“Sim, Elvis morreu.”
Caricatura da internet
Elvis Presley:
8 de janeiro de 1935 - 16 de agosto de 1977
Elvis Presley:
8 de janeiro de 1935 - 16 de agosto de 1977
→ Quarenta anos após a morte de
Elvis Presley, o médico brasileiro, Raul Lamim, explica como foi chegar num dia
normal de residência em Memphis e encontrar o corpo do ídolo na sala de
necropsia.
P.: O que o senhor fazia em
Memphis na época em que Elvis Presley
morreu?
R.: Fiz minha residência e tese
de mestrado lá. Cheguei em 1973, com 29 anos.
P.: Como foi o dia da morte?
R.: Não sei como foi a chegada
dele ao hospital. Quando apareci naquele dia, a secretária avisou que um corpo
muito importante estava ali.
P.: E depois?
R.: Quando ela disse que era o
corpo de Elvis Presley, não acreditei. Fomos – eu e outro médico – ao
necrotério, e era mesmo Elvis. A fisionomia era de uma pessoa serena. Eu queria
fugir dessa responsabilidade. Você já pensou fazer necropsia numa personalidade
endeusada pelo mundo inteiro? Fiquei em choque. Era como fazer a necropsia do (John F.) Kennedy. Deus me livre!
P.: Havia fã na porta do
hospital?
R.: Sim, havia muitas pessoas
segurando cartazes e carros de TV. Mais tarde soube que um programa de grande
audiência, uma espécie de Brasil Urgente, do Datena, nos Estados Unidos, tinha
oferecido 1 milhão de dólares para ter acesso ao relatório da necropsia. Mas
ninguém teve.
P.: Qual foi a causa da morte?
R.: Abrimos o corpo e examinamos
órgão por órgão. Não havia lesão pulmonar, cardíaca nem hepática; não achamos
um infarto nem infecção. Nada. Nem diabetes ele tinha, mesmo comendo um monte
de porcaria, como sanduíche de manteiga de amendoim com banana. Elvis talvez
tenha apresentado um problema respiratório, pela forma como foi encontrado: no
chão do banheiro, com a face voltada para o carpete e a boca entreaberta, como
se estivesse à procura de ar. Mas a necropsia não apontou uma causa específica.
P.: O senhor era fã de Elvis?
R.: Quem não era? Até hoje os
fãs-clubes me convidam para conversar, mas não tenho tempo. Eu ouvia todas as
músicas dele. Always on My Mind é a
minha preferida. Havia programado ir ao meu primeiro show do Elvis, em Memphis,
com o pessoal do hospital. Infelizmente, esse show nunca aconteceu. A vida dele
era muito difícil, coitado. Ele vivia preso em uma gaiola de ouro cravejada de
diamantes. Deve ter sido muito triste.
P.: Então, Elvis morreu mesmo?
R.: Sim, ele chegou morto ao
hospital. Se tivesse chegado vivo, nós o teríamos matado ao abrir o corpo para
a necropsia.
Caricatura da internet
(Matéria da revista Veja, agosto
de 2017)
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