O Madame Satã* de São Paulo
* Madame Satã (1900-1976) homossexual e famoso cafetão da Lapa, Rio de
Janeiro, dos anos 30 a
60.
Kaká di Poli e Cris
Negão,
com suas diversas marcas de tiros e facadas na Prohibidu's
com suas diversas marcas de tiros e facadas na Prohibidu's
→ Cristiane Jordan, ou Cris Negão
como era chamada, foi uma travesti cafetina do centro de São Paulo conhecida
por seus métodos violentos de controle das outras travestis. Odiada e temida
por uma legião, ela também tinha seus fãs, até que tragicamente foi assassinada
com dois tiros na cabeça. O filme é um mergulho no universo das travestis, a
partir dessa figura lendária do submundo de São Paulo.
(Sinopse do filme “Quem
tem medo de Cris Negão?”)
→ “Um moleque de um metro e meio,
de bermuda e chinelo, chegou, deu três tiros na cara da Cris Negão e saiu
andando. Sei lá se foi encomendado, se foi acerto de contas, problema com
ex-marido...”, conta a drag e amiga Kaká di Poli. Acabava aí a conturbada vida
de Cristiane Jordan, como preferia ser chamada a travesti que sucedeu Andreia
de Maio no comando do movimento em torno da prostituição de travestis do centro
de São Paulo. Cris foi baleada na noite de 6 de setembro de 2007, em frente ao
bar Elenice, na rua Rego Freitas.
→ Na foto que ilustra esse texto (uma das raras imagens de Cris), dá pra ver algumas das marcas de facadas e tiros que ela tinha pelo corpo todo, marcas das diversas tentativas de assassinato que sofreu. “Diziam que ela tinha o corpo fechado do pescoço pra baixo, e, por isso, não morria. Falavam que só iria embora se fosse atingida no rosto, o que aconteceu. Nessa noite, eu estava em casa com uns amigos e ouvimos uns fogos. Pensamos que era jogo de futebol, mas estavam comemorando o assassinato dela”, relembra o pesquisador de imagens Aldrin Ferraz, que mora na região há quase duas décadas. “Ela era muito violenta, o povo tinha medo. Cris tinha muitas inimizades na rua.”
→ Para quase todos que conheceram as duas chefonas, a poderosa Andreia de Maio, respeitada e temida em todo canto no centro, parecia um doce de coco se comparada a Cris Negão. Ambas cafetinavam travestis e conseguiam, cada uma a seu modo, manter certa ordem naquele submundo de transexuais, michês, clientes, policiais, traficantes e trombadinhas que compunham a região da rua Amaral Gurgel. “A Andreia ainda tinha essa história de ser uma personagem, aquela coisa romântica. Mas da Cris as pessoas não gostavam mesmo, tinham medo”, relembra Marcelo Ferrari, que dá vida à drag Marcelona. “E a Cris não era nada disso que a Andreia era, não tinha essa coisa assim de ser considerada uma personagem. Era apenas mais uma...”, relativiza a atriz transexual Claudia Wonder.
Multas e peruca
→ Com a morte de Andreia de Maio, em maio de 2000, Cris passou a comandar tudo com mão de ferro. Diferentemente de Andreia, bebia bastante, abusava da força e tinha o costume de sair cobrando o que chamava de “multas” (em dinheiro ou objetos), assim, do nada. “Uma vez, saindo com uma amiga drag de uma boate, ela chegou transtornada, nos parou sem motivo e falou assim: 'Nossa Pietra, adorei a minha peruca na sua cabeça'. Minha amiga entendeu o recado, sacou na hora as madeixas postiças da cabeça e deu pra ela”, lembra Aldrin. “Cris era isso mesmo: meio bandida, traficante e tudo mais. Mas punha ordem naquele pedaço”.
