quarta-feira, 9 de março de 2016

Duas charadas sobre cavalos

José Luiz Pastore Mello - especial para a Folha de S.Paulo


Certo dia, recebi uma intrigante correspondência com os seguintes dizeres:

“Sr. José, sei o cavalo que irá ganhar no sábado no quinto páreo. Aposte no cavalo 3 e fique rico”.

Não tenho o hábito de apostar em cavalos, mas dei uma olhada na página de esportes para ver o resultado das corridas do sábado e descobri que a misteriosa carta havia me dado o palpite correto. Antes mesmo que eu pudesse refletir sobre o estranho episódio, recebi outra carta:

“Sr. José, sei o cavalo que irá ganhar no sábado no quinto páreo. Aposte no cavalo 7 e fique rico”.

Ainda desconfiado, abri o jornal no dia seguinte e uma nova surpresa: vitória do cavalo 7 no quinto páreo.

Sem saber ao certo o que estava acontecendo, recebi a terceira carta:

“Sr. José, sei o cavalo que irá ganhar no sábado no quinto páreo. Aposte no 4 e fique rico”.

Fui ao Jockey, apostei alguns trocados e ganhei!

A fortuna parecia estar próxima. Fiquei aguardando ansiosamente uma nova carta, que chegou na semana seguinte, com os seguintes dizeres: 

“Caro amigo, graças aos meus conhecimentos você deve estar rico. Caso queira outra informação, encontre-me sábado no Jockey com a quantia de R$ 1.000,00 e lhe direi o cavalo vencedor”.

Não resisti à tentação e fui ao encontro do tal indivíduo que, após receber o dinheiro, me recomendou o cavalo 9. Fiz a aposta e... perdi tudo com a vitória do cavalo 2.

A história que acabo de contar é fruto de um famoso golpe. O golpista selecionava na lista telefônica o nome de 1.000 pessoas. Para um grupo de 100 pessoas, ele mandava uma carta dizendo que a pessoa deveria apostar no cavalo 1 de um páreo qualquer; para outro grupo de 100 pessoas, ele indicava o cavalo 2 no mesmo páreo e assim sucessivamente até o cavalo 10. Sendo que em cada páreo corriam dez cavalos, um grupo de 100 pessoas acertaria o vencedor. Essas pessoas eram divididas em grupos de 10 e, seguindo os mesmos procedimentos da correspondência anterior, 10 pessoas acertariam o cavalo vencedor. As 10 pessoas eram divididas em grupos de 1 pessoa, sendo que uma delas acertaria pela terceira vez o cavalo vencedor. Essa pessoa recebia a carta final com o pedido de R$ 1.000 em troca de um novo palpite. O golpe foi descoberto e rendeu alguns anos de prisão ao estelionatário.


Sam Loyd - 1841 - 1911


Sam Loyd*, um dos maiores charadistas americanos, encontrou uma maneira mais honesta de ganhar dinheiro com cavalos por meio da figura acima, que foi patenteada em 1846 e vendida como o seguinte quebra-cabeça: recortando a figura nas linhas tracejadas, você formará três retângulos, cuja disposição correta (sem dobrar) fará com que os jóqueis fiquem exatamente sobre os cavalos. Recorte e tente você!

Essa charada encerra nossa coluna com votos de que o espírito lúdico da matemática esteja sempre presente na vida de todos os leitores.

José Luiz Pastore Mello é professor de matemática 
do colégio Pueri Domus

*O norte-americano Samuel Loyd (1841-1911) é hoje considerado por muitos o maior charadista de todos os tempos. Como adolescente ele já ganhava muito dinheiro formulando enigmas e reinventando antigos. Seus quebra-cabeças podem ser encontrados na obra Cyclopedia of Puzzles, editado por seu filho, também chamado de Sam Loyd. Alguns desses quebra-cabeças podem ser encontrados, em português, no livro 100 Puzzles Matemáticos, de Sam Loyd (Coleção Arte de Viver – Publicações Europa-América).




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