Giuseppe Ghiaroni e o poema no rádio
Willian Vieira
Já havia algumas gerações que não
mais sabiam quem fora Giuseppe Ghiaroni, o autor dos poemas épicos que invadiam
casas Brasil afora na era de ouro da Rádio Nacional. Nem a bíblia escapou de
seu talento para o rádio.
Nascido em Paraíba do Sul (RJ), em 22 de fevereiro de 1919, já aos 11 trabalhava como ajudante de barbeiro e ferreiro, cobrador de ônibus e contínuo. Cansado da vida, tentou reescrevê-la no Rio - nas páginas do diário A Noite, onde começou como jornalista. Era autodidata.
Era 1941 quando lançou seu primeiro livro de poesias, "O Dia da Existência", sendo logo reconhecido e ganhando assento fixo na Rádio Nacional. Gerava comoção nacional com poemas de Dia das Mães e dos Pais, na voz de Paulo Gracindo.
Escreveu outras coletâneas, como A Graça de Deus (1945) e a Canção do Vagabundo (1948). Mas o sucesso veio mesmo como redator da Nacional, onde escreveu o seriado "Tancredo e Trancado", radionovelas como "Mãe" e a adaptação do Antigo Testamento - o modesto "Romance da Eternidade".
Ainda foi redator da "Escolinha do Professor Raimundo", do amigo Chico Anysio, nos anos 1990. Mas o tempo passou e a fama amainou. Morreu na quinta, dia 21 de fevereiro de 2008, no Rio, a um dia de completar 89 anos.
Na memória dos fãs antigos, os versos do último livro, "A Máquina de Escrever", de 1997. "Mãe, se eu morrer de um repentino mal, vende meus bens a bem dos meus credores: a fantasia de festivas cores que usei no derradeiro Carnaval."
(Do Blog da Folha de S. Paulo)
Ghiaroni em uma de suas últimas fotos
Depois
Depois de ter tentado e conseguido,
depois de ter obtido e abandonado;
depois de ter seguido e ter chegado;
depois de ter chegado e prosseguido!
depois de ter obtido e abandonado;
depois de ter seguido e ter chegado;
depois de ter chegado e prosseguido!
Depois de ter querido e ter
amado;
depois de ter amado e ter perdido;
depois de ter lutado e ter vencido;
depois de ter vencido e fracassado!
depois de ter amado e ter perdido;
depois de ter lutado e ter vencido;
depois de ter vencido e fracassado!
Depois que o sonho comandou:
“Avança!”
Depois que a vida ironizou: “Criança!”
Depois que a idade sentenciou: “Jamais!”...
Depois que a vida ironizou: “Criança!”
Depois que a idade sentenciou: “Jamais!”...
Depois de tudo que escarnece e
exalta,
depois de tudo, quando nada falta,
depois de tudo, falta muito mais!
depois de tudo, quando nada falta,
depois de tudo, falta muito mais!
Previsão
Um dia, serás velho
Nesse dia, tu só terás os anos e o juízo
E andarás procurando o paraíso
Numa igreja qualquer da freguesia.
Terás a boca flácida, a mão fria,
O olhar tão vago, o andar tão
preciso
Que as mocinhas na idade do
sorriso
Te lançarão sorrisos de ironia.
Mas disso tu
não sofrerás,
Porquanto
ainda poderás causar espanto
Contando as
glórias que tivestes aqui.
E contarás, numa vaidade austera,
Que num ano qualquer da nossa
era
Uma ‘mulher’ morreu de amor por
ti.
Pontos de Vista
Na minha infância, quando eu me excedia,
quando eu fazia alguma coisa errada,
se alguém ralhava, minha mãe dizia:
– Ele é criança , não entende nada!
Por dentro, eu ria satisfeito e
mudo.
Eu era um homem, entendia tudo.
Hoje que escrevo histórias e
poemas
e pareço ter tido algum estudo,
dizem quando me veem com meus problemas:
– Ele é um homem, ele entende tudo!
Por dentro, alma confusa e
atarantada,
eu sou uma criança, não entendo nada!
