Gambrinus, mais de um século de tradição
por Emílio Chagas
Considerado um restaurante
tradicionalíssimo de Porto Alegre, além de ser o mais antigo em atividade,
inclusive no estado (e o terceiro no Brasil), o Gambrinus foi fundado em 1889. Ou
seja, vem atravessando gerações, sendo uma marca da cidade e do próprio Mercado
Público, com o qual a sua história se confunde.
O restaurante foi fundado em 1889 por
uma confraria de alemães que se reunia para tomar cerveja, chope e confraternizar.
“Isso durou até os anos 20, provavelmente. Depois, uma família italiana assumiu
o negócio e, a partir de 1964, minha família, vinda de Portugal, passou a
gerenciar a casa. Eram meu pai, João Dias de Melo e Antonio Dias de Melo, meu
tio”, diz João Alberto Cruz de Melo, o atual proprietário. No Mercado desde
1989, João entrou no Gambrinus para dar continuidade ao trabalho do pai, que
falecera um ano antes. Até a chegada da sua família, o Gambrinus era apenas
mais um bar no Mercado. Quando os portugueses chegaram, começou a mudança com
um novo visual, transformando a casa em restaurante. A
referência, segundo João Alberto, era a tradição que o Treviso (antigo
bar-restaurante, reduto máximo da boemia no Mercado) tinha. “A partir daí, o
Gambrinus começou a mudar, atendendo mais famílias, pessoas que trabalhavam
aqui na volta, bancários, corretores, agências. O público melhorou”, diz o
proprietário. A cozinha ainda mantém características da culinária portuguesa,
alguma coisa de comida alemã, mas, segundo João, a casa se considera mesmo como
sendo um lugar de cozinha brasileira: “Temos muita coisa da comida regional, do
Sul do Brasil e de outras regiões”.
Pratos, bebidas e um público fiel
A clientela do Gambrinus costuma ser
muito fiel, com frequentadores de muitos anos. E de várias gerações. “Tem um
pouco de cada público. Como a gente está no Mercado, tem um viés turístico
muito forte. Durante a semana é o executivo que trabalha e está na correria do
dia a dia, à tarde é o pessoal que vem para um happy hour. E no sábado é mais
familiar: aquele cliente que vem durante a semana, acaba trazendo a família e
aproveita para fazer as compras no Mercado”, revela. A casa tem uma carta de
vinho bem extensa, com mais de 120 rótulos, com foco nos vinhos portugueses,
além dos chilenos, argentinos e brasileiros. Prato forte? “A gente trabalha
muito com filés de peixes – linguado, salmão, congrio, todos que a gente pega
aqui mesmo no Mercado, bem fresquinhos.” Também tem os pratos do dia, alguns
bem tradicionais, como a feijoada, nas segundas-feiras, rabada nas terças,
almôndegas nas quartas, costela de panela nas quintas e, nas sextas, a tainha
recheada. Além dessas delícias, as carnes, como filé mignon, picanha, chuleta e
uma grande variedade para todos os gostos.
Uma referência na cidade, o Gambrinus
recebe a visita de muita gente famosa. Artistas, cantores, escritores,
políticos, autoridades, entre outros, são vistos com frequência em suas mesas.
Para dar conta de toda a demanda, a casa conta com um pequeno batalhão de 16
pessoas, entre elas dois garçons muito conhecidos e com longa data no
Gambrinus, como José Carlos Lopes Tavares, o Zezinho e Jorge Alberto Bueno de
Oliveira, o popular “Vovô”, possivelmente o garçom mais antigo da cidade.
Lugar de reconhecida
importância cultural e histórica, além dos seus famosos pratos, mantém ainda a
cadeira onde o cantor Francisco Alves, “o rei da voz”, costumava sentar,
pendurada na parede – coisas de um restaurante secular.
A família Melo, atuais
proprietários do Gambrinus.
Fotos: Emílio Chagas
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