domingo, 5 de julho de 2020

Vinhos: Mitos e Verdades

Por Natália Frighetto*


Vinho bom é vinho caro

Apesar de alguns rótulos carregarem o peso de vinícolas reconhecidas e, por isso, serem mais caros, existem vinhos com ótimas propostas de bom custo-benefício. Nossa dica é apostar em bebidas jovens, frutadas e para consumo rápido.

Quanto mais velho, melhor é o vinho

Existem vinhos que, em função da variedade da uva e do método de produção, são elaborados para guarda. Porém, também há vinhos que apresentam características jovens, frutadas e fáceis de beber, excelentes para serem consumidos no ano em que foram elaborados.

Quando tem aroma de frutas é porque a bebida leva frutas

Uma das principais características de um vinho são os aromas varietais, que vêm a partir das variedades das uvas. Por exemplo, chardonnay tem aroma de abacaxi e de maçã verde enquanto carbenet sauvignon tem de amora, ameixa e cassis. Mas atenção: as frutas que dão os aromas não estão na composição das bebidas, ok?

Quanto menor a acidez, melhor é o vinho

A acidez é importante para a longevidade e a sanidade do produto. Em vinhos espumantes, brancos e rosés, ela está relacionada ao frescor. Em safras ruins, há um excesso de ácido nas uvas por elas não conseguirem atingir a maturação completa. Isso resulta em um desequilíbrio em relação ao açúcar e ao tanino da bebida, deixando-a desagradável. Mas isso não quer dizer que a acidez não seja superimportante para o vinho.

Quanto mais álcool tem o vinho, melhor ele é

O álcool é um produto natural do processo de fermentação dos vinhos, que transforma o açúcar presente na uva em etanol. O que não nos damos conta é de que nas safras em que a uva não atinge a maturação completa, é permitida a adição de açúcar para elevar o teor alcoólico. Muitas vezes, esse exagero pode desequilibrar o vinho, deixando-o mais alcoólico do que a estrutura permite.

Vinho bom é vinho importado

Temos muitos vinhos importados de qualidade, mas também temos muitos produtos nacionais excelentes e reconhecidos pelo mundo. Precisamos quebrar o preconceito com a bebida brasileira, lembre-se de que até o rótulo importado chegar às prateleiras, pode passar por variações de temperatura e luminosidade que podem comprometer a sua qualidade. Acreditamos que vinho bom é o vinho do local, e os brasileiros são incríveis!


O vinho precisa ser guardado em ambiente escuro
e com temperatura controlada

O ideal é evitarmos ao máximo a diferença de temperatura do produto, pois isso prejudica a estabilização dele. Locais com pouca luz evitam a deterioração do vinho e evitam que ele fique com aroma de enxofre. Se você não tem uma adega climatizada, a dica é guardar as garrafas em um ambiente ao abrigo da luz (natural ou artificial), onde não ocorram mudanças de temperatura.

Vinho rosé é resultado da mistura de
 vinho tinto e de vinho branco

O vinho rosé pode ser elaborado tanto com uma mistura de uvas quanto a partir das variedades tintas − neste caso, deixamos o líquido em contato com a casca por pouco tempo, assim não ocorre a extração da cor em grande intensidade.

Rolha de cortiça é melhor do que o sistema screw cap

A rolha de cortiça demora anos para ficar pronta e acaba sendo desperdiçada logo após a abertura da garrafa. Por isso, a screw cap, ou tampa de rosca, foi uma tecnologia que veio para solucionar o fechamento das garrafas e ainda deixar tudo mais fácil. Tecnicamente falando, ela evita problemas de umidade, evitando a entrada de excesso de oxigênio e o vazamento da bebida. É uma ótima alternativa para rótulos de consumo jovem, aquele que não vão ficar muito tempo na garrafa.

Uva branca faz vinho branco, uva vermelha faz vinho tinto

Uva branca faz vinho branco e em contato com a casca pode resultar em um vinho de cor alaranjada. Por outro lado, as variedades tintas podem fazer vinhos brancos, como é o caso do blanc de noir. O clássico champagne é elaborado a partir da pinot noir, que tem casca escura, mas é vinificado sem contato com a uva para não extrair a coloração nem os taninos. No Brasil, temos ótimos espumantes deste tipo.

Vinho doce leva açúcar

Depende do tipo de vinho. Espumante moscatel, por exemplo, é uma bebida que tem adição de açúcar e que também tem o açúcar proveniente da própria fruta. Funciona assim: a fermentação é interrompida, produzindo menor quantidade de álcool e uma concentração maior de açúcar residual. Vinhos suaves, por exemplo, recebem a adição do açúcar para ficarem dentro da categoria de rótulos doces.

Vinho tinto é ideal para o inverno e branco para o verão

Uma frase bem usual, mas nada verídica. Os vinhos tintos possuem uma grande quantidade de antocianas e taninos, polifenóis que estimulam a circulação e o aquecimento do corpo. Mas também existem tintos leves, menos encorpados e que podem ser, inclusive, resfriados para serem consumidos em dias de calor.

Já os brancos, por serem servidos gelados e terem acidez presente, acabam sendo relacionados ao verão. Não está errado, mas existem rótulos brancos estruturados, com passagem por madeira, que comportam uma temperatura de serviço mais elevada.

Frutos do mar só combinam com vinho branco

Geralmente optamos por branco, pois frutos do mar têm sabor delicado e, geralmente, apresentam um toque cítrico no preparo − características que os vinhos jovens também têm. É preciso ter cuidado se a escolha for servir com vinhos tintos. As versões encorpadas podem deixar um sabor metálico bem desagradável na boca. É tudo uma questão de gosto.

Vinho feito de varias uvas não é bom.
Os melhores são os de uma única uva

É mito. Vale ressaltar que os primeiros vinhos que surgiram na história foram feitos com cortes, a combinação de diferentes variedades. Os chamados varietais, os feitos com apenas uma uva, nasceram com a chegada do Novo Mundo, fase que marca uma nova era de produção da bebida, na década de 1970. A combinação de variedades aumenta a complexidade do produto e pode deixar a bebida ainda mais saborosa. Além de ser um desafio legal para os enólogos.


Enóloga e sommelière da Casa Destemperados.

(Do jornal Zero Hora, julho de 2020)


2 comentários:

  1. Tomar um vinho com amigos... ou sozinho... sempre é uma boa pedida.


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    1. Senti que o amigo tem bom gosto e deve apreciar um bom vinho!

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