José
Luiz Pastore Mello - especial para a Folha de S.Paulo
Certo
dia, recebi uma intrigante correspondência com os seguintes dizeres:
“Sr. José, sei o cavalo que irá ganhar no sábado no quinto páreo. Aposte no cavalo 3 e fique rico”.
Não
tenho o hábito de apostar em cavalos, mas dei uma olhada na página de esportes
para ver o resultado das corridas do sábado e descobri que a misteriosa carta
havia me dado o palpite correto. Antes mesmo que eu pudesse refletir sobre o
estranho episódio, recebi outra carta:
“Sr.
José, sei o cavalo que irá ganhar no sábado no quinto páreo. Aposte no cavalo 7
e fique rico”.
Ainda desconfiado, abri o jornal no dia seguinte e uma nova surpresa: vitória do cavalo 7 no quinto páreo.
Sem
saber ao certo o que estava acontecendo, recebi a terceira carta:
“Sr. José, sei o cavalo que irá ganhar no sábado no quinto páreo. Aposte no 4 e fique rico”.
Fui
ao Jockey, apostei alguns trocados e ganhei!
A
fortuna parecia estar próxima. Fiquei aguardando ansiosamente uma nova carta,
que chegou na semana seguinte, com os seguintes dizeres:
“Caro amigo, graças aos meus conhecimentos você deve estar rico. Caso queira outra informação, encontre-me sábado no Jockey com a quantia de R$ 1.000,00 e lhe direi o cavalo vencedor”.
Não resisti à tentação e fui ao encontro do tal indivíduo que, após receber o
dinheiro, me recomendou o cavalo 9. Fiz a aposta e... perdi tudo com a vitória
do cavalo 2.
A
história que acabo de contar é fruto de um famoso golpe. O golpista selecionava
na lista telefônica o nome de 1.000 pessoas. Para um grupo de 100 pessoas, ele mandava
uma carta dizendo que a pessoa deveria apostar no cavalo 1 de um páreo
qualquer; para outro grupo de 100 pessoas, ele indicava o cavalo 2 no mesmo
páreo e assim sucessivamente até o cavalo 10. Sendo que em cada páreo corriam
dez cavalos, um grupo de 100 pessoas acertaria o vencedor. Essas pessoas eram
divididas em grupos de 10 e, seguindo os mesmos procedimentos da
correspondência anterior, 10 pessoas acertariam o cavalo vencedor. As 10
pessoas eram divididas em grupos de 1 pessoa, sendo que uma delas acertaria
pela terceira vez o cavalo vencedor. Essa pessoa recebia a carta final com o
pedido de R$ 1.000 em troca de um novo palpite. O golpe foi descoberto e rendeu
alguns anos de prisão ao estelionatário.
Sam Loyd - 1841 - 1911
Sam Loyd*, um dos maiores
charadistas americanos, encontrou uma maneira mais honesta de ganhar dinheiro
com cavalos por meio da figura acima, que foi patenteada em 1846 e vendida como
o seguinte quebra-cabeça: recortando a figura nas linhas tracejadas, você
formará três retângulos, cuja disposição correta (sem dobrar) fará com que os
jóqueis fiquem exatamente sobre os cavalos. Recorte e tente você!
Essa charada encerra nossa
coluna com votos de que o espírito lúdico da matemática esteja sempre presente
na vida de todos os leitores.
José Luiz Pastore Mello é professor de matemática
do colégio Pueri Domus
*O norte-americano Samuel Loyd
(1841-1911) é hoje considerado por muitos o maior charadista de todos os
tempos. Como adolescente ele já ganhava muito dinheiro formulando enigmas e
reinventando antigos. Seus quebra-cabeças podem ser encontrados na obra
Cyclopedia of Puzzles, editado por seu filho, também chamado de Sam Loyd.
Alguns desses quebra-cabeças podem ser encontrados, em português, no livro 100
Puzzles Matemáticos, de Sam Loyd (Coleção Arte de Viver – Publicações
Europa-América).
Nenhum comentário:
Postar um comentário