sábado, 4 de maio de 2024

Grandes canções

 Gente humilde

“Gente Humilde”, é considerada um choro, foi composta somente com melodia por “Garoto”, Aníbal Augusto Sardinha (1915-1955). Mais tarde, em 1969, recebeu letra composta por Vinícius de Moraes e Chico Buarque. 

“Gente Humilde” teria surgido durante uma visita de Garoto a um subúrbio carioca. De repente, ao observar aquelas pessoas e suas casas modestas, ele resolveu homenageá-las numa canção. Tempos depois, a gravaria num acetato para o professor mineiro Valter Souto, registro que asseguraria a sobrevivência da composição, mantida inédita em disco comercial. 

Finalmente, quase quinze anos após a morte de Garoto, Baden Powell mostrou-a a Vinícius de Moraes que, apaixonando-se pelo tema, deu-lhe uma letra em parceria com Chico Buarque. Aliás, uma letra primorosa que, segundo o próprio Chico, é quase toda de Vinicius: “São casas simples, com cadeiras na calçada / e na fachada escrito em cima que é um lar / pela varanda, flores tristes e baldias / como a alegria que não tem onde encostar...” 

Fonte: Museu da Música 

(...) 

Convidados por Elis Regina a participar do programa O Fino da Bossa, Vinícius e Baden passaram a fazer constantes viagens a São Paulo de trem, que eles chamavam carinhosamente de “avião dos covardes”. Na volta, quando o trem passava pelos subúrbios cariocas, o tema de Garoto lhe vinha à cabeça. Continua Vinicius: 

Eu sentia aquele tema tão ligado àquele mundo empoeirado, àquela gente sem vez, àqueles velhinhos de pijama nas varandas. Eu sentia que naquele tema Garoto queria falar daquela gente do subúrbio, e eu só sei que um dia, há três anos, fui à Roma receber minha afilhadinha, a filha de meu compadre e querido amigo Chico Buarque e nessa ocasião, um dia, em casa de Chico, o tema veio, as palavras saíram, eu chamei meu compadre, a gente juntou as cabeças e a canção saiu. 

A participação de Chico Buarque na letra é pequena. Segundo Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello (A Canção no Tempo-vol 2, pg 154. Editora 34), a letra é quase toda de Vinicius. Esta questão é esmiuçada por Wagner Homem no livro História das Canções (Leya-SP-2009). De acordo com ele, no encontro com Chico Buarque em Roma: 

(Do blog Violão Brasileiro)


Gente Humilde 

(Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque) 

Tem certos dias em que eu penso em minha gente

E sinto assim todo o meu peito se apertar

Porque parece que acontece de repente

Como um desejo de eu viver sem me notar

Igual a como quando eu passo no subúrbio

Eu muito bem vindo de trem de algum lugar

E aí me dá como uma inveja dessa gente

Que vai em frente sem nem ter com quem contar

 

São casas simples com cadeiras na calçada

E na fachada escrito em cima que é um lar

Pela varanda, flores tristes e baldias

Como a alegria que não tem onde encostar

E aí me dá uma tristeza no meu peito

Feito um despeito de eu não ter como lutar

E eu que não creio peço a Deus por minha gente

Que é gente humilde, que vontade de chorar.

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