quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Que isso nunca mais volte a acontecer...

A ditadura em seu lugar

Museu chileno lembra que regime militar
é destino estúpido para uma nação.

Zeca Camargo*


(...)

Foi nela que embarquei numa manhã para o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, a apenas quatro paradas de onde eu estava.

E o que encontrei foi mais do que uma lição de história.

Visitando suas bem desenhadas e bem montadas galerias, renovei minha certeza de que um governo tomado à força por um golpe militar é um dos destinos mais estúpidos que uma nação pode encontrar.

Documentado em enormes painéis, telões interativos, vídeos de reportagens – e depoimentos de personagens que são reais demais para você achar que “aquilo só acontece nos livros de histórias” −, o golpe de 1973, que fez do Chile sob comando do general Augusto Pinochet uma das maiores vergonhas recentes na luta pelos direitos humanos, está ali muito vivo. E fresco o suficiente para nos lembrar que um governo de truculência é a desgraça de um povo.

Ao mesmo tempo em que os rostos (e as vozes) de pessoas desaparecidas durante o regime militar chileno emocionam, o museu é tão bem montado que não deixa esquecer como é fácil que uma atrocidade dessas se instale.

Você pode visitar tudo apenas como uma curiosidade, mas quem vive numa realidade politicamente desesperada como a que hoje assola o mundo não consegue evitar as conexões com a atualidade e chegar à inevitável conclusão de que ninguém com um mínimo de educação e informação pode querer isso para seu destino. Nem para sua família, nem para seu país.

E este lugar está ali justamente para educar e informar.

Limitar a ditadura e o regime militar à bruteza da estrutura de concreto do Museu da Memória, em Santiago, parece então não apenas adequado, mas traz até certa esperança.

A de que nós nunca repitamos, ainda mais com a ajuda de algo tão precioso como nosso voto, os horrores de um passado que só pode nos trazer um futuro destituído de tudo que seguimos lutando até hoje para consolidar: o respeito ao ser humano.

*Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”

(Folha de S. Paulo, 20 de setembro de 2018)

Um comentário:

  1. O que mais falta

    " Respeito ao Ser Humano."

    Que essa atrocidade nunca mais se repita.

    Está em nossas mãos.

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