A ditadura em seu lugar
Museu chileno lembra que regime militar
é destino estúpido para uma nação.
Zeca Camargo*
(...)
Foi nela que
embarquei numa manhã para o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, a apenas
quatro paradas de onde eu estava.
E o que
encontrei foi mais do que uma lição de história.
Visitando suas bem desenhadas e bem montadas
galerias, renovei minha certeza de que um governo tomado à força por um golpe
militar é um dos destinos mais estúpidos que uma nação pode encontrar.
Documentado em enormes painéis,
telões interativos, vídeos de reportagens – e depoimentos de personagens que
são reais demais para você achar que “aquilo só acontece nos livros de
histórias” −, o golpe de 1973, que fez do Chile sob comando do general Augusto
Pinochet uma das maiores vergonhas recentes na luta pelos direitos humanos,
está ali muito vivo. E fresco o suficiente para nos lembrar que um governo de
truculência é a desgraça de um povo.
Ao mesmo tempo em que os rostos (e as
vozes) de pessoas desaparecidas durante o regime militar chileno emocionam, o
museu é tão bem montado que não deixa esquecer como é fácil que uma atrocidade
dessas se instale.
Você pode visitar tudo apenas como
uma curiosidade, mas quem vive numa realidade politicamente desesperada como a
que hoje assola o mundo não consegue evitar as conexões com a atualidade e
chegar à inevitável conclusão de que ninguém com um mínimo de educação e
informação pode querer isso para seu destino. Nem para sua família, nem para
seu país.
E este lugar está ali justamente para
educar e informar.
Limitar a ditadura e o regime militar
à bruteza da estrutura de concreto do Museu da Memória, em Santiago, parece
então não apenas adequado, mas traz até certa esperança.
A de que nós nunca repitamos, ainda
mais com a ajuda de algo tão precioso como nosso voto, os horrores de um
passado que só pode nos trazer um futuro destituído de tudo que seguimos
lutando até hoje para consolidar: o respeito ao ser humano.
*Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao
Mundo”
(Folha de S. Paulo,
20 de setembro de 2018)
O que mais falta
ResponderExcluir" Respeito ao Ser Humano."
Que essa atrocidade nunca mais se repita.
Está em nossas mãos.