sábado, 14 de outubro de 2023

A origem de expressões populares brasileiras

 

Fazer uma vaquinha 

Usada quando um grupo de pessoas racha uma despesa comum, tudo indica que a expressão tenha sido criada pela torcida do Vasco. 

Na década de 1920, os fãs do time arrecadavam dinheiro para distribuir entre os jogadores em caso de vitória. O valor era inspirado em números do jogo do bicho e dependia do placar: uma vitória por 1 a 0 rendia um “coelho”, número 10 no jogo, e representava 10 mil réis. 

O prêmio mais cobiçado era justamente a “vaca” – número 25, que representava 25 mil réis para os atletas. Vale acrescentar que esse prêmio só era pago em caso de vitórias históricas. 171 

Esse termo que caiu na boca do povo para classificar os estelionatários e trambiqueiros em geral faz referência ao artigo 171 do Código Penal brasileiro. 

O texto estipula: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”. 

Chorar as pitangas 

É o ato de se queixar de algo, lamuriar. A explicação que Câmara Cascudo traz no livro Locuções Tradicionais do Brasil é a de que essa frase está associada à expressão portuguesa “chorar lágrimas de sangue”. 

A pitanga se assemelharia a uma lágrima e sua cor vermelha remeteria ao sangue. Uma adaptação à moda brasileira. 

Terminar em pizza 

O termo, que denota que algo errado deve acabar sem nenhuma punição, também surgiu no futebol. Na década de 1960, alguns dirigentes do Palmeiras já estavam há 14 horas reunidos discutindo assuntos do clube, quando a fome bateu. 

A solução foi terminar a reunião em uma pizzaria, onde a paz reinou depois de muita mussarela. O jornalista Milton Peruzzi, que acompanhava o imbróglio, registrou a seguinte manchete no Gazeta Esportiva: “Crise do Palmeiras termina em pizza”. 

Arroz de festa 

Duas explicações costumam ser dadas para essa expressão. A tradição de jogar arroz nos noivos na saída de um casamento é uma delas. A pessoa designada como arroz de festa estaria presente em tudo quanto é evento, assim como a chuva de arroz estaria lá em tudo quanto é casório. 

Já para Câmara Cascudo – e ele era especialista em expressões desse tipo – a culpa é do arroz-doce. A sobremesa era quase obrigatória nas festas do século 14, dado o paladar dos portugueses e brasileiros. 

Logo o acepipe virou sinônimo daquelas pessoas que não perdem uma confraternização por nada. Como o arroz-doce aos poucos deixou de ser a principal guloseima, a expressão se modificou e deixou no seu lugar o arroz de festa. 

Matar cachorro a grito 

O professor Ari Riboldi, no livro O Bode Expiatório 2, explica que os cães escutam sons inaudíveis para humanos, tanto de baixa, quanto de alta frequência. A faixa audível é tal que seria possível até mesmo matar esses animais pelo som, deixando-os enclausurados e ouvindo sons estridentes. O desesperado faria o animal se chocar contra a parede até a morte. Um horror sem limites. 

Chato de galocha 

Para quem nunca usou, a galocha é um tipo de calçado de borracha que se coloca por cima dos sapatos para protegê-los da chuva e da lama. 

Como ela tem a missão de reforçar o calçado, a primeira hipótese é de que a expressão tenha surgido justamente para destacar o quão insuportável uma pessoa pode ser: um chato resistente e reforçado. 

Não gostou? Pois a segunda hipótese é mais legal: antes das ruas serem asfaltadas, o uso de galochas era bem mais comum. As pessoas saiam à rua com elas, e era a primeira coisa que tiravam ao chegar em asa (ou na casa de alguém). 

Chatos de galocha seriam as visitas inconvenientes que, cheias de senso de importância, entravam na casa dos outros com galocha e tudo, lançando lama para todo lado. 

Está tudo como dantes no quartel d'Abrantes 

No início do século 19, Portugal foi tomado pelas forças de Napoleão Bonaparte por não obedecer a ordem de fechar seus portos aos ingleses. 

