Nílson Souza
Minha compra na padaria totalizou R$ 23. Perguntei à moça do caixa se podia pagar com moeda sonante. Ela me olhou desconfiada, como se eu a estivesse submetendo a uma pegadinha. E estava mesmo. Sustentei o olhar sem dizer mais nada para induzi-la a falar o que eu já sabia que ia ouvir:
‒ O que é isso? ‒ questionou.
‒ Dinheiro, moça! Dinheiro vivo, ainda que nossas notas e moedas pareçam condenadas à morte pelo próprio Banco Central, que já cogita a criação de um mecanismo digital para sepultar também os cartões de débito e crédito. Em tempo de Pix e criptomoedas o dinheiro físico começa a ser visto com desconfiança ‒ e, às vezes, até com repugnância. Já vi gente passando álcool nas mãos depois de pegar uma cédula com a ponta dos dedos.
Pensei em explicar à minha interlocutora que o termo sonante vem de uma época antiga em que as transações financeiras eram legitimadas por moedas metálicas, especialmente de ouro e prata. Lançadas sobre um balcão ou uma mesa, ouvia-se o tilintar que assegurava a pureza do metal utilizado. Sonante, portanto, deriva daquele som inconfundível para os comerciantes pretéritos.
(...)
*******
*
Parte da crônica “A menina da raiz quadrada”, de Nílson Souza, no jornal Zero
Hora, novembro de 2023.
Nenhum comentário:
Postar um comentário