Foto rara de Machado de Assis presidindo a ABL é
encontrada
Pesquisador divulgou
imagem do escritor feita em outubro de 1905.
Segundo ele, este é o único registro do autor na função já descoberto.
Segundo ele, este é o único registro do autor na função já descoberto.
→ Imagem encontrada por
pesquisador que diz ter encontrado o único registro de Machado de Assis (em
destaque sob a seta) presidindo uma sessão da ABL, em 31 de outubro de 1905
(Foto: Divulgação)
→ O próprio “descobridor” da foto
reconhece que a qualidade “é ingrata”. Mas vale pela raridade: trata-se do único
registro já encontrado do escritor Machado de Assis presidindo uma sessão da
Academia Brasileira de Letras (ABL), entidade fundada por ele. A imagem (veja
acima), que mostra uma reunião de 31 de outubro de 1905, vai ser reproduzida na
edição de dezembro na “Revista Brasileira”, publicação trimestral da ABL.
→ O pesquisador independente
Felipe Rissato, que encontrou a rara fotografia, explica que ela saiu
originalmente na revista “Leitura para Todos” em dezembro daquele ano. Mas
jamais foi republicada ou mencionada em qualquer arquivo.
→ “A própria Academia registra como documento iconográfico mais antigo de uma sessão pública a fotografia da sessão realizada em 17 de maio de 1909, já presidida por Rui Barbosa”, diz Rissato em entrevista ao G1 por telefone. De acordo com ele, a nova foto de Machado se torna agora “o registro iconográfico mais antigo de uma sessão da ABL”.
→ Na foto, Machado de Assis
aparece entre os acadêmicos Alberto de Oliveira e Silva Ramos. Eles o
auxiliavam no andamento da sessão que elegeu Mário de Alencar para ocupar a
cadeira nº 21 da ABL, vaga pela morte de José do Patrocínio.
→ Rissato explica como pôde assegurar
que é mesmo o autor de “Memórias póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro” na
imagem:
→ “A legenda [da revista]
auxilia, uma vez que dá a data exata da sessão, sobretudo por ser uma revista
contemporânea. Porém, mesmo que muito pouco, é possível divisar a face do
bruxo, ensanduichada entre os rostos de Alberto de Oliveira e Silva Ramos”.
→Ele justifica citando que a foto é bem semelhante a outra
feita em 1904 (veja abaixo).
Imagem de perfil do
escritor Machado de Assis em 1904
(Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)
→ A imagem de 1905 faz parte de
uma pesquisa iconográfica de Machado de Assis feita por Rissato. “O número 89
da 'Revista Brasileira' vai publicar ao todo 38 fotos”, descreve o pesquisador.
“Dentre elas, apenas uma é inédita, feita em 1880 pelo fotógrafo Isley Pacheco.
E será a primeira vez em que o conjunto estará reunido.”
→ Na edição 87 da “Revista Brasileira”, Rissato já havia divulgado uma crônica até então desconhecida na qual Machado de Assis lamentava a morte de sua mãe (veja abaixo). Intitulado “Lembranças de minha mãe”, o texto foi originalmente publicado em 1860 na revista “Revista Luso-Brasileira” e sem assinatura.
→ “Não era raro o Machado de
Assis escrever coisas anônimas e só depois comprovadas”, diz Rissato. “Neste
caso, foi porque é um tema tão triste, tão caro a todos nós, a perda da mãe.”
→ Crônica “Lembranças de minha
mãe”, publicada anonimamente em 1860 na 'Revista Luso-Brasileira' e republicada
em junho de 2016 na 'Revista Brasileira', da ABL; pesquisador abrui autoria a Machado
de Assis.
(Do Blog Pop &
Arte)
Lembranças de minha mãe*
*1849 – Morre, tuberculosa, Maria Leopoldina Machado de
Assis, mãe do escritor.
Minha mãe morreu tão cedo!...
Eu era pequeno, era
feliz; porque não conhecia os enganos do mundo, e os pesares da vida; inocente
corria entre as campinas, colhia flores e ia derramá-las sobre minha mãe,
saltava os regatos que encontrava no meu brincar, corria atrás da borboleta
azul, tratava com ela um combate que acabava pela vitória; adormecia sossegado
e feliz no meu berço inocente, embalado pelas cantigas e pelos beijos maternos
que nas faces recebia; eu dormia o sono da infância era feliz: oh! quem me dera
sempre viver assim! Anos depois, quando podia retribuir-lhe as suas carícias;
quando mais me era precisa a sua existência, a cruel sorte me a roubou; oh!
quanto sofro hoje que isolado do mundo, cansado da vida, não encontro o seu
seio para esconder as minhas lágrimas, e nem os seus hinos para adoçar-me as
dores.
Uma mãe!... Palavra
sublime, que enche o coração de prazer e entusiasmo, que eleva a alma a um
viver inocente e belo.
Uma mãe!...único cate
que nos ama no mundo, que compreende as nossas dores, que sofre quando
sofremos, que chora quando a nossa alma é triste, que se desespera quando
choramos, e que morre deixa o mundo de ilusões e prazeres para ir viver no
mundo das felicidades. – Dores reais; sofrer sincero.
Oh! como é triste existir
sem ter o elo que nos prende à vida, sem os afagos do verdadeiro amor, sem as
doçuras da verdadeira afeição. E haverá quem chore uma mãe?
Quem não sinta um vácuo
no coração quando uma lágrima se desliza sobre o túmulo de mãe! Quem não sofra
muito sem os cuidados desse anjo que o Senhor enviou à terra para ensinar-nos o
amor, o dever e a religião?
Oh! eu sou infeliz,
muito infeliz...
Aos 9 anos perdi minha
mãe, fiquei só no mundo, só como a rola sem ninho! Entre no mundo das ilusões e
dos enganos; sofri muito, descri muito. A sociedade egoísta e corrupta fez-me
descrer de todas as felicidades, de todo o amor sincero e verdadeiro, de toda a
virtude; porque já tinha perdido o único ente que me amava com amor sincero, e
a crença que me fazia feliz: fugido do mundo, entreguei-me à solidão e muito
chorei, porque não encontrei quem me acalentasse nos braços e mitigasse as
minhas dores.
‒ Não tinha mãe!
Como eu sofro!... minha
mãe, lá na mansão dos justos, lança a bênção sobre teu filho, pede a Deus pela
felicidade do padecente. Eu sem ti, sem o perfume da flor que me fazia feliz e
crente, chorarei sempre sem consolação; porque uma mãe perde-se uma vez e nunca
mais se encontra.
Este texto, se for mesmo de
Machado de Assis, foi escrito em 1860, quando ele tinha apenas 21 anos, talvez
a idade justifique a inocência e a ingenuidade do tema.
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