Raul Annes Gonçalves
Também chamado chimarrão, entre os
campeiros é mais conhecido por mate, simplesmente. O mate é feito e tomado
pelos gaúchos somente em cuia proveniente do porongo. Porém, as mulheres
utilizam também caneco de barro ou alouçado e cuias feitas de madeira para
tomarem seu mate doce. São só as mulheres que tomam mate com açúcar. Elas
também apreciam o mate de leite, isto é, em vez de água, o mate é enchido com
leite quente, já preparado com açúcar, canela e erva-doce. O mate de leite é
tomado de preferência pela tarde, acompanhado com pão, bolacha ou biscoitos
entre visitas íntimas, vizinhas ou comadres.
O gaúcho toma o seu mate-amargo pela
madrugada. Porém, quando de folga, toma-o a qualquer hora. Em seu rancho ao
chegar uma visita ou algum forasteiro, é logo obsequiado com um amargo. O
gaúcho costuma pôr na chaleira, destinada ao mate, algum “juju”, isto é, casca
de certas árvores, raízes ou folhas de ervas que servem como medicamento.
O mate é tomado no galpão, entre
peões, e é enchido só por um deles, sendo passado de mão em mão, sempre da
direita para a esquerda. Mas, se na roda houver pessoa de categoria mais
elevada, ou mesmo o patrão, a este é oferecido o mate em primeiro lugar.
O mate tomado na sala, entre pessoas
de cerimônia, nunca é enchido no próprio recinto.
Neste caso, cabe a uma mulher, de
preferência uma das filhas do dono da casa, já moça, “tranquerar” o mate da
cozinha para a sala.
Nunca usam duas cuias na mesma roda
de chimarrão, salvo em acampamento, quando o número de pessoas é grande.
Ao se agradecer o mate, é de praxe
fazê-lo ao entregar a cuia e não ao recebê-la das mãos do enchedor.
Quem, ao receber o mate, estando meio
apertado ou entupido e sendo enchido por outro, não deve procurar corrigi-lo.
Isso seria uma falta de atenção para com o enchedor. Neste caso, o direito é
devolvê-lo a quem estiver enchendo e desculpando-se, pedir que o arrume.
O mate bem cevado sempre conserva um
morrão de erva seca na boca da cuia. Essa erva deve ser depositada ao lado
esquerdo de quem toma o mate. Se estiver à direita, o mate é canhoto, pois para
enchê-lo, é forçoso despejar-se a água da chaleira por cima do morrão e isso
não fica bem.
Ao entregar a cuia, depois de haver
tomado o mate, não se deve levantar do banco ou do assento para tal, mesmo
tratando-se de pessoas de cerimônia ou desconhecida. Basta fazer um simples
gesto, estirando o braço, fazendo ver ao enchedor seu desejo de lhe entregar a
cuia. A pessoa que estiver enchendo o mate é que atravessa a sala para entregar
ou receber a cuia.
É também de bom costume, ao terminar
o mate, fazer roncar a cuia, discretamente. Isto serve para advertir a quem
estiver enchendo o mate, que este está tomado. Nunca se deve entregar o mate
sem tê-lo tomado totalmente.
A cuia nunca deve passar de um dia
para outro com erva. Isto faz com que o porongo fique com cheiro e gosto de
azedo. Para tirar-se o azedo de uma cuia basta, antes de iniciar um novo mate,
colocar dentro do porongo algumas brasas, despejando logo água fria em cima.
O mate sempre foi uma aproximação e
oportunidade para os namorados, pois, ao receber ou devolver a cuia, sempre
havia facilidade de se tocarem os dedos, sem serem percebidos por terceiros que
estivessem na sala.
No galpão, quando se colocava a
chaleira sobre tições em vez de pôr no gancho ou na trempe, alguém logo lembra
este adágio: “Chaleira em cima do tição, tomaremos mate ou não.”
(Em Almanaque do
Correio do Povo – 1975)
Nenhum comentário:
Postar um comentário