da indústria têxtil
tinham transformado o vermelho na cor da moda. O pau-brasil virou produto mais
cobiçado que nunca. Como os tupis, por sua vez, cobiçavam anzóis, machados e
facas. Os portugueses não tiveram dificuldade em fazer com que, em troca de
objetos de metal, os nativos cortassem, atorassem e transportassem as duríssimas
toras de pau-brasil. O comércio de “pau-de-tinta” foi a primeira fonte de lucro
que a Coroa portuguesa encontrou na nova colônia. Em menos de uma década, esse
comércio alcançaria dimensões tão amplas que o território avistado por Pedro
Álvares Cabral passou a ser chamado de Terra do Brasil.
Em 1500, a costa do Brasil
estava repleta de árvores de pau-brasil. Algumas tinham mais de 20 metros de altura e
quase três metros de diâmetro. Mais de 50 milhões de pés foram derrubados ao
longo dos dois séculos seguintes. Hoje, o pau-brasil encontra-se virtualmente
extinto.
(Do livro “Brasil:
Terra à Vista”, de Eduardo Bueno)
Ilha Brasil
O Brasil tem este nome por causa do
pau-brasil, certo? Nem tanto. Embora o “pau-de-tinta” com certeza tenha tido
participação no batismo do território oficialmente descoberto por Cabral, a
palavra “brasil” é repleta de significados − e muito mais antiga que o nome da
árvore. De fato, uma das tantas ilhas mitológicas espalhadas pelo Mar Tenebroso
se chamava Hy Brazil. Era um território lendário, associado com a trajetória de
São Brandão, místico irlandês que, no ano 565 da era cristã, tinha partido para
o oceano em busca de uma terra sem males. Depois de terrível peregrinação
náutica, o religioso enfim chegou a uma ilha “movediça, ressoante de sinos
sobre o velho mar”. Batizou-a de Hy Brazil, a Terra da Bem-Aventurança. Brazil
provém da palavra celta “bress”, origem do inglês “bless” − que quer dizer
“abençoar”. Portanto, o nome do Brasil nasceu não só da árvore abatida aos
milhões, mas também de uma ilha abençoada. A certeza de que a ilha do Brasil de
fato existia era tal que, até 1624, expedições ainda eram enviadas a sua
procura e o nome podia ser visto em mapas desenhados em 1721 por respeitáveis
cartógrafos europeus.
(Do livro “Brasil:
Terra à Vista”, de Eduardo Bueno)
Muito interessante. Bem informativo. Desconhecia essa informação do termo celta.
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