O povo na cruz
(Leandro Gomes de Barros)
Alerta Brasil! Alerta!
Desperta o sono pesado.
Abre os olhos que verás
teu povo sacrificado,
‒ Entre peste, fome e guerra ‒
de tudo sobressaltado.
O brasileiro, hoje em dia,
luta até para morrer,
porque depois dele morto
tudo nele quer roer.
De forma que até a terra
não acha mais o que comer.
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A fome come-lhe a carne,
o trabalho gasta o braço,
depois o governo pega-o,
há de partir o compasso:
‒ Estado, Alfândega, Intendência ‒
Cada um tira um pedaço.
Assim morre o brasileiro,
como bode, exposto à chuva
tem por direito o imposto.
A palmatória por luva:
A família só herda dele
nome de órfão e viúva.
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Tudo agora levantou
(José Costa Leite)
Excertos
O povo sofre desgosto
com seca, fome e imposto,
capim santo e tira-gosto.
Teve gente que deixou
bolacha, manteiga e pão,
fava verde e fruta-pão,
alho, cebola e carvão
tudo agora levantou.
Levantou colher-de-pau,
corvina e bacalhau
e aveia para mingau.
O preço também mudou,
enfiador e sapato,
ganso, guiné, galo e pato,
não vê nada barato,
tudo agora levantou.
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Subiu pressão e colchete,
brilhantina e sabonete.
Subiu gelada e sorvete,
caldo de cana aumentou
doce, peixe saboroso,
peixe seco catingoso
Até tabaco cheiroso
Tudo agora levantou.
Subiu lençol e toalha,
batata e chapéu de palha,
rabicho e pau de cangalha
faz tempo que alterou.
Subiu prego e subiu ripa,
barril, ancoreta e pipa,
até miolo de tripa
tudo agora levantou.
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A carestia solando o pobre
(Cícero Vieira da Silva)
Excertos
A gente vive pensando:
Meu Deus aonde vou parar
ganhando pouco dinheiro,
não dá pra gente passar.
A carestia é sem fim,
a vida é de amargar.
Subiu todos comestíveis,
subiu arroz e feijão.
Subiu carne, mortadela,
a linguiça, camarão.
Subiu ovos de galinha,
talharim e macarrão.
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A carestia no mundo
tem que apertar o nó.
Subiu café e o pão,
carne verde, mocotó
e a barriga dos pobres
breve vai para o gogó.
Ninguém sabe mais que faça
com a carestia no mundo.
A guerra vai arrebentar
em menos de um segundo.
Parece que o povo vai
se esconder no poço fundo.
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