segunda-feira, 30 de maio de 2016

O início de uma carreira de sucesso


Texto de Arnaldo Branco


Todos sabem que Jovem Guarda era um programa musical comandado por Roberto Carlos. Muitos também devem saber que Roberto tentou a sorte como cantor de bossa-nova antes de se decidir pelo rock romântico que o consagrou. Mas provavelmente ninguém sabe que o Rei teve uma fase intermediária dedicada a outro ritmo musical, e que a primeira versão do programa que dividia com Erasmo e Wanderléa seguiu essa onda.

No início dos anos sessenta, o gosto dos jovens era uma incógnita. Os Beatles estavam dominando as paradas internacionais, mas as novidades chegavam aqui com muito atraso e passavam por uma fase demorada de estranhamento - convenhamos, aqueles cortes de cabelo não ajudavam. Roberto Carlos tinha acabado de fracassar com seu primeiro disco e precisava encontrar um novo estilo que cativasse a juventude. Sua nova aposta: o bolero.

Parecia fazer sentido: depois de uma fase solar e ingênua com os barquinhos da Bossa Nova e as lambretas do rock ingênuo de Toni e Celly Campello, era natural um ciclo mais introspectivo, dark. Pelo menos nos Estados Unidos houve uma entressafra entre a primeira e segunda geração do rock'n'roll em que predominou a música folclórica, mais engajada e sombria e definitivamente menos hormonal. O Bolero pareceu a resposta latina a essa tendência de mercado.

Carlos Imperial, seu empresário, comprou a ideia e decidiu que deviam ter o respaldo de um programa de TV para lançar a tendência. Como não havia nenhum dessa espécie, resolveu inventá-lo. Batizou a atração de “Fossa Nova” e juntou os parceiros Roberto e Erasmo e mais a cantora adolescente Wanderléa para entoar canções de fracasso e desespero que, tinha certeza, iriam emplacar com a moçada. Para isso, pediu aos jovens compositores que fizessem uma música que fosse uma espécie de cartão de visitas do show.

Roberto e Erasmo puseram mãos à obra e escreveram uma canção de amor e suicídio chamada “O Calhambeque”. Era uma versão rudimentar do grande sucesso que fizeram mais tarde, só que com andamento mais deprimente e, bem, com um suicídio no final. Contava a história de um rapaz que pegava um calhambeque na oficina e ia encontrar sua amada, que, em um gesto tresloucado, se atirava debaixo das rodas do veículo. A música terminava com o narrador achando que o carro estava com um problema de alinhamento, sublinhando a pungência da narrativa.

O primeiro programa foi ao ar em 1963 e durou exatos dois minutos: quando Roberto Carlos terminou de apresentar a orquestra e pendurou o acordeão para tocar o primeiro acorde, a transmissão foi interrompida para anunciar o assassinato do presidente Kennedy. Como a cobertura jornalística continuou pelo resto do dia, remarcaram para a semana seguinte a estréia do musical.

Mas nunca houve outra edição. A emissora entendeu que a realidade mundial, com a guerra fria, mísseis em Cuba e assassinatos de presidentes já estava mórbida demais. Em seu lugar estreou o programa de variedades "Belezuras de biquíni", e a emissora sugeriu que Roberto Carlos e sua trupe voltassem quando tivessem alguma idéia para um programa mais animadinho.

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Roberto Carlos, Carlos Imperial, ao violão, e Cauby cantando...

* Há um compacto simples com Roberto Carlos cantando duas músicas de Bossa Nova: João e Maria (Carlos Imperial e Roberto Carlos) e Fora do Tom (Carlos Imperial). Eu possuo esse compacto.

Nilo da Silva Moraes

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