Mário Corso
Sábado,
dia 20 de junho, foi um anoitecer quente para esta época do ano em Vacaria. Um cliente
entra em um supermercado para compras. Como estava sem máscara, o gerente pede
que ele a coloque, ou então que se retire. O cliente rejeita ambas as
sugestões. A discussão segue e o cliente puxa uma faca e desfere dois golpes no
abdômen do gerente. Este reage com dois tiros no agressor.
O
drama estilo Velho Oeste terminou no hospital.
O
cliente morreu e o gerente, felizmente, passa bem. Mas a questão é: o que leva
alguém a um ato extremo para evitar uma máscara?
As
evidências de que a máscara previne a dispersão do vírus são claras. Porém,
muitas pessoas, como nosso infeliz cidadão vacariense, teimam em não usar. O
que essa atitude diz delas?
Quem
também se fez essa pergunta foi o psicólogo Pavel S. Blagov. Ele recrutou 502
americanos adultos e aplicou uma bateria de perguntas. Mesclava questões sobre
medidas básicas de proteção, incluindo o uso da máscara, com outras que indicavam
traços de personalidade.
Cruzando
os dados, obteve que as pessoas com altos traços de narcisismo, psicopatia e
maquiavelismo são as que menos aderem às recomendações sanitárias. O leitor
perguntará: então, quem não usa é psicopata?
Calma,
são indicativos de traços de personalidade. Isso pode resultar em um leque de
possibilidades, que vai de uma misantropia leve, um mero ermitão, até uma
verdadeira personalidade antissocial e criminosa.
Acho
precipitadas as conclusões com amostragem baixa, mas a pesquisa deixa-nos
pensando. O falecido de Vacaria tinha antecedentes por ameaça e crime de
trânsito. Ou seja, um comportamento no espectro da tendência antissocial. Essas
pessoas que só pensam em si, não fazem nada para a coletividade, tampouco sentem
empatia com o sofrimento alheio.
Ainda
faltam ingredientes nesse caldo. Pouca escolaridade pesa muito, e o
oposicionismo à ciência, que é uma escolaridade ao avesso, conta ainda mais. No
caso dos homens, a masculinidade frágil é decisiva. Acreditam que para parecer
bem homem − note que a dúvida é do próprio sujeito − tem que se evitar a
máscara. Não querem passar por medrosos. O uso revelaria fraqueza, considerada
algo feminino, na cabeça dessa mentes confusas quanto a sua identidade viril.
Pensem
a respeito. É uma oportunidade de conhecer a índole e civilidade dos vizinhos e
conhecidos.
Está na cara.
(Do jornal Zero Hora, de julho de 2020)
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