sábado, 13 de janeiro de 2018

Agostinho... do... Santos



Tive a sorte de conhecer, bem no início de minha carreira, o incrível cantor que foi Agostinho dos Santos. Era pra mim um mito de infância, aquela voz majestosa no filme Orfeu Negro, cantando maravilhas como Manhã de Carnaval e A Felicidade. Ao conhecê-lo, descobri que ele era também gente finíssima, engraçado e bem humorado, levando numa boa situações surrealistas, como uma em que se meteu em Sampa. Agostinho entrou num táxi, e o motorista era um fã seu incondicional, conhecia todo o seu repertório, e estava de fato encantado em atendê-lo. Não só não permitiu que ele pagasse a corrida, como conseguiu convencê-lo a ir até a sua (dele motorista) casa, para apresentá-lo à esposa: “ela vai ficar felicíssima, é doida por você, não vai acreditar que você andou no meu táxi”. A vaidade de artista falou mais alto, e Agostinho aceitou o convite, com a promessa de que seria levado de volta em seguida. Chegaram à casa do taxista, que abriu a porta e disse para a mulher, triunfante: “Olha só quem eu trouxe pra você conhecer!”. Ela olhou, desconfiada, não dizia uma palavra: em silêncio constrangedor. Impaciente, o marido insistiu: “É ele, pô, é o Agostinho dos Santos!” A mulher se desculpou, sem graça: “Sabe o que é, seu Agostinho, é que eu não tenho visto o Santos jogar ultimamente...”

(Do livro “Fotografei você na minha Rolleyflex”, de Joyce)


Nenhum comentário:

Postar um comentário