Francisco Paula Freire de Andrade*
estava no comando das forças de Vila Rica, homem de confiança do governo.
Patriota exaltado, esposara a ideia dos inconfidentes e com eles combinara o
seguinte: quando, no dia da famosa derrama (cobrança de taxas), Tiradentes
saísse para a rua concitando o povo a rebelar-se, Paula Freire de Andrade,
comandando seus soldados, o enfrentaria, como para abafar o motim. Perguntaria,
então, a Tiradentes:
– Que está
desejando o povo?
– O povo quer liberdade!
– Justa
aspiração! – seria a resposta do tenente-coronel.
E se
reuniria ao povo para derrubar o governo português.
Sabe-se que tudo isso falhou e os
revoltosos foram presos. A Paula Freire só uma coisa causava horror: a morte na
forca. Não pela morte em si, disposto que estava a enfrentá-la, mas pela
infâmia que tal forma de execução representava. E na prisão, sofria pela
incerteza do seu destino. Tinha uma irmã, residente no Rio de Janeiro, que tudo
fez para libertá-lo da pena de morte, conseguindo-o, finalmente, e tendo
conhecimento desse êxito através de uma carta secreta onde se dizia que só
Tiradentes sofreria a pena de morte, sendo a dos demais de desterro perpétuo.
Aflita para dar ao irmão aquela
notícia, e não podendo confiá-la a quem quer que fosse, a moça pôs um bilhete
dentro de uma maçã, da qual tirara cuidadosamente o miolo, tornando a
encaixar-lhe a tampa. O bilhete dizia, apenas, sem qualquer menção de nomes: “certa a comutação da pena de morte”. Depois, pediu ao seu confessor,
chorando, que levasse ao irmão aquela maçã, pois os padres podiam entrar na
ilha das Cobras. O sacerdote, ignorando ser o portador de uma mensagem, fez-lhe
a vontade. Paula Freire, entretanto, ao receber a maçã, pediu ao padre que a
levasse a outro preso, o padre Toledo. Este, recebendo a maçã e lendo o bilhete
anônimo que nela encontrou, em nada se sentiu surpreendido, sabido que não era
aplicável a sacerdotes a pena máxima.
O trabalho de anos da irmã de Paula
Freire, no sentido de livrá-lo de morte infamante, e a intenção alvoroçada de
tranquilizá-lo, pelo menos, quanto a tão triste fim, estava perdido, em parte. O nobre militar
continuou a sofrer as angústias da incerteza, até o dia 21 de abril, quando, na
sala do Oratório, ouviu ler sua sentença, a do degredo em terras da África.
A notícia, entretanto, não lhe trouxe
a alegria esperada, nem o levou a cantar abjetos louvores à magnanimidade de
dona Maria Pia. Foi para o desterro levando no coração amargurado a imagem de
Tiradentes, o companheiro sacrificado, ele, sim, pela morte infamante a que o
levara seu sonho de liberdade para a pátria.
*Francisco Paula Freire de Andrade (1752-1808), militar, nascido no Rio
de Janeiro, tenente-coronel dos “dragões” de Minas Gerais, quando da
Inconfidência, que favoreceu. Por isso foi preso e desterrado para as Pedras de
Angoche, em Moçambique, para onde foi em 1792. Em 1808 regressava à pátria,
quando faleceu em viagem.
(Do livro “Grandes
Anedotas da História”, de Nair Lacerda)
Nenhum comentário:
Postar um comentário