Injustiça
Tu queres que eu te esqueça de repente,
que esqueça de repente os teus carinhos,
eu que te venho amando aos bocadinhos,
desde quanto te era indiferente!
Deixa-me ir esquecendo
lentamente,
voltando aos poucos sobre os teus caminhos,
arrancando um a um os teus espinhos,
até ver uma estranha à minha frente.
Dá-me um beijo de menos cada
dia,
inventando um pretexto que sorria,
de maneira que eu saiba sem saber.
Pois queres que eu te esqueça de
repente,
e nem sei se uma vida é suficiente
para - mesmo aos pouquinhos - esquecer!
Economia
Dá de ti. Dá de ti quanto puderes:
o talento, a energia, o coração.
Dá de ti para os homens e as mulheres
como as árvores dão e as fontes dão.
o talento, a energia, o coração.
Dá de ti para os homens e as mulheres
como as árvores dão e as fontes dão.
Não somente os sapatos que não queres
e a capa que não usas no verão.
Darás tudo o que fores e tiveres:
o talento, a energia, o coração.
Darás sem refletir, sem ser notado,
de modo que ninguém diga obrigado
nem te deva dinheiro ou gratidão.
E com que espanto notarás, um dia,
que viveste fazendo economia
de talento, energia e coração!...
Grande poeta,aquele poema do Dia das Mães o eternizou.
ResponderExcluirCOM TODO MEU RESPEITO AOS POETAS E ESCRITORES DE TODO O MUNDO, ESTE HOMEM ESCREVEU AS POESIAS MAIS VIVAS QUE LI ATÉ AGORA!!! GOSTARIA DE TER TODAS MAS NÃO ACHO... SINTO MUITO , MUITO MESMO, COMO EU QUERIA!!!
ResponderExcluirVocê tem muito bom gosto poético, amigo Marcelo. Parabéns!
ResponderExcluirGrande poeta, inesquecível. Quantas vezes declamei seu poema "Meu pai" e pouco sabia dele. Seria tão bom conhecer sua obra.
ResponderExcluirGostaria de obter o poema Tereza, de Ghiaroni.
ResponderExcluirGostaria de obter o poema Tereza, de Ghiaroni. Meu email: almirmeira@gmail.com
ResponderExcluirAmigo Almir: Este poema “Tereza” está num antigo LP gravado com este título “Paulo Gracindo apresenta Poemas e Sonetos de Giuseppe Ghiaroni”. O texto do poema não o encontrei na internet
ResponderExcluirPoemas do LP:
A máquina de escrever
Homenagem
Doce nome de Estela
A luz de Maria
Injustiça
Previsão
Dia das mães
A palavra querida
Beijos
Veneração
Não me faças sonhar
Respeito
Tereza
Beijo
Aquilo
Olá eu recebi de uma amiga um livro e dentro dele estava dois poemas de Ghiaroni escrito a máquina de escrever o papel já bem amarelado segundo ela foram datilografado pelo próprio autor um dos poemas é A Máquina de Escrever o outro sem título mas com data de 17 de março de 1950 é esse :
ResponderExcluirDeixa-a morrer também quando eu morrer!
Deixe-a calar numa quietude extrema, à espera do meu último poema, que as palavras não dão para fazer !
Conserva-a, minha mãe, no velho lar, conservando os meus últimos instantes.
E nas noites de lua não te espantes quando as teclas baterem devagar.
Gostaria de enviar a que guarda essas preciosidades para verificar a sua autenticidade e guardar com outros pertences do autor aguardo alguém que possa fazer isso
O poema "A máquina de escrever" está completo neste almanaque.
ResponderExcluirEu trabalhei na década de 70, com esse gênio. Aprendi coisas como: a maior qualidade de um artista, é a insegurança. Falava brincando que tinha tanta gente que conheceu o Silvio, quando ele era camelô, que chegou a conclusão que o Silvio era mais famoso antes...
ResponderExcluirDetto
Costa Dir,. Televisão Record
Obrigado pela informação, amigo Detto Costa.
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