segunda-feira, 6 de maio de 2024

Nasce uma estrela

 O dia que eu descobri que cantava 

Elza Soares

O meu filho mais velho João Carlos estava morrendo e eu já tinha perdido dois filhos e não queria perder mais um. 

Eu não tinha dinheiro pra cuidar do meu filho e ouvi no rádio que o programa do Ary Barroso de calouros Nota 5, estava com o prêmio acumulado. Não sei como, mas eu sabia que ia buscar esse prêmio! 

Fiz a inscrição e me avisaram que eu precisava ir bonita. Mas eu não tinha roupa nem sapatos, não tinha nada! Então, eu peguei uma roupa da minha mãe, que pesava 60 kg e vesti, só que eu pesava 32 kg, já viu né? Ajustei com alfinetes. Tudo bem que agora é moda né? Hoje até a Madonna usa, mas essa moda aí fui eu que comecei viu? Alfinetes na roupa é muito meu, é coisa de Elza! 

No pé coloquei uma sandália que a gente chamava de “mamãe tô na merda”, e fui!

Quando me chamaram, levantei e entrei no palco do auditório. O auditório tava lotado, todo mundo começou a rir alto debochando de mim. 

Seu Ary me chamou e perguntou: 

‒ O que você veio fazer aqui? 

‒ Eu vim Cantar! 

‒ Me diz uma coisa, de que planeta você veio? 

‒ Do mesmo planeta seu, Seu Ary! 

‒ E qual é o meu planeta? 

‒ PLANETA FOME! 

Ali, todo mundo que estava rindo viu que a coisa era séria e sentaram bem quietinhos. 

Cantei a música “Lama”. 

O Gongo não soou e eu ganhei, levei o prêmio e meu filho está vivo até hoje, graças a Deus! 

De lá pra cá, sempre levo comigo um Alfinete. 

Naquela época, eu achava que se tivesse alimentos pros meus filhos, não teria mais fome. O tempo passou e eu continuei com fome, fome de cultura, de dignidade, de educação, de igualdade e muito mais, percebo que a fome só muda de cara, mas não tem fim. 

Há sempre um vazio que a gente não consegue preencher e talvez seja essa mesma a razão da nossa existência. 

Crédito: @filosofia e literatura 

Lama 

Aylce Chaves e Paulo Marques 

Se quiser fumar, eu fumo,

Se quiser beber, eu bebo,

Não interessa a ninguém,

Se o meu passado foi lama,

Hoje quem me difama,

Viveu na lama também.

 

Comendo da minha comida,

Bebendo a mesma bebida,

Respirando o mesmo ar.

E hoje, por ciúme ou por despeito,

Achastes com direito de querer me humilhar.

 

Quem és tu?

Quem foste tu?

Não és nada!

 

Se na vida fui errada,

Tu foste errado também.

Não compreendeste o sacrifício,

Sorriste do meu suplício

Me trocando por alguém.

 

Se errei, se pequei,

Pouco importa!

Se a estas horas estou morta,

Pra mim, morreste também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário