No dia 15 de novembro de 1889, D.
Pedro de Alcântara estava em
Petrópolis. Na véspera tivera notícias da demissão do Ministro
Ouro Preto e sabia que havia movimento de tropas nas ruas do Rio de Janeiro. A
princípio, o Imperador não se mostra muito abalado, tanto que dormiu até mais
tarde, fora de seus hábitos, mas quando se cientificou de que na Corte uma
rebelião estava em marcha, reuniu a família e, num trem especial, deixou
Petrópolis, dirigindo-se ao Palácio do Rio de Janeiro. No próprio dia 15,
resolveu convocar os demais Conselheiros, que foram ao Palácio discutir os
acontecimentos com o Imperador, após o que várias demarches foram tentadas.
Tudo sem resultado.
No dia seguinte, 16, por volta das 15
horas, com o Paço completamente cercado por forças de cavalaria, chegou o
major-comandante da referida arma, Frederico Solon Sampaio Ribeiro, acompanhado
de mais três oficiais subalternos pedindo para falar ao Imperador. Recebidos
pelo monarca, o major Solon entregou-lhe uma carta assinada pelo marechal
Deodoro. A mensagem tinha o seguinte teor:
“Os
sentimentos democráticos da nação há muito preparados, havia agora despertado.
Obedecendo, pois, às exigências do voto nacional, com todo o respeito à
dignidade das funções públicas que acabais de exercer, somos forçados a
notificar-vos que o Governo Provisório espera do vosso patriotismo o sacrifício
de deixardes o território brasileiro com a vossa família no mais breve prazo
possível”.
Era a
expulsão do homem que havia governado o Brasil durante 35 longos anos.
Mais ou menos ao meio-dia de 17, o
Imperador, seus familiares e alguns políticos embarcaram na lancha “Parnaíba”,
que os conduziu até a bordo do paquete “Alagoas”, o qual, na noite de 17 para
18, iniciou viagem para Lisboa, levando para sempre de sua pátria a D. Pedro
II, o Magnânimo.
Um mês depois morria na capital portuguesa
a Imperatriz D. Tereza Cristina, evento que deixou D. Pedro profundamente
chocado. Seguindo para Paris, hospedou-se num modesto hotel da Rua de La Árcade
(tinha recusado a dotação de cinco mil contos que lhe havia destinado o Governo
da República para as suas despesas) e, ali, dois anos depois, em 5 de dezembro
de 1891, falecia, aos 66 anos de idade, cercado do apreço e da consideração das
maiores figuras da época, na ciência, nas letras, nas artes, da Europa.
Seu corpo foi, primeiramente,
transladado para o cemitério de São Vicente de Fora, em Lisboa. Porém , anos
mais tarde, foi trazido, junto como da Imperatriz, para o Brasil, jazendo agora
na catedral de Petrópolis.
Cumpriu-se, assim, a profecia do
soneto famoso do Imperador poeta: “A
justiça de Deus na voz da história”.
(Amaro Júnior –
Almanaque do Correio do Povo – 1979)
Dois sonetos de D. Pedro II
Ingratos
Não maldigo o rigor da iníqua
sorte,
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dois passos só estou da morte.
Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contínua f'licidade
E amanhã nem ‒ um bem que nos conforte.
Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,
É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs ‒ outrora.
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dois passos só estou da morte.
Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contínua f'licidade
E amanhã nem ‒ um bem que nos conforte.
Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,
É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs ‒ outrora.
Terra do Brasil
Espavorida agita-se a criança,
De noturnos fantasmas com receio,
Mas se abrigo lhe dá materno seio,
Fecha os doridos olhos e descansa.
Perdida é para mim toda a esperança
De volver ao Brasil; de lá me veio
Um pugilo de terra; e neste creio
Brando será meu sono e sem tardança...
Qual o infante a dormir em peito amigo,
Tristes sombras varrendo da memória,
Ó doce Pátria, sonharei contigo!
E entre visões de paz, de luz, de glória,
Sereno aguardarei no meu jazigo
A justiça de Deus na voz da história!
De noturnos fantasmas com receio,
Mas se abrigo lhe dá materno seio,
Fecha os doridos olhos e descansa.
Perdida é para mim toda a esperança
De volver ao Brasil; de lá me veio
Um pugilo de terra; e neste creio
Brando será meu sono e sem tardança...
Qual o infante a dormir em peito amigo,
Tristes sombras varrendo da memória,
Ó doce Pátria, sonharei contigo!
E entre visões de paz, de luz, de glória,
Sereno aguardarei no meu jazigo
A justiça de Deus na voz da história!
Biografia resumida de D. Pedro II
D. Pedro II em
retrato do pintor Delfim da Câmara, em 1875
→ Pedro de Alcântara João Carlos
Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Gonzaga
(2/12/1825 ‒ 5/12/1891) nasce na cidade do Rio de Janeiro, sétimo filho de dom
Pedro I e da imperatriz Maria Leopoldina.
→ Herda o direito ao trono com a
morte dos irmãos mais velhos, Miguel e João Carlos. Tem 5 anos quando o pai
abdica.
→ É coroado aos 15, em 1841.
→ Em 1843 casa-se com a princesa
Teresa Cristina Maria de Bourbon, filha de Francisco I, rei das Duas Sicílias.
→ Interessado pelas letras e
pelas artes, mantém correspondência com cientistas europeus, entre eles Pasteur
e Gobineaude, e protege os intelectuais e escritores.
→ Durante seu reinado, viaja para
várias partes do mundo, conhecendo quase toda a Europa, os Estados Unidos e o
Canadá.
→ Calmo e inteligente, é
prestigiado pelo progresso que promove na economia brasileira com a introdução
da produção cafeeira e a ampliação da rede ferroviária e de telégrafo.
→ Governa o país até o fim do
Império. No dia 15 de novembro é confinado ao Paço da Cidade do Rio de Janeiro,
onde recebe a mensagem do governo provisório sobre a proclamação da República
com tranqüilidade.
→ Lê revistas e faz versos,
conforme revela posteriormente em seu diário.
→ Viaja para Portugal dois dias
depois da proclamação da República, debilitado pela diabete. Recuperado da
doença, passa a viver entre as cidades francesas de Paris, Cannes e Versalhes,
onde assiste a espetáculos de arte e participa de palestras e conferências.
→ Morre de pneumonia em Paris, no
Hotel Bedford, em 5 de dezembro de 1891, aos 66 anos de idade.
(Do Blog Só História)
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