→ Depois que Cris se foi, encerrou-se de vez o ciclo de cafetinas-travestis-poderosas no centrão paulistano. Alguns ficaram aliviados, mas colegas como Kaká lamentam a perda. “Ela cafetinava, falava assim: 'você vai parar nesse ponto, trabalhar e tudo bem, mas vai me pagar R$ 30 por noite'. A bicha pagava, trabalhava e não tinha ninguém enchendo o saco. E, se aparecesse alguém pra encher, a Cris tocava dali”, relembra a drag. “Essas aí da rua hoje vivem sendo assaltadas, vivem apanhando, não tem mais ninguém pra proteger. A rua ficou solta, muita bandidagem. Esse mito da guardiã da noite das travestis e dos michês terminou mesmo com a Cris Negão”.
(Do blog Trip News)
Documentário “Quem
tem medo de Cris Negão?”, do diretor René Guerra
→ Cristiane Jordan, a última
cafetina travesti da região paulista da Amaral Gurgel, foi assassinada, com
dois tiros na cabeça, na noite de 06 de setembro de 2007, em frente ao bar
Elenice, na Rua Rego Freitas. Cris Negão, como era conhecida (apesar de preferir
ser chamada por Cristiane ou Cris Jordan), comandava o movimento em torno da
prostituição de travestis no centro de São Paulo. Para isso, abusava da força e
tinha o costume de cobrar “multas” por motivos aleatórios.
→ Através de depoimentos de
algumas travestis que conviveram com ela nas ruas da capital, conhecemos a
personalidade e irreverência dessa figura odiada e temida pela maioria, mas que
também tinha uma legião de fãs. São histórias emocionantes e, ao mesmo tempo,
engraçadas. Contam lembranças das ruas, por que Cris era temida, descrevem como
foi a última vez em que estiveram com ela e o que estavam fazendo na noite de
seu assassinato.
→ O documentário é uma espécie de
interrogatório. “Quero saber se é um policial ou um jornalista, porque aí a
entrevista é diferente”, fala uma das travestis logo no início do curta. “É um
policial”, responde uma voz de homem que se repete poucas vezes ao longo das
cenas. Outra prostituta conta que, na noite do assassinato, Cris iria dormir na
casa de sua Mãe de Santo, mas sem maiores explicações, decidiu que precisava
cuidar da rua. Pouco tempo depois, um menino de um metro e meio chegou por trás
de Cris e lhe deu dois tiros na nuca. “Ela ainda teve a pachorra de virar para
trás e dar uma bolsada no garoto. Essa era Cris Negão!”, revela.
(Jornal Comunicação –
jornal laboratório
da Universidade Federal do Paraná)
da Universidade Federal do Paraná)
Nenê, Valério Araújo,
Cris Negão, Kaká di Poli
e uma amiga na Val Improviso.
e uma amiga na Val Improviso.
As ricas e bem nascidas como Kaká Di Polly, Erika Palomino, a Kalil, amavam a Cris Negão porque nunca precisaram se virar nas esquinas pra garantir seu sustento. Cris, pra elas, era apenas uma figura folclórica e pitoresca, muito distante das suas realidades. Ela e a Andrea di Mayo. Agora pergunte às pobres travestis que eram obrigadas a se prostituir na rua e conviver com essas pessoas como elas realmente eram.
ResponderExcluirQue comentário cheio de bom senso, esse acima. Também escutei o mesmo de uma amiga travesti, que (segundo ela) já tinha sido "multada" pela temida Negão só por tê-la encarado rapidamente. Por duas vezes a vi na rua, era imensa, bastante feminina, mas com ar ameaçador, e sempre andava olhando para trás, meio desconfiada, com o seu meigo poodle branco. Virou personagem lendária da Boca do Lixo.
ExcluirNossa como a noite e cheio de mistérios história,vidas ,eu amo saber sobre tudo isso uma época que não vivi mais e cheio de coisas interessantes,Cris negão conheci ontem e e uma lenda da noite deixo sua marca na história
Excluir