Juliana Bublitz
Charge do niniu – não consta na crônica, foi retirada da internet
A mãe que prepara a comida da família; a avó que veste o neto para a escola; a mulher que cuida da casa de outra mulher para que esta também possa ganhar o seu dinheiro... tudo isso é trabalho.
Curioso é que ganhou a fama de “invisível”, não porque não aconteça, mas por ser desvalorizado e, em geral, não remunerado. Muitas vezes, a atividade nem mesmo é classificada como trabalho.
Só que essa dedicação toda é fundamental para mover a roda da economia e sustentar carreiras. Sem isso, muita gente não poderia sequer ter um ganha-pão, em especial a parcela dos homens que ainda está alheia às funções domésticas ou que se limita a dizer que “ajuda” em casa – como se a casa não fosse dele.
Por sorte, isso está ficando no passado, e as tarefas são cada vez mais divididas. Há homens que também fazem dupla jornada no cuidado com os filhos, inclusive com a guarda compartilhada. O mundo está mudando, mas as mudanças de cultura são lentas. E são ainda mais difíceis nas áreas periféricas.
Não é por menos que a “economia do cuidado” – outro nome dado ao trabalho invisível – anda ganhando espaço em reportagens, podcasts, pesquisas acadêmicas e até na redação de Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no último domingo (05.11.2023).
O enunciado, é verdade, não ajudou muito. Ficou truncado. No lugar de “desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”, daria para resumir a frase de forma mais clara.
No fundo, o que vale é: passou da hora de reconhecer a jornada múltipla de quem não cuida apenas de si, mas de famílias inteiras, indo ao supermercado, preparando refeições, lavando roupa, fazendo faxina, olhando pelos idosos, dando banho nas crianças e botando a turma para dormir.
Se você tem alguém assim por perto, valorize, apoie e divida a carga. Essas pessoas fazem o mundo girar.
(Do jornal Zero Hora, novembro 2023)
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