Por Antônio Goulart
Realejo na Praça da
Alfândega, em Porto
Alegre , nos anos 1920.
A geração deste milênio nunca viu um
realejo e provavelmente nem saiba do que se trata, embora tenha surgido na
Europa há mais de 200 anos. É o nome de uma caixa musical feita artesanalmente,
dotada de foles e um cilindro. Acionando um dispositivo e girando uma manivela,
podem-se ouvir vários tipos de música.
A finalidade do instrumento portátil
era atrair curiosos, que, mediante a introdução de uma moeda, viam um pequeno
periquito pegar com o bico um pedacinho de papel onde estava escrito algo
ligado ao futuro do interessado. Já foram utilizados macacos em lugar de
pássaros, daí por que o realejo era também conhecido como o mico da sorte.
Chegou ao Brasil, onde nunca foi
fabricado, no início do século passado. Segundo informações, no interior de São
Paulo e em alguns pontos do país, ainda hoje existem raros exemplares de
realejo, que são levados como atração a eventos, feiras e festas de casamento.
Mário Quintana (1906-1994), no livro Canções, de 1946, tem um poema que abre
com esta estrofe:
O outono toca
realejo
No pátio da
minha vida.
Velha canção,
sempre a mesma,
Sob a vidraça
descida...
Tristeza?
Encanto? Desejo?
Como é
possível sabê-lo?
Um gozo incerto
e dorido
De carícia a
contrapelo...
Partir, ó
alma, que dizes?
Colher as
horas, em suma...
Mas os
caminhos do Outono
Vão dar em
parte nenhuma!
João do Rio (1881-1921), numa crônica
sobre músicos ambulantes, cita o caso de um cidadão que compra um realejo com
bonecos mecânicos e, mediante certos truques, ganha muito dinheiro.
O escritor, estendendo-se sobre o
assunto, observa que há realejos que sustentam numerosas famílias, realejos
escravizadores, realejos solteiros e malandros e “realejos virgens prontos para
a fuga”.
Pode-se dizer que a tradição
folclórica do realejo está em
extinção. Quem possui um, guarda-o a sete-chaves e cuida
muito bem do instrumento.
(Do Almanaque Gaúcho
de Zero Hora, janeiro de 2018)
Exemplar bem conservado do instrumento portátil
É bem romântica a canção do realejo. Era num bairro afastado...
ResponderExcluirVelho realejo
ExcluirCustodio Mesquita e Sady Cabral
Naquele bairro afastado,
Onde em criança vivias
A remoer melodias
De uma ternura sem par.
Passava todas as tardes
Um realejo risonho.
Passava, como num sonho,
O realejo a tocar.
Depois, tu partiste,
Ficou triste a rua deserta.
Na tarde fria e calma,
Ouço ainda o realejo a tocar.
Ficou a saudade
Comigo a morar.
Tu cantas alegre e o realejo
Parece que chora com pena de ti.
Depois, tu partiste,
Ficou triste, a rua deserta.
Na tarde fria e calma,
Ouço ainda o realejo a tocar.
Ficou a saudade
Comigo a morar.
Tu cantas alegre e o realejo
Parece que chora, com pena de ti.