Uma das primeiras cidades a ser invadida foi Abrantes, onde o general Jean Andoche Junot instalou seu quartel sem grandes dificuldades. Como dom João VI e toda a corte portuguesa haviam fugido para o Brasil e a população não resistiu à invasão, a tranquilidade com que o general mantinha seu poder fez nascer a expressão “Está tudo como dantes no quartel d’Abrantes”, já que por lá nada parecia ter mudado. 

Corredor polonês 

Esse foi o nome dado à faixa de terra transferida da Alemanha para a Polônia em 1919, após o Tratado de Versalhes – o acordo de paz assinado após a 1ª Guerra. 

Com a ascensão do partido nazista e a chegada de Hitler ao poder, as forças armadas alemãs tomaram a região em 1939. Os poloneses foram encurralados pelo exército de Hitler, posicionado dos dois lados do “corredor”. Hoje, a expressão é usada para nomear uma passagem estreita formada por duas fileiras de pessoas. 

Erro crasso 

A cultura popular atribui a expressão aos equívocos do romano Marco Licínio Crasso, que em 53 a.C. perdeu a batalha de Carras (além da própria vida). 

Crasso dividiu o poder com Júlio César e Pompeu em 59 a.C., no período conhecido como Primeiro Triunvirato. Obcecado por conquistar o Império Parto, na Mesopotâmia, o cara atacou a cavalaria inimiga em campo aberto com uma infantaria romana e teve seu exército dizimado. 

Amigo da onça 

A expressão foi popularizada pela revista O Cruzeiro, que publicou de 1943 a 1961 o Amigo da Onça, personagem do chargista Péricles Andrade Maranhão. 

Sempre levando vantagem sobre os outros e colocando seus amigos em situações embaraçosas, o Amigo da Onça é a inspiração para a expressão utilizada até hoje. 

As paredes têm ouvidos 

Esse dito também encontrado em outros idiomas, como alemão, francês e chinês, remonta a um antigo provérbio persa que diz “As paredes têm ratos, e ratos têm ouvidos”. 

Um registro similar é encontrado no clássico medieval The Canterbury Tales, em que o autor, Geoffrey Saucer, descreve que “aquele campo tinha olhos, e a madeira tinha ouvidos”. 

Outra versão conta que a rainha Catarina de Médicis, esposa católica de Henrique II (rei da França) e perseguidora implacável dos huguenotes, protestantes franceses, fez furos nas paredes do palácio real para poder ouvir as pessoas das quais suspeitava. 

Custar os olhos da cara 

História de pescador ou verdade? A origem mais conhecida dessa expressão faz referência ao espanhol Diego de Almagro (1479-1538), um dos conquistadores da América, que perdeu um de seus olhos quando tentava invadir uma fortaleza inca. “Defender os interesses da Coroa espanhola me custou um olho da cara”, teria afirmado o conquistador ao imperador espanhol Carlos I. 

Elefante branco 

No livro O Bode Expiatório, Ari Riboldi conta que no antigo Reino de Sião (atual Tailândia) o elefante branco é considerado animal sagrado e deveria ser dado ao rei quando encontrado. 

O rei, por sua vez, presenteava os membros da corte com um desses raros animais. Apesar do custo e do grande trabalho em cuidar de um bicho desse tamanho, não pegava bem recusar o presente – afinal se tratava de um animal sagrado e um presente real. 

Obra cara e desnecessária para uma cidade.

Pagar o pato 

Vem da obra Facetiae, do italiano Giovanni Bracciolini (1380-1459). O texto do autor, figura importante no Renascimento italiano, conta a história de um camponês que vendia patos e certa vez uma mulher queria pagar os animais por meio de encontros sexuais com o vendedor. Na história, ambos foram surpreendidos pelo marido (quase) traído, que, sem concordar com o trato, pagou o pato em grana e encerrou a questão.

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