quarta-feira, 1 de julho de 2020

A máscara que revela

Mário Corso


Sábado, dia 20 de junho, foi um anoitecer quente para esta época do ano em Vacaria. Um cliente entra em um supermercado para compras. Como estava sem máscara, o gerente pede que ele a coloque, ou então que se retire. O cliente rejeita ambas as sugestões. A discussão segue e o cliente puxa uma faca e desfere dois golpes no abdômen do gerente. Este reage com dois tiros no agressor.

O drama estilo Velho Oeste terminou no hospital.

O cliente morreu e o gerente, felizmente, passa bem. Mas a questão é: o que leva alguém a um ato extremo para evitar uma máscara?

As evidências de que a máscara previne a dispersão do vírus são claras. Porém, muitas pessoas, como nosso infeliz cidadão vacariense, teimam em não usar. O que essa atitude diz delas?

Quem também se fez essa pergunta foi o psicólogo Pavel S. Blagov. Ele recrutou 502 americanos adultos e aplicou uma bateria de perguntas. Mesclava questões sobre medidas básicas de proteção, incluindo o uso da máscara, com outras que indicavam traços de personalidade.

Cruzando os dados, obteve que as pessoas com altos traços de narcisismo, psicopatia e maquiavelismo são as que menos aderem às recomendações sanitárias. O leitor perguntará: então, quem não usa é psicopata?

Calma, são indicativos de traços de personalidade. Isso pode resultar em um leque de possibilidades, que vai de uma misantropia leve, um mero ermitão, até uma verdadeira personalidade antissocial e criminosa.

Acho precipitadas as conclusões com amostragem baixa, mas a pesquisa deixa-nos pensando. O falecido de Vacaria tinha antecedentes por ameaça e crime de trânsito. Ou seja, um comportamento no espectro da tendência antissocial. Essas pessoas que só pensam em si, não fazem nada para a coletividade, tampouco sentem empatia com o sofrimento alheio.

Ainda faltam ingredientes nesse caldo. Pouca escolaridade pesa muito, e o oposicionismo à ciência, que é uma escolaridade ao avesso, conta ainda mais. No caso dos homens, a masculinidade frágil é decisiva. Acreditam que para parecer bem homem − note que a dúvida é do próprio sujeito − tem que se evitar a máscara. Não querem passar por medrosos. O uso revelaria fraqueza, considerada algo feminino, na cabeça dessa mentes confusas quanto a sua identidade viril.

Pensem a respeito. É uma oportunidade de conhecer a índole e civilidade dos vizinhos e conhecidos.

Está na cara.

(Do jornal Zero Hora, de julho de 2020)

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